Preço dos cereais dispara com guerra entre dois grandes produtores

Os preços estão a disparar na Europa, com o receio de que a invasão da Ucrânia pela Rússia comprometa as exportações de dois grandes produtores. Bens como o pão deverão ficar mais caros.

O ataque generalizado da Rússia à Ucrânia acelerou o aumento da cotação dos cereais no mercado europeu. Trigo e milho sobem mais de 10%. Preços mais caros deverão chegar ao bolso dos consumidores.

A cotação do trigo (Milling Wheat) para entrega em março estava a subir 17,3% pelas 12h, para os 334,75 euros por tonelada métrica, segundo dados da Euronext (compilados pela Barchart), acelerando a tendência de valorização que já se vinha a registar. A cotação chegou aos 344 euros, um máximo em, pelo menos, dez anos.

O milho para entrega em março valoriza 11,4% para os 298,25 euros por tonelada métrica, depois de já ter estado na casa dos 304 euros, atingindo o valor mais elevado desde o verão de 2021. Desde o início do ano, o milho já está 21,4% mais caro. O contrato futuro da colza sobe 5,54% para 781,25 euros.

Segundo a Reuters, os dois países representam 29% das exportações globais de trigo, 19% do fornecimento de milho e 80% da produção de óleo de girassol. O site Politico acrescenta que cerca de um quarto dos cereais e óleos vegetais consumidos na União Europeia têm origem na Ucrânia.

O aumento das matérias-primas nos mercados internacionais deverá chegar aos consumidores, com os produtos à base de cereais, como o pão, a ficarem mais caros. “Se existir um conflito militar é provável que a subida se transforme no aumento extraordinário e talvez inédito, que causará muitas dores de cabeça a transformadores, mas principalmente aos consumidores”, antecipava Mário Martins, membro do conselho de administração da corretora ActivTrades CCTVM, em declarações à Lusa na quarta-feira.

“A Rússia e a Ucrânia são dois dos principais produtores de cereais do mundo e esta instabilidade no mercado é uma grande preocupação para a Panidor, pois estas matérias-primas são essenciais à sustentabilidade do nosso negócio”, afirma ao ECO Marta Casimiro, administradora da empresa de Leiria, que fechou o ano passado com vendas de 45 milhões de euros.

A Ucrânia é também um importante produtor de óleo de girassol. A região do Mar Negro é responsável por cerca de 76% da produção mundial, segundo a Reuters.

Antes mesmo da invasão daquele país pela Rússia, os outros óleos vegetais, como o óleo de soja e o óleo de palma, já estavam a valorizar, com a procura por substitutos do óleo de girassol.

Além da capacidade de exportação dos países, há o receio de que importantes rotas marítimas no Mar Negro deixem de ser viáveis por um longo período, agravando ainda mais a pressão sobre os preços. Segundo afirmou um corretor à Reuters, os navios já estão a evitar a região. “A disrupção das cadeias de abastecimento já está a acontecer”.

“A Rússia suspendeu a passagem de navios comerciais no mar de Azov, e bem que não tenha impedido a passagem dos mesmos no mar Negro, muitos armadores não estão dispostos a circular na zona”, assinala Marta Casimiro. A administradora refere, no entanto, que “à data de hoje ainda não sentimos o impacto do ataque da Rússia à Ucrânia, esperamos inclusive que o conflito não se adense por forma a não agravar estes efeitos colaterais já causados nos preços destas matérias-primas por outros fatores.

Este aumento do preço dos cereais acontece numa altura em que o custo dos bens alimentares já ronda o nível mais elevado em dez anos, segundo o índice da FAO, a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas.

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