Marcelo recebe Lagarde com mercado a ameaçar custo da dívida

Christine Lagarde participa no 175.º aniversário do Banco de Portugal de manhã, ao lado de Costa. À tarde, a presidente do BCE marca presença no Conselho de Estado organizado por Marcelo.

Para um país com uma das mais elevadas dívidas públicas da Zona Euro, muito do futuro de Portugal passa por estes dias pelo Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt, na Alemanha. A política monetária do BCE desempenha um papel relevante na disponibilidade orçamental do Governo de apoiar mais ou menos a economia na retoma pós-pandemia. Isto é, juros mais altos significam mais encargos do Estado com dívida pública e, por conseguinte, menos dinheiro para apoiar outros setores.

Esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa tem um encontro agendado com a líder do banco central, Christine Lagarde, e este tema estará em cima da mesa do Conselho de Estado desta tarde. Antes, da parte da manhã, a francesa participa na sessão solene Comemorativa do 175.º Aniversário do Banco de Portugal, onde estará também o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Finanças, João Leão — além do anfitrião, o governador Mário Centeno.

Como muitos investidores, Marcelo, Costa e Leão quererão perceber que rumo o BCE tomará nos próximos tempos: o banco central parece estar encostado à parede da inflação e poderá ser forçado a subir as taxas de juro mais cedo do que o esperado.

No caso de Portugal, com uma dívida de 271 mil milhões de euros, equivalente a 131,4% do Produto Interno Bruto (PIB), esta questão ganha outros contornos, sobretudo quando, como outras economias, continuam a precisar de fornecer estímulos para acelerar a recuperação dos efeitos da crise pandémica.

Na última conferência, Lagarde não conseguiu convencer os investidores quando afastou um agravamento do preço do dinheiro no próximo ano. Os mercados duvidam sobretudo do atual cenário de subida de preços traçado pelo BCE. A inflação está nos 4%, em máximos de 13 anos. Enquanto a autoridade monetária defende que o pico da inflação é “temporário” e se deve a efeitos que vão aliviar no próximo ano, outros consideram que a escalada dos preços é persistente e, por conta disso, antecipam que o banco central vai ter de começar a subir os juros em julho.

A desconfiança em relação às previsões de Lagarde teve reflexo imediato nos mercados de dívida. Os juros da dívida portuguesa (e da periferia da Zona Euro) dispararam na sexta-feira, registando a maior subida desde o início da pandemia, e só esta terça aliviaram ligeiramente.

Dados do IGCP, a agência que faz a gestão da dívida pública, mostram que Portugal já está a pagar mais pela nova dívida emitida, depois de vários anos em que os juros desceram — ainda assim, o cenário não parece preocupante, pois os custos das emissões de dívida continuam muitos baixos face à última década.

Por outro lado, o BCE mantém um programa de estímulos sem precedentes para responder à crise da pandemia.

O Conselho de Governadores, do qual o governador do Banco de Portugal é membro, já anunciou uma redução das compras de emergência de dívida pública e é expectável que a reunião de dezembro ponha termo ao envelope de 1,8 biliões de euros, fator que também pode desestabilizar os mercados.

Lagarde vem a Portugal num momento de indefinição política que também não ajuda a tranquilizar os investidores. A agência Moody’s disse esta semana que a crise política é negativa para o país, pois pode atrasar o cumprimento das metas para que se liberte o dinheiro da bazuca europeia. Além disso, as sondagens mostram que nenhum partido conseguirá sozinho uma maioria no Parlamento, o que deverá resultar em novo impasse político, dizem os analistas da agência de rating.

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