China vai “procurar equilibrar posições entre a Europa e a Rússia”, antecipa Catroga

O ex-representante da empresa estatal chinesa, que é o maior acionista da EDP, não acredita que a China vá ter um papel mais ativo na mediação da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

A posição da China sobre a invasão russa na Ucrânia continua ambígua. Antes de avançar com as tropas para território ucraniano, Vladimir Putin foi recebido por Xi Jinping na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. No voto de uma resolução contra a Rússia nas Nações Unidas, a China absteve-se, sem alinhar com o Ocidente e a maioria dos países. Não lhe chama invasão, mas pede diálogo para evitar uma escalada do conflito. Com o problema de Taiwan e a dependência do comércio internacional, os chineses têm tentado ficar neutrais.

Para Eduardo Catroga, que durante dois mandatos foi o representante da China Three Gorges (CTG, elétrica estatal chinesa que é o maior acionista da EDP) no Conselho Geral e de Supervisão da EDP, a China nem vai “seguir uma política clara de hostilização a Putin” nem vai “ter um papel mais ativo” para parar a guerra na Europa.

Vão procurar equilibrar posições entre a Europa e a Rússia“, antecipa o ex-ministro das Finanças numa entrevista publicada esta quarta-feira no ECO. “Moderação” e “equilíbrio” são as palavras de ordem em Pequim.

Os chineses raciocinam em função dos seus interesses estratégicos de longo prazo que passam por uma cooperação económica internacional, com parcerias estratégicas tanto com a Rússia como com a União Europeia“, explica Catroga, notando que a “Rússia é um grande mercado de aprovisionamento e de investimento para a China”.

Xi Jinping até podia forçar Putin a aceitar “uma solução de compromisso internacional que respeitasse a autonomia da Ucrânia”, mas tal não é provável, acrescenta.

Para o futuro, o ex-gestor de várias empresas defende que “é importante que a China mantenha pontes de diálogo com a Europa e a Europa com a China, de forma a contribuir a prazo para a cooperação económica internacional”.

China “vinga-se” da Rússia com supremacia económica

Há uma coisa que Eduardo Catroga tem a certeza: “Uma das consequências da atual crise será que a Rússia vai ficar mais dependente da China“. Se a economia chinesa já era muito maior do que a economia russa — “cerca de 10 vezes maior” –, ainda mais será após o impacto das sanções do Ocidente na Rússia, cujo resultado já é visível na moeda russa, o rublo.

Por exemplo, não foi inocente a decisão da China de aliviar os controlos cambiais, acelerando a queda do rublo face ao renminbi (moeda chinesa).

Em sentido figurado, será uma vingança do Mao face a Estaline das rivalidades nos anos 50 sobre quem era mais influente na ideologia marxista“, recorda Catroga, concluindo que “será a vingança chinesa face às rivalidades históricas com a Rússia”.

Ironicamente, tal acontece numa altura em que estas economias viraram a página do comunismo, sendo “hoje influentes numa economia global capitalista, seguindo modelos de capitalismo de Estado“, assinala o economista.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

China vai “procurar equilibrar posições entre a Europa e a Rússia”, antecipa Catroga

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião