IPSS do Porto temem ter de despedir e parar apoios
Aumento dos preços da energia e dos combustíveis dificultam trabalho de três IPSS do Porto, que temem ter de parar apoios e despedir trabalhadores.
Os recentes aumentos nos custos na energia e combustíveis ameaçam fazer cessar serviços de apoio a deficientes e idosos nas instituições de solidariedade social do Porto, mas também causar atrasos no pagamento de salários e até despedimentos de funcionários.
A Lusa falou com três das maiores instituições de solidariedade social da cidade para perceber os efeitos dos aumentos do preço da energia no seu quotidiano e, para além das preocupações com a eletricidade, gás, água e combustíveis, ouviu também receios relacionados com a incapacidade de recuperar, nos lares e centros de dia, o número de idosos que acompanhavam em 2019 e que morreram com a chegada da pandemia.
Teresa Guimarães, presidente da Associação Portuguesa de Pais e Amigos Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) do Porto fez os cálculos para 2022 reportando-se aos preços atualmente praticados e o valor a pagar a mais “atinge os 30 mil euros”.
Questionada sobre as consequências do aumento na despesa, Teresa Guimarães respondeu que “poderá ficar comprometido o serviço diário de transporte dos 110 pessoas do Centro de Atividade e Capacitação para a Inclusão (CACI)”.
Em 2019, continuou, a associação “consumiu 23 mil litros de combustível, numa despesa de 32 mil euros”, mas hoje, esse volume de gasóleo “multiplicado por 1,8 euros o litro dá 41,4 mil euros”, disse.
O despedimento de funcionários, frisou, “é algo que está fora de hipóteses”, pois não podem “despedir ninguém, uma vez que têm o estritamente necessário”.
“Teremos de arranjar outras formas de nos sustentarmos”, defendeu.
Na Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC) os números são igualmente grandes, tendo registado em 2021 um aumento da despesa de 24% em combustíveis e de 7% em energia, contabilizou o presidente, Abílio Cunha.
Dando apoio a “cerca de 2.600 pessoas com e sem deficiência num total de mais de 26.000 atendimentos, desde bebés (creche), crianças (jardim de infância), jovens, adultos e terceira idade”, nos seus três polos situados na Villa Urbana de Gondomar, Centro de Reabilitação do Porto e Casa da Maceda, a instituição vive o mesmo problema com o combustível e a falta de idosos para ocupar as vagas deixadas pelos que morreram desde março de 2020, disse.
”Eu não diria que vamos fechar, pois sempre procuramos dar o máximo conforto e qualidade de vida aos nossos clientes, mas não será possível continuar por muito mais tempo. Até porque as comparticipações dos clientes, por fim de vida, têm tendência a diminuir, não são só os acordos com a Segurança Social que precisam de ser revistos”, assinalou o dirigente.
A isto junta-se “o serviço de transporte de quem frequenta o CACI e o custo de cada carrinha que é 30% ou 40% mais cara devido à necessidade de fazer a adaptação para o transporte desses clientes”, continuou.
“Nunca poderemos despedir colaboradores devido ao rácio imposto pela Segurança Social, mas o futuro pode passar pelo encerramento de alguns serviços”, lamentou.
Para Luísa Neves, vice-presidente da Serviços de Assistência Organizações de Maria (SAOM), o aumento de 2.800 euros na fatura do combustível até 31 de outubro, por comparação com o mesmo período em 2019, não é o único problema para as IPSS.
“Temos um perigo maior que está diretamente ligado à pandemia relacionado com o serviço de apoio domiciliário e com o centro de dia. Durante a pandemia havia idosos, solitários, sem vaga em lares que recebiam apoio domiciliário. A Covid-19 trouxe grande mortalidade aos idosos em lares e, com isso, abriram-se vagas que não foram preenchidas”, contou.
Neste cenário, revelou, “as comparticipações da Segurança Social (SS) têm vindo a diminuir, ao longo deste ano, em cerca de cinco mil euros mensais”, situação que a faz admitir que irão “pagar os salários no final do mês”, mas não sabem “como vão pagar os subsídios de Natal”.
“Tudo isto pode levar-nos, daqui a algum tempo, a rever o acordo com a SS, passando a ter menos pessoas e, assim sendo, necessidade de menos colaboradores e uma parte terá de ser mandada embora. É uma bola de neve”, lamentou Luísa Neves.
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