OIT vê recuperação assimétrica e pede “políticas firmes” contra desigualdade

A OIT estima que a recuperação da economia mundial arrancará na segunda metade de 2021, mas avisa que ficará marcada pela desigualdade.

A pandemia fez tremer o mundo do trabalho e provocou a deterioração do emprego e dos rendimentos, agravando as desigualdades. Por isso, a Organização Internacional do Trabalho apela a que sejam adotadas “políticas firmes” em resposta à fragilidade e assimetria das condições sociais e económicas, a bem de uma “recuperação centrada no ser humano”.

De acordo com o “World Employment and Social Outlook”, a OIT estima que, em 2020, o mundo tenha “perdido” quase 8,8% das horas trabalhadas — o equivalente a 255 milhões de empregos –, por força de regimes como o português lay-off simplificado e do agravamento do desemprego. “A perda das horas de trabalho traduziu-se num recuo acentuado dos rendimentos do trabalho e num aumento da pobreza“, detalha a organização, indicando que, por causa da pandemia, cinco anos de progressos na luta contra a pobreza foram “desfeitos”.

A somar a este cenário, há a perspetiva de que o futuro crescimento do emprego não será suficiente para “fechar os fossos abertos pela crise” pandémica, isto é, será demasiado fraco para garantir oportunidades de trabalho a todos os que passaram à inatividade ou ao desemprego durante a pandemia e aos jovens que estão agora prontos para entrar no mercado de trabalho, que, por sua vez, “sofreram disrupções significativas à sua edução e formação”.

Tudo somado, a recuperação da economia mundial, cujo arranque se projeta para a segunda metade de 2021, será marcada pelas desigualdades, sublinha a OIT, no relatório divulgado esta quarta-feira. “Globalmente, projeta-se que a recuperação resulta na criação líquida de 100 milhões de empregos em 2021 e 80 milhões de empregos adicionais em 2022. O emprego projetado em 2021 é, contudo, inferior aos níveis pré-crise. Além disso, é provável que menos empregos sejam criados do que teriam sido na ausência da pandemia”, salienta a organização.

Para piorar a situação, diz a OIT, muitos dos empregos que vierem a ser criados deverão ter baixa produtividade e qualidade, o que pressionará e dificultará a luta pela erradicação da pobreza. Por exemplo, a pandemia tem causado um reforço do recurso ao trabalho independente, diz a organização, modalidade que é “caracterizada por baixa produtividade e informalidade”.

Aliás, os trabalhadores informais estão hoje entre os mais afetados pela crise sanitária, a par dos trabalhadores com qualificações menos robustas. A crise foi também assimétrica por ter afetado mais as trabalhadoras, os jovens e os migrantes, revela a OIT.

Tudo somado, a organização frisa: “O défice do trabalho decente e as desigualdades transformaram a pandemia numa crise social e do emprego“. Sem políticas “concertadas”, há agora o risco de se agravar, ainda mais, as desigualdades e reduzir o progresso que vinha sendo traçado no mundo do trabalho. “É necessária ação política internacional para assegurar o acesso mundial às vacinas e a assistência financeira para os países em desenvolvimento“, apela a organização.

A recuperação, entende a OIT, deve ter o ser o humano no centro e, para isso, é preciso que promova a criação de emprego produtivos e a retoma generalizada das economias, apoie o rendimento das famílias e reforce as instituições através da valorização da proteção social e da negociação coletiva.

No início de maio, em entrevista ao ECO, o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, já identificava as desigualdades como a sua maior preocupação. “A minha maior preocupação é a polarização dos mercados de trabalho, mais desigualdade, mais tensão social”, disse.

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