Aviação acumula milhões em prejuízos. Cortes de custos não chegam para travar queda nas receitas

A TAP teve os piores resultados de sempre, tal como a Lufthansa ou a Air France. Por todo o mundo, a pandemia criou um buraco nas contas das companhias aéreas.

As companhias aéreas de todo o mundo estão a registar perdas nunca vistas devido à pandemia de Covid-19. Os prejuízos totais deverão atingir os 105 mil milhões de euros e, à medida que a época de resultados avança, as principais empresas de aviação na Europa confirmam o buraco. Em linha com o setor, a portuguesa TAP teve os piores resultados de sempre.

“Esta crise é mais longa e mais profunda do que se esperava. As perdas serão reduzidas [em 2021] face a 2020, mas a dor irá aumentar“, disse o diretor-geral da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, na sigla em inglês), Willie Walsh, em comunicado. Apesar de apontar algum “otimismo” quanto aos mercados domésticos, alertou que “as restrições de viagens impostas pelos governos continuam a reduzir fortemente a procura por viagens internacionais”.

A associação que representa o setor estima que as perdas nos resultados líquidos das companhias aéreas de todo o mundo se tenham situado em 105 mil milhões de euros no ano passado e recuem para 39,6 mil milhões este ano.

Em 2020, o número de passageiros transportados afundou para 1,8 mil milhões (contra 4,5 mil milhões em 2019) e a expectativa é que a recuperação seja apenas para 2,4 mil milhões em 2021. O segmento de carga tem tido um desempenho menos negativo e, neste caso, já é esperada uma recuperação para níveis pré-pandemia em 2021. O cenário desenhado pela IATA está a ser revelado nas apresentações de resultados das várias companhias aéreas.

"Esta crise é mais longa e mais profunda do que se esperava. As perdas serão reduzias [em 2021] face a 2020, mas a dor irá aumentar. Conter e reduzir custos será uma prioridade para as companhias aéreas. Governos e parceiros devem ter a mesma mentalidade.”

Willie Walsh

Diretor-geral da IATA

Na Europa, — onde o organismo estima perdas de 28,6 mil milhões de euros — as gigantes estão a corresponder às expetativas. O grupo IAG (que detém a inglesa British Airways, a irlandesa Aer Lingus ou as espanholas Iberia e Vueling), a alemã Lufthansa ou a franco-holandesa Air France-KLM divulgaram, cada uma, prejuízos próximos de sete mil milhões de euros.

A portuguesa TAP perdeu 1.230 milhões de euros, um número que fica muito abaixo das pares que têm também uma dimensão muito superior. A companhia aérea liderada interinamente por Ramiro Sequeiro é também a única destas que tinha já prejuízos em 2019, um dos fatores que impediu de aderir ao quadro de apoio público provisório da Covid-19. A Lufthansa ou a Air France-KLM foram assim ajudadas.

Em todos os casos são os piores resultados de sempre e estiveram fortemente penalizados pela pandemia. A capacidade (medida em ASKavailable seat kilometer) da Lufthansa caiu 69% em 2020 face a 2019, a da Air France 66%, a da TAP 65% e a da AIG 66%. Já o número de passageiros transportados afundou entre os 75% da alemã e os 67% da francesa.

A fraca procura por viagens levou assim as receitas totais a caíram para menos de metade nos níveis pré-pandemia. O maior tombo foi do grupo que detém as companhias britânicas e espanholas, que assistiu a um recuo de 69% para 7.806 milhões de euros, seguindo-se a TAP que perdeu 67,9% em receitas operacionais para 1.060,2 milhões. Já a Lufthansa e a Air France-KLM viram estes rendimentos cair 63% para 13.589 milhões e 59% para 11.088 milhões, respetivamente.

Companhias europeias com prejuízos próximos de 7 mil milhões

Fonte: relatório das várias empresas

Em reação aos problemas do setor, as várias empresas apressaram-se a tentar diminuir os encargos financeiros, mas “as companhias aéreas não tiveram capacidade de cortar custos tão rápido quanto a queda das receitas“, como nota a associação liderada por Walsh.

Os gastos operacionais totais da TAP ascenderam a 2.024,9 milhões de euros em 2020, o que representa um decréscimo de 37,7% face ao período homólogo, explicado pela “redução significativa” dos custos variáveis indexados ao decréscimo da operação, pelo ajustamento da capacidade, pelas negociações com fornecedores e lessors, bem como pela redução dos custos com pessoal.

Nas restantes companhias, os cortes foram superiores para a Lufthansa (44%) e Air France-KLM (40%) e inferiores na IAG (33%). Ainda sem um fim da pandemia à vista, todas as companhias alertam que a recuperação irá depender da vacinação e a expectativa é que as quebras nas receitas e os cortes de custos não se invertam proximamente.

Conter e reduzir custos será uma prioridade para as companhias aéreas. Governos e parceiros devem ter a mesma mentalidade“, refere Walsh, defendendo uma política de tolerância zero para monopólios que aumentem custos aos clientes para recuperar das perdas e pede o fim dos custos com testes à Covid-19 para as companhias “Temos de estar todos alinhados no entendimento de que o aumento dos custos com viagens significará uma recuperação económica mais lenta. São necessários esforços de redução de custos em todos os lados”.

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