BCP quer estender moratórias no turismo. Siza admite dar mais tempo para pagar dívidas

Miguel Maya defende que o "verdadeiro risco" para as empresas turísticas neste momento seria acabar com as moratórias. Ministro da Economia diz estar a "discutir" o assunto.

Miguel Maya defende que os bancos devem manter as moratórias às empresas, sobretudo aquelas que atuam no setor do turismo. Durante um webinar sobre o mercado turístico, o CEO afirmou que seria um “verdadeiro risco” acabar com as moratórias antes de a pandemia estar ultrapassada. O ministro da Economia diz estar a “discutir” esse assunto, admitindo que essa é uma possibilidade.

“O BCP continuará a ser um defensor da prorrogação das moratórias para o setor do turismo enquanto a situação da pandemia não estiver controlada, não só para as empresas como também para os trabalhadores do setor. Há que tratar de forma diferente o que não é igual”, disse o presidente-executivo do BCP esta segunda-feira, durante o webinar “O Estado do Turismo”.

O responsável afirmou que há “um ruído de fundo, que sobe de tom, sobre os riscos das moratórias e das consequências para o setor financeiro”, e que esse ruído “vai-se impregnando e contaminando a qualidade da reflexão”. E “transforma-se num risco real, pois alimenta o preconceito relativamente às moratórias com as consequências que dai decorrem”, notou.

“Exigir o pagamento de créditos num período em que as empresas não têm receitas em resultado de uma falha de mercado é algo que não faz qualquer sentido”, disse o responsável do banco. “O verdadeiro risco seria retirar os apoios ao setor, entre os quais as moratórias, antes de estar superada a falha de mercado, ou seja antes de os clientes poderem gerar receitas”, acrescentou.

Miguel Maya notou ainda que durante o ano de 2020 assistiu-se a um “forte crescimento das poupanças das famílias”, em que os depósitos de particulares “aumentaram de forma significativa”. Contudo, ressalvou, “esse crescimento não se traduziu no aumento de rendibilidade da banca, antes pelo contrário”. Agora, “a par de uma abundante liquidez, os bancos têm todos os incentivos para conceder crédito à economia”.

Presente no mesmo webinar esteve o ministro da Economia, que adiantou estar a “discutir” esse assunto com o Banco de Portugal (BdP) e a Associação Portuguesa de Bancos (APB). “Estamos a discutir o que fazer relativamente à dívida que existe no setor e, eventualmente, uma extensão de maturidades pode justificar-se neste setor”, disse Pedro Siza Vieira.

O ministro explicou mesmo que a ideia é “uma extensão mesmo do prazo remanescente da divida existente”. “É algo que temos de ver se se justifica”, acrescentou Siza Vieira, afirma que o Governo “tem noção” de que vai precisar de “lançar instrumentos de capitalização das empresas”. “Vamos precisar de fazer um esforço suplementar do lado público e privado para aguentarmos mais estes meses”, sublinhou.

Em termos económicos, “o pior já terá passado”

Sobre o setor do turismo em concreto, Miguel Maya defendeu ainda que “os apoios do Estado devem ser criteriosos, mas tão generosos quanto possível” e que o setor do turismo “tem de poder contar com linhas Covid, apoios ao emprego, linhas de suporte à inovação produtiva e à qualificação da oferta e mecanismos de transformação de apoios públicos em capital”.

Quanto ao futuro, o CEO do BCP nota que a poupança acumulada das famílias “será um acelerador da retoma do turismo”, dado que, para além de as pessoas estarem “desejosas de mudar de ambiente e de ganharem liberdade de movimentação”, dispõem atualmente de “recursos reforçados para o poderem fazer”. “As pessoas estão desejosas de sair do seu ambiente doméstico, reclamam respirar em contextos de lazer e de cultura”, sublinhou.

E sobre a preparação do país para essa retoma do turismo, o responsável diz olhar “com apreensão” o facto de “não se estar a acelerar a obra do Novo Aeroporto de Lisboa” e de “não se considerar prioritária a vacinação dos trabalhadores do setor do turismo”.

Miguel Maya referiu que deve haver “uma conjugação de esforços entre as empresas, a banca e o Estado” e antecipa que “a fase de recuperação iniciar-se-á já no segundo semestre deste ano”. “Estou também convicto que tudo vai mudar muito rapidamente”, acrescentou, referindo que, em termos sanitários, este é o “período mais difícil da crise”, mas que, em termos económicos, “o pior já terá passado”.

(Notícia atualizada às 11h57 com declarações do ministro da Economia)

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