Pandemia não trava riqueza e ativos chegam aos 200 biliões
Valor dos ativos das famílias cresceu 9,7% em 2020, suportados pela política monetária e orçamental. Em Portugal, o crescimento foi mais modesto: 3,9% para 455 mil milhões.
A pandemia provocou uma recessão mundial, mas não na riqueza detida pelas famílias. O Global Wealth Report da Allianz Research, divulgado esta sexta-feira, assinala que a discrepância entre a evolução da economia e do valor dos ativos financeiros raramente foi tão grande. Enquanto a primeira caiu 3,3% em termos reais, os segundos cresceram 9,7%, superando pela primeira vez a barreira dos 200 biliões de euros. Em 2019, o aumento tinha sido de 10,3%.
Segundo o Allianz Global Wealth Report 2021, os depósitos nos bancos de todo o mundo registaram um crescimento recorde de 11,9%, batendo os 8% verificados no ano da crise financeira de 2008. Uma evolução que o estudo atribui aos confinamentos, que reduziram de forma drástica as oportunidades de consumo.
Os ativos investidos no mercado de capitais cresceram 10,9%, e o dinheiro colocado em seguros e fundos de pensões engordou 6,3%. O estudo da seguradora e gestora de ativos alemã salienta ainda que as famílias puseram de lado mais 5,2 biliões de euros no ano passado, um crescimento de 78% face às novas poupanças de 2019.
Portugal acompanhou esta tendência, embora de forma mais modesta. O estudo aponta um crescimento de 3,9% no valor dos ativos financeiros para os 455 mil milhões de euros, o equivalente a 44,6 mil euros por cada português. Do outro lado do balanço, também as dívidas aumentaram, mas menos: 1,3% para 170 mil milhões.
Com 27,9 mil euros em ativos financeiros líquidos per capita, Portugal ocupa o 23º lugar no ranking global, logo abaixo de Espanha, com 34 mil. A lista é liderada pelos Estados Unidos, com 218,47 mil euros, seguido da Suíça com 212 mil e da Dinamarca com 149,2 mil.
Ásia ganha importância, Europa Ocidental perde
A Europa de Leste foi o campeão no crescimento do valor dos ativos financeiros (19,1%) em 2020, “impulsionada pela inflação e por uma forte recuperação da Rússia”. Seguiu-se a Ásia (exceto Japão) com 12,7%, a América do Norte com 11,6%, a América Latina com 9%, a Europa Ocidental com 5,8% e a Oceania com 5%. O estudo não indica dados para África.
A Allianz Research sublinha, no entanto, que olhando para um período alargado, a Ásia é claramente o campeão, com a riqueza das famílias a quintuplicar em média a cada ano, desde o ano 2000. Se nos últimos dez anos a quota do continente asiático nos ativos financeiros globais passou de 11% para 19%, o Japão e a Europa Ocidental estão a perder importância. Esta última viu o seu peso recuar de 26,1% para 21%.
Classes médias encolhem
Apesar do aumento da riqueza global, o número de pessoas na classe média voltou a encolher em 2020, passando de 780 para 720 milhões. A Allianz Research explica, no entanto, que isto acontece sobretudo porque ocorreu “um aumento do número de famílias nos EUA que podem ser consideradas membros da classe alta da riqueza global, graças ao forte aumento de 13,6% no valor líquido dos seus ativos financeiros”. “A tendência de longo prazo permanece intacta: desde 2000, a classe de riqueza média cresceu três vezes mais rápido que a população em geral”, assinala o relatório.
A concentração de riqueza nos mais ricos diminuiu nas últimas duas décadas, segundo a Allianz. Em 2020, os 10% mais ricos tinham 84% da riqueza, enquanto no ano 2000 a percentagem chegava aos 90%. Os 1% mais ricos tinham na sua posse 41% dos ativos financeiros no ano passado, contra 43% há duas décadas.
A Europa Ocidental é a par do Japão uma das regiões onde o número de pessoas na classe baixa aumentou desde o ano 2000, passando de 29% para 31% do total. Portugal, Grécia, Espanha, Holanda, Noruega e Suíça são os países apontados como exemplo desta tendência.
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