Combustíveis muito caros castigam motoristas das plataformas eletrónicas

Despesa média semanal com combustíveis dos motoristas da Free Now vai disparar 30%, para 520 euros, levando a empresa a fechar uma parceria com a Repsol. A Uber subiu preços das viagens esta semana.

Depois de dois anos desafiantes, em que a procura por transportes praticamente desvaneceu com os confinamentos, a retoma das aplicações como Uber e Free Now não está a ser a que era esperada. Com o surgimento da guerra na Europa, estas empresas veem-se agora de caras com um novo problema: os preços muito elevados dos combustíveis, que além de pesarem nas carteiras dos portugueses, castigam também os motoristas e parceiros.

A subida histórica desta segunda-feira levou o custo do litro de gasolina e de gasóleo a um nível nunca antes visto. Há muito que estas aplicações estão a transitar gradualmente para uma mobilidade mais elétrica, mas muitos motoristas ainda conduzem automóveis com motores a combustão. Nesse sentido, os preços atuais rapidamente elevam a fatura do combustível às muitas centenas de euros por semana, tornando o negócio menos atrativo ou até dando prejuízos, numa área que já enfrentava escassez de profissionais.

Atenta a este problema, a Free Now anunciou esta quinta-feira uma parceria com a Repsol na expectativa de aliviar as despesas dos motoristas. “A guerra em território europeu veio acentuar ainda mais a tendência de subida nos custos da operação diária dos motoristas, que passarão de uma despesa média semanal de 400 euros em combustível para aproximadamente 520 euros (cerca de 30% de aumento em média) a partir desta semana”, anunciou a empresa num comunicado.

A parceria entre as duas empresas vai permitir aos motoristas uma poupança adicional de 16 cêntimos por litro de combustível. “Mais a longo prazo, e também numa lógica de reduzir a nossa dependência das energias não renováveis, temos procurado incentivar tanto os nossos motoristas como os nossos utilizadores a optarem por soluções de mobilidade mais limpas”, diz o diretor-geral da Free Now em Portugal, Bruno Borges, citado em comunicado.

Também a Uber já avançou com uma medida relevante neste contexto. Esta quarta-feira, a plataforma liderada por Manuel Pina anunciou uma subida dos preços das viagens na Área Metropolitana de Lisboa, mas atribuiu a decisão a melhorar a proposta de valor para os motoristas, de forma a atrair e reter profissionais.

A subida mais notória é nas tarifas mínimas, ou seja, o preço que os passageiros pagam a partir do momento em que se sentam no banco do automóvel. Na modalidade mais comum, UberX, esta tarifa mínima passa de 2,5 euros para 3,25 euros, um aumento de sensivelmente 30%. A tarifa base passa de 90 para 95 cêntimos; o preço por quilómetro aumenta de 59 para 62 cêntimos; e o preço por minuto mantém-se nos nove cêntimos.

Num contexto de inflação elevada, a subida dos preços da Uber incide até sobre a modalidade Uber Green, que usa veículos elétricos. Também aqui, a tarifa mínima aumenta 30%, para os mesmos 3,25 euros. As restantes componentes do preço da viagem aumentam em valor equiparável ao serviço base.

“A partir do dia 11 de março de 2022 [esta sexta-feira], as tarifas serão aumentadas nos nossos serviços na Área Metropolitana de Lisboa. À medida que as cidades portuguesas voltam ao movimento habitual, há cada vez mais utilizadores a viajar. Com este aumento de procura, torna-se essencial garantir a mesma experiência de sempre”, anunciou a Uber num comunicado.

“A Uber decidiu por isso aumentar os preços dos serviços na Área Metropolitana de Lisboa para que mais motoristas encontrem uma oportunidade económica nesta atividade, mesmo em viagens mais curtas. Esta alteração poderá ser revista no futuro, caso haja novas variações na procura”, justifica, por fim.

Já a Bolt seguiu a estratégia de aumentar o incentivo à transição elétrica das frotas. Na segunda-feira, dia em que os preços dos combustíveis fósseis dispararam, a empresa anunciou que cortou a comissão das viagens da categoria elétrica de 20% para 5% durante um ano, melhorando a proposta de valor.

A alteração, explicou a empresa num comunicado, visa oferecer “aos motoristas parceiros a possibilidade de aumentarem o seu retorno a trabalhar com a plataforma”. “A nova campanha pretende incentivar à transição para veículos elétricos por parte dos seus condutores”, acrescentou.

Citado na nota à imprensa, Nuno Inácio, responsável do departamento das viagens na empresa, associa a decisão à subida dos preços dos combustíveis: “Dada a conjuntura atual, com o preço dos combustíveis a atingir máximos históricos, a Bolt decidiu apoiá-los com esta iniciativa, procurando ajudar na mudança para veículos elétricos e permitindo-lhes maior retorno, ao colaborar com a nossa plataforma na categoria Gama Elétrica.” A empresa acredita que este é o “passo em frente na direção certa”.

Se o negócio já estava difícil, a guerra na Europa tornou-o ainda mais. Para segunda-feira, perspetiva-se nova subida dos preços do litro de gasolina e diesel, possivelmente ainda maior do que a desta semana. As aplicações irão caminhar no fio da navalha, equilibrando a atratividade do negócio para motoristas, sem que os preços mais elevados destruam ou prejudiquem a retoma da procura.

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