Mercado mundial da arte cresceu 29% em 2021 para 59 mil milhões de euros
As mudanças mais significativas no setor foram o grande incremento da atividade online e o crescimento nas vendas de NFT.
O mercado mundial da arte cresceu 29% em 2021, superando o valor anterior à pandemia, com as vendas, entre revendedores e leiloeiras, a atingir cerca de 59 mil milhões de euros, indica um relatório divulgado esta quarta-feira pela Art Basel.
De acordo com o relatório Global Art Market 2022, da autoria da economista cultural e fundadora da Arts Economics, Clare McAndrew, divulgado pela Art Basel, o setor registou vendas de 65,1 mil milhões de dólares (cerca de 59 mil milhões de euros) no ano passado.
As mudanças mais significativas no setor foram o grande incremento da atividade online e o crescimento nas vendas dos ativos únicos não fungíveis digitais (NFT, na sigla inglesa). Após a desaceleração iniciada em 2009, e acentuada com o impacto da pandemia covid-19, em 2020, “o mercado de arte demonstrou uma resiliência incrível em 2021, com um forte aumento nas vendas agregadas, apesar de ainda operar sob algumas condições muito desafiadoras”, conclui a especialista.
McAndrew sublinha, no documento, que os revendedores e as casas de leilões conseguiram adaptar-se ao novo sistema de vendas – presencial e online – e que a “crescente riqueza dos colecionadores de ‘alto património líquido’ [HNW na sigla em inglês] ajudou a sustentar a procura no segmento mais alto do mercado”.
A migração da atividade do mercado de arte para o online, incluindo galerias de arte, feiras e leilões, foi uma das maiores mudanças nesta área, forçada a adaptar-se, em 2020, com a pandemia. Esta presença digital da atividade tornou-se o “novo normal em 2020, mas o volume cresceu mais significativamente em 2021, com 7%, atingindo os 13,3 mil milhões de dólares (cerca de 11,8 mil milhões de euros).
A maior surpresa no mercado coube, no entanto, à entrada dos objetos de arte puramente digitais, os chamados NFT, quando, em março de 2021, uma “colagem digital” do artista Beeple, intitulada “Todos os dias: os primeiros 5.000 dias”, foi vendida em leilão através da Internet por 69,4 milhões de dólares (58,4 milhões de euros), um valor recorde para obras não físicas.
Outras vendas de arte NFT e colecionáveis em blockchains (uma cadeia de blocos que ficam registados como únicos, irreplicáveis e cujo historial de transações pode ser seguido desde a origem da obra) elevaram os valores globais a 11,1 mil milhões de dólares (cerca de 10 mil milhões de euros).
O relatório dá como exemplo a galeria Lehmann Maupin – com atividade em Nova York, Londres, Hong Kong e Seul -, que fez uma parceria com a empresa de câmbio de criptomoedas Gemini, para aceitar este modo de pagamento, e este ano lançou o CollectAR, uma nova plataforma para apresentar NFT em realidade aumentada. A plataforma estreou-se na terça-feira, com três obras da artista Ashley Bickerton, criadas como peças complementares para a sua recente exposição “Seascapes at the End of History”, na galeria de Nova Iorque.
De acordo com o relatório da Feira Art Basel, “até os colecionadores HNW foram rápidos em começar a adquirir nesta nova área”: da pesquisa realizada, cerca de 74% compraram NFT baseados em arte, em 2021, e 88% estão interessados em comprar obras de arte neste formato, no futuro. No entanto, entre os negociantes de arte, quase metade não vendeu obras NFT, e até disse não ter interesse em fazê-lo, indica o relatório.
“Quando as coisas são novas, são intimidantes”, declarou um colecionador de NFT que pediu para manter o anonimato, acrescentando: “O que Banksy está a fazer já foi considerado vandalismo, e agora vale milhões”. Referiu ainda as doações feitas aos que lutam contra a invasão da Ucrânia pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin: “O mundo está a mudar para a criptomoeda. Até a guerra na Ucrânia está a ser apoiada desta forma”.
Dos revendedores de arte pesquisados pelo Relatório Global Art Market – promovido pela Feira Art Basel e a UBS, empresa de serviços financeiros com sede em Zurique, na Suíça – as perspetivas para 2022 revelam 62% a acreditar que o mercado melhorará este ano, incluindo 16% que esperam uma melhora significativa.
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