Biden assume leme dos EUA com economia debilitada. Quer estímulos para enfrentar pandemia
É esperada uma recuperação económica para 2021 nos EUA. Ainda assim, existem desafios com os quais Biden terá de lidar, como a dívida elevada e a relação com a China.
Depois de quatro anos de Donald Trump, os Estados Unidos vão ter o democrata Joe Biden a liderar a Administração. Biden assume os comandos numa altura em que a economia está fragilizada devido à pandemia de Covid-19, mas com o olho na retoma que pode ser acelerada com a chegada das vacinas.
Biden irá tomar posse esta quarta-feira, dia 20 de janeiro, após um percurso conturbado no qual o presidente demissionário recusou por várias vezes aceitar a derrota. Com as contagens dos boletins de voto esclarecidas, foi finalmente possível avançar-se para a transição do presidente. O antigo vice de Barack Obama vai contar também com uma Câmara de Representantes com uma maioria democrata, bem como o Senado, apesar de com uma margem mais ligeira, o que facilita a passagem de algumas leis.
Já a economia que Biden vai herdar quando chegar à Casa Branca está fragilizada. Durante os três primeiros anos de Trump na Sala Oval, o crescimento anual do PIB norte-americano foi de 2,5%. No entanto, a pandemia de Covid-19 veio abalar a economia dos EUA. No segundo trimestre do ano, os Estados Unidos sofreram a maior queda em sete décadas, com o PIB a contrair 31,4% (em termos anualizados, como é medido pelas entidades estatísticas do país) no período mais afetado pelo confinamento.
Economia norte-americana sofreu impacto da pandemia
Fonte: U.S. Bureau of Economic Analysis
No terceiro trimestre seguiu-se uma recuperação expressiva: a economia expandiu 7,4% face aos três meses anteriores, o que se traduziu num crescimento anualizado de 33,1%. Ainda não são conhecidos os valores para o último trimestre, mas segundo todas as previsões, 2020 será um ano de contração, tal como para a grande maioria das outras nações mundiais.
A Reserva Federal norte-americana já reviu em alta as projeções para a economia do país, em dezembro, apontado ainda assim para uma recessão de 2,4% no ano passado. Já segundo previsões divulgadas esta segunda-feira, o Banco Mundial estima que a economia dos EUA tenha contraído 3,6% em 2020. A economia chinesa é uma das únicas que a instituição vê a crescer no ano que passou, em cerca de 2,3%.
A “corrida” para o topo da economia global poderá estar a apertar, sendo que um estudo do Centre for Economics and Business Research (CEBR), sediado no Reino Unido, prevê mesmo que a China vai ultrapassar os Estados Unidos e tornar-se a maior economia do mundo em 2028, cinco anos antes do previsto, devido à pandemia.
A relação com a China, bem como a concorrência, será um dos desafios com que Biden terá de enfrentar. Nos últimos dias do mandato, Trump avançou com mais sanções e restrições ao investimento em algumas empresas chinesas, tendo adicionado nove negócios à lista negra do Pentágono de empresas que terão, alegadamente, laços com os militares chineses, entre as quais se inclui a fabricante de telemóveis Xiaomi.
2021 ano de recuperação? Biden quer estímulos de 1,9 biliões de dólares
Segundo as projeções do Banco Mundial, é esperado um crescimento de 3,5% do PIB norte-americano em 2021. As previsões apontam para que “o crescimento económico nos EUA, e globalmente, volte a acelerar em 2021 – um sinal positivo para muitos ativos de risco, o que pode elevar a inflação com o passar do tempo”, alerta Mona Mahajan, US Investment Strategist da Allianz Global Investors (AllianzGI) numa análise à economia norte-americana.
A analista aponta que o governo Biden “vai dar prioridade à colocação de dinheiro nas mãos dos consumidores e de volta à economia – o que provavelmente apoiará de forma mais ampla os setores value e cíclicos”. Para além disso, “o êxito da vacina pode libertar a procura reprimida do consumidor – especialmente em áreas, como viagens e lazer, que podem beneficiar da reabertura da economia”, notam.
Biden já avançou com o anúncio de um pacote de estímulos de 1,9 biliões de dólares, que planeia aplicar em medidas de aceleração da vacinação para a Covid-19 e assistência financeira a famílias e empresas. O apelidado de “Plano de Resgate Americano” será formalmente apresentado esta quinta-feira, e depois sujeito a aprovação no Congresso.
O pacote de estímulos proposto inclui 415 mil milhões de dólares para impulsionar a resposta dos EUA ao vírus e o lançamento das vacinas contra a Covid-19, cerca de um bilião em ajudas diretas às famílias e aproximadamente 440 mil milhões para pequenas empresas e comunidades particularmente atingidas pela pandemia.
Nas ajudas diretas para as famílias contempla cheques de até 1.400 dólares cada, depois de já ter sido aprovado no Congresso um apoio de 600 dólares, ao qual seria adicionado. As medidas serão financiadas com recurso a endividamento do Estado. Assim, um dos desafios com o qual a Administração terá que lidar numa altura de recuperação são uma dívida e défice elevados.
O think tank norte-americano Committee for a Responsible Federal Budget (CRFB) estimou que as medidas de combate à pandemia tenham feito quadruplicar o saldo negativo das contas públicas em 2020, para um recorde de 3,8 biliões de dólares, equivalente a 18,7% do PIB, antes de cair para 2,1 biliões de dólares em 2021. Para financiar este défice, a dívida poderá disparar para 100% do PIB, acima dos 80% antes do início da pandemia.
Ainda assim, responsáveis da equipa de Biden defenderam à AP que as atuais baixas taxas de juro tornam gerível o endividamento adicional, com o pacote previsto de estímulos. Na audição de confirmação no Senado, a escolhida de Biden para a pasta do Tesouro, Janet Yellen, reiterou que, com as taxas de juro em mínimos históricos, “a coisa mais inteligente que podemos fazer é agir em grande”.
Tal como o partido democrata já tem vindo a defender, o plano de Biden prevê também que o salário mínimo seja aumentado para 15 dólares por hora, e expandido o acesso a dispensas laborais remuneradas. Deverá propor também o aumento temporário do subsídio de desemprego e uma moratória, até setembro, nos despejos e execução de hipotecas de habitação.
Após a resposta à pandemia, é esperado que a segunda fase da agenda económica de Biden se foque em gastos a longo prazo em infraestruturas, energia verde e educação, que serão financiados, pelo menos parcialmente, por um aumento nos impostos sobre os mais ricos e empresas.
Antiga líder da Fed e responsáveis da era Obama na equipa de Biden
Biden já tem vindo a revelar os membros nomeados para a sua Administração, alguns dos quais terão ser confirmados no Senado. Já foram feitas audiências a quatro membros esta terça-feira, um dia antes de Biden assumir o cargo: o antigo General do Exército Lloyd Austin para Secretário de Defesa, Janet Yellen para o Tesouro, Alejandro Mayorkas para Segurança Interna e Antony Blinken para o Departamento de Estado.
Janet Yellen, que foi presidente da Fed de 2014 a 2018, bem como do Conselho de Consultores Económicos da Casa Branca durante o governo Clinton, disse, na audiência de confirmação do Senado, que os Estados Unidos não vão tentar obter um dólar mais fraco, segundo reportou o Wall Street Journal.
Yellen promete que a administração de Biden vai permanecer comprometida com as taxas de câmbio determinadas pelo mercado. A economista foi a primeira mulher a presidir a Reserva Federal e, sendo confirmada para o novo cargo, será a primeira mulher a liderar o Departamento do Tesouro.
No final do ano passado, o dólar caiu para o nível mais baixo desde abril de 2018, impulsionado por previsões de mais pacotes de estímulo dos EUA e otimismo sobre a recuperação global (tornando os ativos mais arriscados mais atraentes).
Já para representante do Comércio, responsável por negociar acordos comerciais, a escolha recaiu em Katherine Tai, que já foi membro sénior do Escritório do Conselho Geral do representante comercial dos EUA durante a Administração Obama, responsável pelas questões de fiscalização do comércio na China. Quanto ao cargo de Secretária do Comércio, é Gina Raimondo, governadora de Rhode Island, a nomeada.
Para além disso, Biden escolheu para diretor do Conselho Económico Nacional, Brian Deese, que foi o conselheiro de Barack Obama há 12 anos.
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