Festivais de verão retornam com mais despesa e casa cheia

Apesar das adversidades causadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, os festivais de verão preparam-se para ter casa cheia. Aumentos dos preços de produção de 30% obrigam festivais a adaptar-se.

Em dois anos de pandemia, os festivais de verão foram sendo sucessivamente cancelados. Mas agora estão de regresso. Depois do setor da cultura ser um dos mais afetados pela pandemia, e embora a guerra na Ucrânia traga consigo o seu próprio conjunto de desafios, festivais de verão de norte a sul do país preparam-se para regressar à vida dos portugueses.

O NOS Primavera Sound é um dos grandes nomes a arrancar com a temporada de verão do Porto, tendo já início de 9 a 11 de junho, mas logo a seguir vem o Rock in Rio Lisboa, de 18 a 26. A lista de festivais é extensa – e promete não dar pausa aos festivaleiros.

Na Ericeira, o Sumol Summer Fest arranca de 1 a 2 de julho. Oeiras recebe o NOS Alive de 6 a 9 do mesmo mês. Rumo ao Meco, o Super Bock Super Rock está agendado para de 14 a 16 de julho. Outro evento incontornável do calendário festivaleiro está marcado para a Praia Fluvial do Taboão: o Vodafone Paredes de Coura, de 16 a 20 de agosto.

Os desafios para as organizações dos festivais são imensos. José Barreiro, diretor do NOS Primavera Sound, não nega as consequências dos efeitos da pandemia, mas também da nova conjuntura a marcar a atualidade. O diretor considera que a cultura foi o segundo setor mais afetado pela pandemia de Covid-19, e aponta para algumas dificuldades em particular do setor. Desde “empresas de som, luz, segurança, ou palcos”, toda esta rede de produção de um festival foi “abalada”, registando atualmente preços mais caros, elevando, por conseguinte, os gastos totais.

Esta é uma opinião também partilhada por João Carvalho, diretor do Vodafone Paredes de Coura. O diretor considera que voltar a realizar o festival após dois anos é uma missão simultaneamente “difícil” e “desafiadora”, pelo que a organização se viu obrigada a moldar e a adaptar as suas estratégias. A marcar uma cadeia produtiva “fragilizada”, Carvalho aponta para os combustíveis, recursos humanos, ferro e madeira como algumas das áreas onde os preços mais subiram. A subida já corresponde a “cerca de 30%, o que, num orçamento de infraestruturas é significativo”, garante o diretor.

Também Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, partilha a experiência dos dois últimos anos, e descreve como durante este período assistiu ao aumento dos custos e à falta de matéria-prima, uma realidade ainda presente no pós-pandemia. Mas também aponta para a saída de muitos profissionais que se viram “obrigados” a migrar para outras áreas sem perspetivas de regresso. A gestão de pessoas foi particularmente desafiante graças à “quebra de rotinas, falta de ritmo e incorporação do teletrabalho”, pelo que Medina sublinha a necessidade de estar atento e empático para com as necessidades das equipas, e assim melhorar o seu rendimento.

A fragilidade no setor da promoção e produção de eventos gerou fornecedores “mais vulneráveis”, esclarece Medina, o que levou a organização do Rock in Rio a adaptar-se e a planear ao detalhe todos os passos do festival. O método mais utilizado pela organização para com os fornecedores consiste na divisão de tarefas, nomeadamente, “repartindo o volume de trabalho por mais empresas”. Esta abordagem, garante Medina, permite evitar sobrecarregar as empresas, e garante-lhes uma maior capacidade de entrega, o que considera ser atualmente uma exigência do mercado.

Uma casa cheia, passes esgotados

As atuais dificuldades do setor obrigaram a adotar novas estratégias, gerir orçamentos e repensar as compras e vendas. Ainda assim, as expectativas são “ótimas”, garante o diretor do NOS Primavera Sound. A impulsionar esta visão encontra-se o facto dos passes gerais já se encontrarem esgotados, assim como os bilhetes diários para quinta-feira. José Barreiro admite mesmo que também os bilhetes para sábado já estão quase a esgotar, e que o ritmo de vendas tem sido “bastante superior face às edições anteriores”, sendo esperadas cerca de 30 mil pessoas por dia.

Já João Carvalho, diretor do Vodafone Paredes de Coura, espera um regresso “histórico cheio de ternura” com uma edição esgotada. O responsável prevê uma edição com cerca de 25 mil pessoas por cada dia do festival, e em linha com a tendência verificada no NOS Primavera Sound, também o Paredes de Coura regista um número de vendas de bilhetes superior em relação às edições anteriores.

Para a vice-presidente do Rock in Rio, as expectativas para 2022 são “as melhores” e considera que as pessoas estão “ansiosas pelo regresso do entretenimento ao vivo”. Sem avançar detalhes, Medina partilha que o orçamento desta edição é o mesmo das anteriores, e embora haja um aumento de custos, a vice-presidente garante que o nível de entrega e de qualidade do festival não está em causa.

Considerando que ainda é cedo para “falar em números” quando há bilhetes à venda, Roberta Medina mostra-se, contudo, confiante em pelo menos dois dias de casa cheia, nomeadamente o primeiro e o último. A vice-presidente relembra que existem 60 mil pessoas com bilhete na mão desde 2019, e aponta ainda para uma diferença no perfil de compra do consumidor português.

Em 2004, na primeira edição do festival, Medina descreve que o consumidor português se caracterizava por uma compra “mais em cima da hora”. Por sua vez, a indústria conseguiu antecipar a decisão de compra ao longo dos anos, mas a pandemia alterou esta tendência. “As vendas foram feitas de forma mais comedida”, nota a vice-presidente, que destaca ainda um aumento significativo desde a queda da obrigatoriedade da máscara.

Relação com as marcas

No seio dos festivais de verão está também o posicionamento das marcas, sendo que não houve um impacto significativo da pandemia neste aspeto, no caso do Rock in Rio. “De todas as marcas parceiras que estavam connosco, antes dos adiamentos, apenas saiu um apoio, porque o produto que iria trabalhar no festival deixou de fazer sentido na sua estratégia”, explica Roberta Medina.

De resto, diz a vice-presidente, “não só reforçamos o portfólio de marcas e ampliámos relações com outras empresas”, como se aproximaram das restantes. Para Medina, a salvaguarda da relação com as marcas parceiras revela a força do festival neste mercado, e a responsável justifica isto com o facto de o festival ser uma “plataforma de comunicação” entre marcas e público. “O facto de ser um evento transversal, em termos de idades e de perfis, permite que as maiores marcas se aproximem dos seus públicos”.

Além disto, Medina sublinha ainda a sustentabilidade, um fator que destaca ser da maior importância atualmente. “O facto do Rock in Rio atuar nesta frente há mais de 20 anos reforça a confiança das marcas no projeto”, diz a vice-presidente. Precisamente por este motivo, Medina considera que as marcas olham para o festival como um espaço onde podem expor os seus esforços nesta área, reforçando desta forma o relacionamento com um público, também ele “cada vez mais desperto” para este tema.

Estes são alguns dos nomes que os fãs podem esperar nas edições deste ano:

  • NOS Primavera Sound: Tame Impala, Georgia, Rita Vian, 100 Gecs, Gorillaz, e Pabllo Vittar
  • Rock in Rio Lisboa: Muse, Linda Martini, Black Eyed Peas, Karetus, Duran Duran, José Cid, Post Malone e Mundo Segundo & Sam The Kid
  • Sumol Summer Fest: Burna Boy, Piruka, Trippie Redd, Phoenix RDC, Mike El Nite, Lon3r Johny
  • NOS Alive: The Strokes, Clairo, Alt-J, Jorja Smith, Metallica, Stormzy, Imagine Dragons e Da Weasel
  • Super Bock Super Rock: A$AP Rocky, Flume, DaBaby, Hot Chip, Foals e Jamie XX
  • Vodafone Paredes de Coura: Moullinex, You can’t win Charlie Brown, Viagra Boys, Turnstile, The Blaze, Badbadnotgood, Pixies

 

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