Casalinho “culpa” recuperação da economia pelos juros mais altos na dívida portuguesa

Portugal voltou ao mercado de dívida, mas já não conseguiu juros negativos. A presidente do IGCP afasta alarme com agravamento das taxas, admitindo que a tendência será essa, a prazo.

Portugal fez um “brilharete” no arranque do ano ao conseguir emitir dívida a 10 anos com uma taxa negativa. Há muito que no mercado os juros neste prazo estavam abaixo de zero, mas só em janeiro o IGCP tirou partido deste contexto extraordinário. Com fevereiro já para trás, o país tentou repetir a proeza, mas acabou a pagar. É, diz Cristina Casalinho, natural que se assista a uma subida das taxas, atirando a “culpa” para as perspetivas mais otimistas quanto à recuperação da economia.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) aceitou pagar 0,237% para obter 625 milhões de euros através de títulos de dívida com maturidade em outubro de 2030, linha que continua a servir de referência para o prazo a 10 anos. Apesar de a procura ter sido de 2,3 vezes a oferta nesta maturidade, a taxa subiu, afastando-se dos -0,012% registados em janeiro e aproximando-se dos 0,329% pagos em setembro.

“A taxa de juro no prazo de 10 anos, no caso da dívida portuguesa, aumentou cerca de 25 pontos básicos entre janeiro (data do último leilão) e hoje [quarta-feira, 10 de março]”, diz Cristina Casalinho em resposta a questões colocadas pelo ECO. No mercado secundário, a dívida a 10 anos de Portugal está a ser transacionada com uma yield de 0,28%.

Neste mesmo período, entre janeiro e março, “a taxa de juro da dívida alemã também a 10 anos elevou-se em 24 pontos base”, salienta a presidente do IGCP, afastando o agravamento de qualquer razão específica do país. “Este acréscimo das taxas de juro de colocação no leilão de hoje é justificado por um movimento geral de mercado ancorado na melhoria das projeções económicas“, atira.

"Não podemos considerar o contexto de taxas de juro negativas a 10 anos como a representação de normalidade da atividade económica.”

Cristina Casalinho

Presidente do IGCP

Depois da forte quebra da economia por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus, apesar de novos confinamentos no arranque deste ano, começam a vislumbrar-se sinais positivos. Vários organismos têm vindo a rever em alta as previsões para a economia global, mas também da União Europeia e dos países da Zona Euro, parte delas com base no sucesso da vacinação contra a Covid-19.

Este contexto de “fortalecimento da retoma explica o agravamento de receios inflacionistas, a que se junta a subida de preços de matérias-primas e energia”, diz a presidente do IGCP. Os preços estão a subir, embora de forma menos expressiva na Zona Euro do que nos EUA, o que tem feito disparar as yields das Treasuries e agitado os mercados acionistas um pouco por todo o mundo.

“O regresso de normalidade económica impõe a restauração de condições financeiras menos acomodatícias a prazo, por essa razão é compreensível a elevação de taxas de juro de patamares historicamente muito reduzidos”, diz Casalinho. “Não podemos considerar o contexto de taxas de juro negativas a 10 anos como a representação de normalidade da atividade económica“, atira a responsável pela gestão da dívida pública portuguesa.

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