Menos de 2 em cada 10 museus com coleções não-europeias têm as peças estudadas

  • Lusa
  • 13 Dezembro 2021

Só 67 dos mais de 400 museus portugueses responderam ao inquérito lançado em maio e apenas 16% afirmam que têm mais de 90% das coleções não-europeias estudadas.

Só 16% dos museus portugueses com coleções não-europeias dizem ter as peças estudadas, enquanto quase um em cada dez tem as peças por inventariar, indica um inquérito realizado pela comissão nacional do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal).

Estes resultados surgem na sequência de novas respostas recolhidas depois do prolongamento do prazo até 1 de dezembro, revelou esta segunda-feira fonte do ICOM-Portugal à agência Lusa.

O inquérito ‘online’ sobre a presença de património proveniente de territórios não-europeus nos museus portugueses, públicos e privados, foi lançado em finais de maio, pela entidade não-governamental, com o objetivo de promover um maior conhecimento do património destas coleções à sua guarda.

Apesar de ter obtido pouca adesão ao inquérito – inicialmente com 45 respostas num universo de 414 museus referenciados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) – o ICOM-Portugal anunciou resultados preliminares durante o seu encontro de outono, em novembro, indicando que a China é o país mais representado nas coleções não-europeias dos museus portugueses, seguida de Angola, Índia, Moçambique e Brasil.

Após o alargamento do prazo, foram recebidas respostas de mais 22 museus – num total de 67 – embora se tenha mantido “a fraca adesão” dos tutelados pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), pois apenas quatro dos museus nacionais que tutela – Museu Nacional de Arqueologia, Museu Nacional de Etnologia, Palácio Nacional da Ajuda e Museu Nacional de Soares dos Reis – responderam, indicou à Lusa o museólogo Gonçalo de Carvalho Amaro, responsável pelo inquérito e membro dos corpos sociais do ICOM-Portugal.

Os principais museus com coleções não-europeias que responderam foram os da Fundação Calouste Gulbenkian, de Arqueologia, Etnologia, os três museus universitários de História Natural – de Lisboa, Porto e Coimbra – entre outros, mais pequenos, segundo a lista dos 67 museus enviada à Lusa.

Da informação recolhida no inquérito, apesar de grande parte dos museus (91%) afirmar que as suas coleções estão inventariadas, só 76% responderam que esse inventário abrangia mais de 75% das coleções com essas características (peças não-europeias).

“No que concerne ao estudo das peças, este é muito menor: apenas 55% afirma que as suas coleções estão estudadas e se formos ao detalhe e perceber qual a percentagem real desse estudo, apenas 16% afirmam que têm mais de 90% das coleções estudadas“, descreveu o museólogo, que é técnico superior do Museu de São Roque, em Lisboa, e professor convidado de museologia na Pontifícia Universidade Católica do Chile.

Além disso, “apenas 57% das coleções têm documentação associada” e, no que diz respeito às aquisições, as doações são claramente maioritárias (30%), seguidas da compra (16%), de depósito, e fundo antigo (ambos com cerca de 15%), entre outras cinco possibilidades com percentagens baixas”, precisou o investigador integrado no Instituto de História Contemporânea.

Tal como o ICOM-Portugal tinha anunciado em novembro, a China continua a ser o país de fora da Europa com mais objetos nos museus portugueses (18%), seguido da Índia (16%), Moçambique (14%), Angola (13%) e Brasil (12%).

“São resultados que fazem sentido, uma vez que responderam maioritariamente museus de Arte e História. Nota-se, contudo, que nos museus de ciência e etnografia predominam peças de África”, ressalvou.

Depois de alguma desilusão da entidade com a fraca adesão dos museus ao inquérito (11%), desta vez, o resultado global com 67 respostas (16%) parece “mais realista, pois o INE inclui todos os espaços que tenham a denominação de museu, e muitos não têm nem inventário nem técnicos”, além de haver museus que, pelas suas características, centradas em coleções locais, não possuem peças extra-Europa.

Com base nestes dados do inquérito, o ICOM-Portugal propõe-se ajudar os museus a identificar as peças que não estejam catalogadas com precisão, com recurso a especialistas internacionais, porque o organismo “possui uma rede muito vasta de ligações com competências técnicas para isso”, disse em novembro a presidente da entidade, Maria de Jesus Monge.

Pese embora a adesão ter sido mais fraca do que o esperado, a museóloga sublinhou que a iniciativa “também demonstra o caminho que ainda há a fazer no conhecimento destas coleções [dos museus] e de revelar, para fora, o que as constitui”.

“Apesar de tudo, conseguimos dar um primeiro passo importante numa estrada mais longa. [O resultado] mostra o longo caminho a percorrer”, avaliou, em declarações à Lusa, quando os primeiros dados do inquérito foram anunciados.

O ICOM é uma organização não governamental, criada em 1946, dedicada à preservação e divulgação do património natural e cultural mundial, tangível e intangível, através de orientações de boas práticas, difundidas por comissões nacionais com atividade em 146 países de todo o mundo.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Menos de 2 em cada 10 museus com coleções não-europeias têm as peças estudadas

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião