Metalurgia e metalomecânica esperam aumentar exportações em 10% este ano
Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP, advertiu ainda o Governo para o problema de menorização do investimento privado na atribuição dos fundos da União Europeia.
As exportações nacionais do setor das empresas de metalurgia e metalomecânica devem crescer 10%, em média, este ano, para cerca de 19 mil milhões de euros, embora não recuperem totalmente a queda de 2020, revelou esta segunda-feira a associação do setor.
“Temos de ser cautelosos, mas tendo em conta um crescimento de 10%, em média, ainda não vamos conseguir totalmente recuperar a quebra de 2019 para 2020 (de 12,7%), mas vamos aproximarmo-nos dos números de 2019 (19,6 mil milhões de euros)”, afirmou o vice-presidente da AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos e Afins de Portugal, Rafael Campos Pereira, à agência Lusa.
Num inquérito recentemente realizado ao setor, 64% das empresas esperam, este ano, ter um crescimento de 64% no volume de negócios, enquanto 50% preveem crescer nas exportações, disse o responsável associativo, apontando para um crescimento situado num intervalo de 5% a 20%, em ambos os casos.
A comprometer o desempenho das exportações em 2020 esteve a queda verificada nas vendas para os principais mercados da União Europeia, com Espanha a cair 6,1%, França (-9,7%), Alemanha (-19,2%) e Itália (-23,7%).
França, que é o terceiro principal mercado de Portugal, apresenta atualmente uma difícil situação por causa da pandemia de covid-19, exemplificou Rafael Campos Pereira.
E prosseguiu: “Até agora os confinamentos, tirando o primeiro, não têm perturbado as exportações para França, mas não sabemos o que pode acontecer, nomeadamente, com restrições nas fronteiras, pois estamos a falar essencialmente de transporte rodoviário”.
“Em 2020, apesar das enormes dificuldades com que tivemos, crescemos 21,3% para os mercados fora da União Europeia, e a expectativa é a de prosseguirmos essa trajetória crescente em mercados onde tivemos crescimentos homólogos muito surpreendentes (Japão, Marrocos, Austrália, Turquia e Chile)”, apontou.
A estratégia seguida pelas empresas passa pela redução das dependências dos mercados habituais, que são os mais maduros e desenvolvidos, e onde as empresas cresceram muito nos anos anteriores à pandemia, contrabalançando com vendas para os mercados fora da União Europeia, onde tem havido muitas tentativas de prospeção no Médio Oriente, América Latina e em África.
O vice-presidente da AIMMAP referiu também à Lusa que em todos os “momentos de crise” que Portugal atravessou, o setor “soube reagir”, procurando novos mercados internacionais.
“Entre 2010 e 2019 tivemos um crescimento das exportações superior a 100%, mais do que duplicámos” as vendas para o exterior, garantiu, sendo que em 2019 as exportações do setor representaram mais de um terço das efetuadas pela indústria transformadora portuguesa.
Quanto aos Estados Unidos, as empresas estavam a crescer bastante até à administração Trump, altura em que houve uma travagem, sendo que a AIMMAP espera agora retomar o crescimento, pois é um mercado muito importante.
Questionado sobre os efeitos do ‘brexit’, Rafael Campos Pereira, explicou que o Reino Unido foi um mercado onde houve um “crescimento fulgurante” nos anos anteriores ao referendo. Depois deste, as exportações ainda cresceram, pois, as empresas beneficiaram do “trabalho anterior e das encomendas em curso”, mas posteriormente “não só o crescimento foi travado como até houve algumas oscilações negativas”, esclareceu.
Trata-se, no entanto, de um “parceiro estratégico enorme”, por si só, mas também pelas ligações que tem aos países da Commonwealth, mencionou.
Nos últimos 10 anos, este setor apresentou um forte crescimento das exportações, apesar de em 2020 se ter registado uma queda, mas, contudo, mantiveram-se os 250 mil postos de trabalho, segundo a mesma fonte.
Governo “menoriza” investimento privado na “bazuca” para economia
O vice-presidente da AIMMAP, Rafael Campos Pereira, advertiu também esta segunda-feira o Governo para o problema de menorização do investimento privado na atribuição dos fundos da União Europeia que serão canalizados para a economia portuguesa.
De um total de “um pouco mais de 60.000 milhões de euros, apenas vão ser canalizados 22,2% dos fundos para a iniciativa privada, o que é altamente dececionante”, disse o dirigente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal à agência Lusa.
“No caso do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) há desde logo um erro conceptual e uma menorização do investimento na iniciativa privada”, acrescentou.
E prosseguiu, explicando que não se pode falar só no PRR: “São 13.900 milhões de euros a fundo perdido, mais 2.400 milhões, pelo que estamos a falar de qualquer coisa como 16.000 milhões de euros, de PRR”.
“Depois temos ainda 11.000 milhões de euros do PT2020 por gastar e mais 30.000 milhões de euros do Quadro Financeiro Plurianual”, sendo que este total, perfaz “60 e tal mil milhões de euros”, disse.
O Governo quer “aproveitar estas vitaminas, para não lhe chamar o nome horrível da ‘bazuca’, para financiar o Orçamento de Estado nos próximos anos, ao invés de fazer um investimento estratégico na economia, que faria catapultar o orçamento e, mais do que este, a economia dos próximos 50 anos”, declarou ainda o dirigente empresarial à Lusa.
Para o vice-presidente da AIMMAP, trata-se de uma “visão pouco ambiciosa, muito limitada, eleitoralista e assistencialista”, ao invés de fazer um “investimento estratégico” na economia, que “crie riqueza e bem-estar” aos portugueses.
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