Montepio estima perdas até 100 milhões com venda do Finibanco Angola

Banco Montepio já arranjou comprador para a instituição angolana: é o banco nigeriano Access Bank. Estima que o negócio possa representar perdas até 100 milhões de euros.

O Banco Montepio tem um novo comprador para o seu banco em Angola, depois de falhado o negócio com Mário Palhares. O banco da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) tem um acordo para vender o Finibanco Angola a um banco nigeriano, o Access Bank, mas a operação ainda não está fechada, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO.

O banco liderado por Pedro Leitão continua a fazer as contas à operação. Que não são propriamente as melhores. Estima-se que a venda possa representar perdas entre os 80 milhões e os 100 milhões de euros, disseram duas fontes ao ECO.

O impacto da transação (caso avance) não deixa relevante para uma instituição financeira que tem apresentado resultados magros nos últimos anos (6,6 milhões em 2021 e 11 milhões no primeiro trimestre deste ano) e onde a capacidade financeira tem de ser gerida com pinças, incluindo no acionista.

Oficialmente, o banco não faz comentários sobre este processo. O ECO sabe que ainda não há uma decisão final em relação à venda, que pode não se concretizar.

Os compradores já foram apresentados ao Banco Nacional de Angola (BNA), o supervisor bancário angolano, que tem de autorizar a venda. O Access Bank, com cerca de 30 anos de existência, tem sede em Lagos, capital da Nigéria, e está presente em mais dez mercados, incluindo o Reino Unido, África do Sul e Moçambique.

Em Lisboa, também o Banco de Portugal está a acompanhar de perto este dossiê, que quer ver resolvido para a próxima administração (continuará a ser liderada por Pedro Leitão no novo mandato) se dedicar ao negócio core de um banco que, depois da reestruturação dos últimos dois anos com a saída de centenas de trabalhadores e fecho de agências, continua a fazer o seu caminho das pedras rumo à rentabilidade.

O Finibanco Angola entrou no grupo Montepio em 2010, aquando da aquisição do Finibanco por 350 milhões de euros, 100 milhões acima do valor de mercado.

Em 2015, o então presidente do Montepio, Tomás Correia, anunciou um acordo para vender cerca de 30,57% da instituição angolana a “parceiros locais” por 26,3 milhões de dólares (cerca de 22 milhões de euros). Ficou então decidido que os compradores pagariam depois, embora ficassem imediatamente com “os direitos associados à detenção das ações ficaram na posse do grupo, incluindo o direito de voto e o direito ao dividendo”.

A transação acabou por não ser bem-sucedida, pelo menos a avaliar pelo dinheiro que entrou nos cofres da AMMG. A mutualista acabou por receber apenas cerca de 1,2 milhões dos 26 milhões até 2020, por cerca de 1,35% das ações do Finibanco Angola. Como ficou a estrutura acionista do Finibanco Angola?

O desfecho deste negócio acabou por criar confusão na estrutura acionista do Finibanco Angola e este será um dos temas que terá de ser clarificado antes da venda ao Access Bank.

Nas suas contas de 2021, a instituição angolana revela que o Montepio, através da sociedade Montepio Holding, detém apenas 51% das ações, enquanto Mário Palhares, dono do BNI e ex-vice-presidente do BNA, detém 35%, estando o restante capital distribuído por um conjunto de cinco acionistas, incluindo Francisco Simão Júnior, João Avelino dos Santos e a Iberpartners.

Já o Montepio diz ser dono de mais de 80%, depois de ter passado a consolidar novamente o Finibanco Angola no ano passado, quando deixou de ser considerado um ativo em descontinuação para efeitos contabilísticos.

Pelo meio, chegou a haver outro potencial interessado no Finibanco Angola, o fundo Arise, que junta vários bancos africanos. No âmbito desta operação, o Banco Montepio ficaria com cerca de 6% a 7% da Arise, uma companhia de investimento em África que é apoiada pelo banco cooperativo neerlandês Rabobank, pelo banco de fomento neerlandês FMO e pelo fundo soberano norueguês Norfund.

Este investidor não é desconhecido do Montepio. Em 2018, a Associação Mutualista vendeu a posição de 45,68% que detinha no moçambicano Banco Terra.

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