Preço da energia deixa comercializadora do Porto à beira da falência

Após entregar a carteira de clientes e perder o acionista dinamarquês, a empresa que opera com a marca Energia Simples avança com um PER em que só reconhece 20 dos 48 milhões reclamados por credores.

A subida galopante dos preços da energia já começou a fazer cair empresas no mercado português. Uma das primeiras vítimas é a PH Energia, que operava com a marca Energia Simples e, em dezembro, dois meses depois de interromper a atividade de comercialização, requereu um Processo Especial de Revitalização (PER) no Juízo de Comércio do Tribunal de Gaia para tentar evitar a falência.

Fundada há seis anos por Manuel Azevedo, João Brito e Raúl Bessa, a empresa do Porto começou a sentir esta pressão da crise energética a partir de abril e, relata o presidente executivo, a “sofrer bastantes perdas na compra e venda de eletricidade, o que resultou num desequilíbrio financeiro”. Em outubro, para “estancar as perdas”, transferiu a carteira de sete mil clientes empresariais para o mercado regulado – passaram a ser fornecidos pela SU Eletricidade. Para “proteger todos os credores e poder recuperar a empresa”, submeteu um PER.

“Nós comprávamos no mercado spot e também a produtores. Todavia, tínhamos preços fixos contratados com a maior parte dos clientes. E com o aumento brutal de 300% a 400% da eletricidade no mercado grossista, entrámos num desequilíbrio total. Se a empresa não tem capacidade financeira, não consegue suportar [este aumento de preços] e é muito difícil sobreviver”, acrescenta Manuel Azevedo, em declarações ao ECO.

Entrámos num desequilíbrio total. Se a empresa não tem capacidade financeira, não consegue suportar [este aumento de preços] e é muito difícil sobreviver.

Manuel Azevedo

Cofundador e CEO da PH Energia

Como diz o provérbio, um mal nunca vem só. Até outubro, a PH Energia era controlada quase na totalidade pelo grupo dinamarquês Energi Innovation, que tinha entrado três anos antes, mas que “não quis injetar dinheiro para a empresa ultrapassar esta situação”. “Estava previsto desde o início capitalizarem a empresa. (…) Obviamente, esta situação recente aumentou a necessidade”, completa o gestor, que, em conjunto com os outros dois fundadores, ficou com as quotas do antigo parceiro e reassumiu o controlo acionista.

A lista provisória de credores, consultada pelo ECO, aponta para uma dívida total de quase 48 milhões de euros, dos quais 16 milhões em juros. O maior, em termos individuais, é a E-Redes (9,3 milhões), enquanto à REN, a outra entidade que representa o sistema elétrico nacional, deve 4,3 milhões. Os seis bancos somam créditos de 7,6 milhões, com o BCP, o Novo Banco e a Caixa Geral de Depósitos à cabeça; e 1,6 milhões das três sociedades de garantia mútua (Norgarante, Garval e Lisgarante). Porém, a PH Energia vai impugnar alguns destes valores, calculando dever “apenas” cerca de 20 milhões de euros aos 56 credores.

Dois anos de prejuízo e a promessa de evitar haircut

Depois de fechar 2019 com resultados positivos de cerca de dois milhões de euros, em 2020 teve perdas a rondar os cinco milhões e em 2021 estima que os prejuízos andarão à volta de quatro milhões. “Sofremos muito com a pandemia porque tínhamos contratos com produtores a preços relativamente elevados, tendo em conta o preço da eletricidade em 2020 – e isso gerou perdas significativas”, recorda o líder da empresa nortenha, que já dispensou metade dos cerca de 30 funcionários que tinha.

O próximo passo é desenhar o plano de reestruturação, que tem de ser aprovado pelos credores e onde “não está previsto, à partida, nenhum corte da dívida”. Manuel Azevedo avança que “um dos objetivos principais” é conseguir liquidar as dívidas à E-Redes e à REN, pois só satisfazendo esses compromissos – e atraindo novos investidores para a estrutura societária – pode equacionar a reentrada na comercialização de energia, “provavelmente no final deste ano ou em 2023, quando isto se acalmar um bocadinho”.

powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.

Para já, a empresa vai focar-se naquela que era até ao outono uma área de atuação secundária – a produção energética, em que dizem representar 48 particulares e grandes empresas de energia renovável no mercado liberalizado, com um total de 1.175 GWh – e em desenvolver comunidades de energia e o autoconsumo. Em operação mantém-se igualmente a empresa de comercialização que detém a 100% em Espanha, uma vez que tem “um modelo de negócio diferente do ponto de vista do pricing, com muitos contratos indexados ao mercado”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Preço da energia deixa comercializadora do Porto à beira da falência

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião