Trabalhadores da cerveja são duas vezes mais produtivos

Um estudo da Nova SBE avalia os impactos macroeconómicos do setor cervejeiro, que inclui uma centena de produtores espalhados por 74 localidades e continua a clamar por igualdade fiscal face ao vinho.

Ao analisar o valor acrescentado do setor cervejeiro, um estudo da Nova SBE conclui que cada colaborador contribui, em termos de produtividade do trabalho, com 112.633,63 euros por ano, um valor “1,5 vezes superior ao contributo médio de um trabalhador do setor das bebidas e ligeiramente acima do dobro (2,03 vezes) do valor médio estimado para um trabalhador na economia portuguesa”.

Esta é uma das conclusões de um estudo encomendado pela APCV – Associação Cervejeiros de Portugal, divulgado esta terça-feira, que mostra que 20% dos empregos diretos no ramo das bebidas são assegurados pelo subsetor da cerveja. No total são 2.615 empregos diretos – o número sobe para 51.739 se considerados os indiretos – e só um em cada quatro é ocupado por mulheres.

No capítulo da formação, o estudo confirma que 66,4% dos colaboradores não possui habilitações além do ensino secundário. Ainda assim, ressalva, emprega “uma maior percentagem, em média, de trabalhadores com os graus de secundário, licenciatura ou mestrado concluídos, face às percentagens verificadas no setor das bebidas e na economia portuguesa, apresentando valores de remuneração superiores às médias de ambos”.

Em termos de dispersão geográfica, emprega profissionais em todos os distritos portugueses, ainda que a maior concentração se verifique nos distritos de Lisboa e do Porto, seguidos da Madeira, Santarém, Setúbal e Leiria. Algo explicado por ser naqueles locais que existe uma maior concentração de produtores – incluindo os maiores a nível nacional, como o Super Bock Group e a Sociedade Central de Cervejas (Sagres).

Dispersão geográfica dos produtores de cerveja.

Afinal, qual a dimensão atual da indústria de produção de cerveja em Portugal? Há uma centena de empresas, das quais 96 são microprodutoras. Um segmento que está em crescimento tanto a nível nacional como europeu, e que na sua grande maioria se dedica ao fabrico de cerveja artesanal. Estão distribuídas por 74 localidades distribuídas de Norte a Sul do país, só não operando nos distritos de Bragança e da Guarda.

No ano que antecedeu a pandemia, o setor teve um impacto total de 2.602 milhões de euros em valor acrescentado para a economia portuguesa, o equivalente a 1,53% do PIB. Este estudo inédito sobre os impactos macroeconómicos sentencia que esta fileira é mais produtiva do que a média nacional. Entre as contas apresentadas está a de que cada euro gasto nos cervejeiros portugueses traz um benefício entre 1,72 e 2,48 euros na produção total da economia.

Integrando uma cadeia de valor que vai da produção de matérias-primas à venda do produto, os quatro setores mais impactados a montante pelo setor cervejeiro são os serviços de transporte terrestre e por condutas (“pipelines”), com 18,9 milhões de euros; os serviços administrativos e de apoio prestados às empresas (15,4 milhões); e os serviços de publicidade e estudos de mercado (14,7 milhões de euros).

Covid trava produção e consumo em alta no pós-troika

Se no número de postos de trabalho diretos, o setor aparentemente não sofreu com a crise pandémica, tendo até aumentado os empregos em 1,76% face ao ano anterior, a produção de cerveja em 2020 registou uma quebra de 7,2%, em valor. Isto depois de 2019 ter sido o ano com maior volume de produção desde o fim do programa de assistência financeira e a saída da troika de Portugal, quando atingiu os 710 milhões de litros.

Também no consumo, a primeira metade da década passada ficou marcada por uma redução e iniciou-se em 2015 um período de crescimento de 15,5% até 2019, em linha com o aumento na produção e com o surgimento de novos produtores. O consumo interno de cerveja chegou aos 550 milhões de litros, o máximo desde 2010. Mas o combate à pandemia, que envolveu o encerramento dos estabelecimentos de restauração e hotelaria (canal Horeca), fez o consumo interno tropeçar 14,4%.

Evolução do consumo de cerveja em Portugal.Nova SBE 14 Setembro, 2021

O canal Horeca, que antes da covid-19 pesava 70% nas vendas de cerveja em Portugal, afundou 27,3% no ano passado. O aumento de 15,4% registado nas vendas através do canal alimentar não chegou para compensar as perdas no on trade. O que vai acontecer no pós-pandemia? O estudo conduzido pela faculdade da Universidade Nova de Lisboa não arrisca uma previsão.

“É difícil de prever se, uma vez recuperada a atividade do canal Horeca, os comportamentos de consumo se espelharão num regresso do rácio entre canais de venda a valores pré-crise pandémica, ou se a pandemia provocou uma alteração de longo prazo nos padrões de consumo do setor cervejeiro”, lê-se no estudo publicado esta terça-feira.

Dos impostos aos patrocínios

A poucas semanas da entrega da proposta de Orçamento do Estado para 2022, a APCV – Associação Cervejeiros de Portugal aproveita este estudo para voltar a denunciar o “enquadramento fiscal desfavorável” em relação aos produtores de vinho, uma vez que estão sujeitos ao pagamento do IEC (imposto especial sobre o consumo) e também a uma taxa de IVA de 23% (vs. 13% no setor vinícola).

“Com base nas estimativas de elasticidade preço da procura da cerveja da literatura, que vão dos -0,2 aos -0,4, conclui-se que a perda de bem-estar para a sociedade devido ao IEC pode chegar até aos 880 mil euros por ano. Por sua vez, o valor adicional de IVA de 10%, quando comparado ao setor do vinho, gera uma perda para a sociedade portuguesa até aos 5,964 milhões de euros. Assim, o estudo conclui que não existe um racional de eficiência fiscal para que a cerveja tenha um tratamento fiscal agravado relativamente ao setor vinícola”, resume a APCV.

"O estudo conclui que não existe um racional de eficiência fiscal para que a cerveja tenha um tratamento fiscal agravado relativamente ao setor vinícola.”

Associação Cervejeiros de Portugal (APCV)

 

A “participação e o envolvimento social” das cervejeiras em áreas como o desporto, a cultura ou a educação, por via de patrocínios ou de bolsas de apoio, por exemplo, é outro dos aspetos que os industriais fazem questão de evidenciar neste documento. Envolvendo quer as grandes quer as microempresas, contabiliza a associação, este tipo de ações representaram um investimento próximo dos 26,6 milhões de euros em 2019 e de 24,5 milhões de euros em 2020.

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