Para o Novo Banco, “é mais fácil enterrar uma empresa e pedir dinheiro aos contribuintes”, diz João Gama Leão

Prebuild deixou rasto de dívida de 300 milhões de euros no Novo Banco. Gama Leão acusa banco de ter "enterrado" o grupo porque tinha "um cofre público" por detrás.

O presidente do Conselho de Administração da Prebuild, João Gama Leão (C), durante a sua audição perante a Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, na Assembleia da República, em Lisboa, 06 de maio de 2021. ANTÓNIO COTRIM/LUSAANTÓNIO COTRIM/LUSA

João Gama Leão, que deixou dívidas de 300 milhões por pagar no Novo Banco, deixou fortes críticas ao banco pelo incumprimento. “O Novo Banco teve uma postura de ‘vamos liquidar'”, acusou o antigo dono da Prebuild no Parlamento. E até compreende que isso tenha acontecido. “É mais fácil enterrar uma empresa e depois ir aos contribuintes pedir o dinheiro do que tratar um empresário em dificuldades“, disse o empresário no Parlamento.

As críticas têm um alvo: o mecanismo de capital contingente criado em 2017, aquando da venda do Novo Banco ao fundo americano Lone Star, e que obriga o Fundo de Resolução a injetar dinheiro no banco por causa de perdas com um conjunto de ativos problemáticos, incluindo o crédito da Prebuild.

Perguntam ao Novo Banco, que tem o cofre público por detrás, se é mais fácil salvar esta empresa ou é mais fácil afundá-la de vez… eu não sei que contrato o Estado fez com o grupo americano, mas uma coisa é óbvia para mim: para o Novo Banco, é muito mais fácil ter problemas do que ter vantagens”, apontou Gama Leão esta quinta-feira na comissão de inquérito ao Novo Banco.

“Ter problemas — e foi essa a lógica económica que criaram — no Novo Banco é muito mais vantajoso porque vai buscar liquidez com alguma facilidade”, disse ainda.

"É mais fácil enterrar uma empresa e depois ir aos contribuintes pedir o dinheiro do que tratar um empresário em dificuldades.”

João Gama Leão

Prebuild

Gama Leão deixou a ideia de que se “fizessem o mesmo” que fizeram ao seu grupo a “alguma das maiores empresas industriais, elas caíam exatamente igual à minha”. “Basta o banco não atender um empresário com alguma dinâmica que a empresa cai. Cai a minha como caem as maiores deste país”, disse.

Se não fosse isso, hoje estaria a gerir “um dos maiores grupos empresariais portugueses”, acrescentou o empresário.

Sobre se admite vir a pagar as dívidas ao Novo Banco, João Gama Leão afirmou aos deputados ter as mãos atadas. “Se alguém do Novo Banco estiver a ver esta audição, para mim era muito mais importante era limpar o meu nome e começar a trabalhar fosse no que fosse para tentar recuperar do que mancharem o meu nome e atarem as minhas mãos”, declarou.

A burla e o mercenário

Contudo, fez uma ressalva para considerar que parte da dívida resultou daquilo que classificou de burla: as cerâmicas Aleluia. “Esses 50 e 60 milhões têm a ver com uma burla. Eles [o BES] passam as cerâmicas em que dou o aval pessoal e o Novo Banco tira-me a empresa mas eu fico com a dívida. São dívidas de décadas de má gestão das empresas”.

Sobre o processo relacionado com a Aleluia, que foi a moeda de troca dada ao Novo Banco pela aprovação do PER da Prebuild, Gama Leão acusou o administrador Vítor Fernandes de ter sido um “mercenário” em relação ao seu grupo. “Pelos vistos compensa esse tipo de atitudes pois vai para o Banco de Fomento”. Também disse que ao banco terá servido de pouco ter ficado com a empresa.

“Se perguntarem ao dr. António Ramalho o que aconteceu às cerâmicas, serviu tudo menos os interesses do Novo Banco”, disse. Segundo explicou, a Aleluias terá sido transferida para um fundo.

(Notícia atualizada às 13h35)

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