Pilotos da TAP admitem ganhar mais que os da Iberia, mas não que os da Air France
Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil acusa o Governo de campanha de desinformação. Apresenta novos dados dos rendimentos: um comandante da TAP com 10 anos de experiência ganha 122 mil euros anuais.
O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) acusa o Governo de estar a levar a cabo uma campanha de desinformação com o objetivo de culpar os trabalhadores pelos problemas da TAP. Consideram que os números usados pelo Governo, a que o ECO teve acesso, para falar dos elevados salários não são comparáveis. Mas admitem que ganham mais do que os pares da Iberia.
“Os portugueses têm assistido nos últimos dias à divulgação de informações sobre os salários dos pilotos da TAP que não têm suporte factual e assentam em dados cuja base de comparação não é idêntica. Trata-se de uma verdadeira campanha de desinformação que tem como único objetivo transferir para os pilotos o ónus dos maus resultados da TAP e desviar a atenção dos reais motivos que levaram o grupo TAP SGPS à atual situação”, começa por dizer em comunicado o sindicato liderado por Alfredo Mendonça.
Em causa estão declarações do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, sobre a TAP pagar aos pilotos salários superiores aos colegas da Iberia. Ao ECO, o Governo disponibilizou os dados que sustentam a afirmação e que indicam que um piloto da TAP com um ano de experiência recebe, no mínimo, 84 mil euros brutos por ano, mais do dobro dos 40 mil que a Iberia ou a Air Europa pagam. O ECO tentou, na altura, contactar o sindicato para pedir um contraditório, mas não obteve resposta.
"Quando se comparam os salários entre pilotos de várias companhias aéreas deve existir uma base idêntica. Ou seja, por exemplo, os mesmos dias de atividade mensal e horas de trabalho e a diferenciação entre vencimento base e variáveis associadas ao trabalho prestado e trabalho suplementar.”
O SPAC defende agora que estes números foram deturpados. “Quando se comparam os salários entre pilotos de várias companhias aéreas deve existir uma base idêntica. Ou seja, por exemplo, os mesmos dias de atividade mensal e horas de trabalho e a diferenciação entre vencimento base e variáveis associadas ao trabalho prestado e trabalho suplementar. Os dados que têm sido divulgados não apresentam este tipo de indicadores, não mostrando, por isso, a verdadeira situação existente entre os pilotos das várias companhias”, diz.
O SPAC fez, por isso, as contas tendo uma base semelhante — as remunerações base — e chegou à conclusão que um comandante da TAP com 10 anos de experiência ganha 122 mil euros anuais brutos, um montante que sobe para 142 mil euros quando há 15 anos de experiência e para 175 mil euros com antiguidade de 25 anos. Em comparação com a Iberia, só no último escalão é que os espanhóis recebem mais.
Já no que diz respeito à Air Europa, os salários na TAP são mais elevados aos 10 anos de experiência, mas a partir dos 15 anos passa a ser mais vantajoso trabalhar para a concorrente. Os salários da francesa Air France são, em todos os escalões, superiores aos da TAP, de acordo com os dados recolhidos pelo sindicado.
Trabalho extraordinário dos pilotos poupou quase 200 milhões de euros à TAP
Se há coisa em que Governo e sindicato concordam é que os salários dos pilotos da TAP foram fortemente influenciados pelo trabalho extraordinário. Foi pedido aos profissionais que trabalhassem em dias de folga ou férias para compensar o aumento na procura por voos, o que foi tido em conta pelo Executivo nos seus cálculos: em vez de considerar os rendimentos variáveis de 2019, usou os de 2018. No entanto, o sindicato discorda do método já que, nesse ano, a situação já verificava.
“Importa referir que o custo com pilotos da TAP nos anos de 2018 e 2019 foi significativamente agravado por recurso a trabalho extraordinário a pedido da empresa. Custos por trabalho extraordinário não são a mesma coisa que remunerações base. O aumento do trabalho extraordinário esteve diretamente relacionado com a existência de mais voos para os quais não havia pilotos suficientes. Aliás, é público que a TAP iniciou, em outubro de 2018, uma campanha de recrutamento de 300 pilotos”, explica.
"Custos por trabalho extraordinário não são a mesma coisa que remunerações base. O aumento do trabalho extraordinário esteve diretamente relacionado com a existência de mais voos para os quais não havia pilotos suficientes.”
Os custos com fretamento (contratação externa) de serviços de voo passaram para 10 milhões de euros em 2018 e 2019, de 205 milhões de euros devido ao trabalho extraordinário, defende o sindicato.
O SPAC alerta ainda para a “incongruência” dos dados do Governo, apontando que um Oficial Piloto de A330 com 10 anos, ganha mais que um Comandante de A320 com 10 anos, o que não acontece dada a progressão na carreira. “Estranham” também que o Executivo não tenha feito a comparação dos salários da TAP com outras concorrentes como a Lufthansa ou British Airways. “Talvez porque não convém a comparação com as mesmas, dado os vencimentos dos seus pilotos serem significativamente superiores aos praticados na TAP“.
“Em vez de debater os salários dos Pilotos da TAP, deveria ser explicado aos portugueses o porquê de, entre 2018 e 2019, os custos com as irregularidades operacionais da companhia (custos em que a TAP incorreu devido a indemnizações por atrasos, irregularidades, cancelamentos de voos, despesas de alojamento de passageiro, entre outras) terem sido de 57 e 70 milhões de euros, respetivamente, e do indicador “Outros Gastos” ter sido, no mesmo período, de 170 e 179 milhões de euros”, acrescenta o SPAC.
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