Cortes na iluminação e reduções nos termostatos. UE já poupa no consumo de gás

Da Alemanha aos Países Baixos, estão já em curso medidas que visam reduzir o consumo de energia, numa altura em que a UE dá início ao processo de corte no consumo de gás em 15%, até março de 2023.

A partir desta segunda-feira, os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) deverão unir esforços para reduzir o consumo de gás em 15%, uma medida voluntária que pretende garantir reservas suficientes para o inverno. Isto numa altura em que o principal gasoduto que liga a Rússia à Alemanha, o Nord Stream, mantém reduzidos os fluxos para o bloco europeu. Desde a passada quarta-feira, que a principal pipeline que abastece o bloco europeu opera a 20% de capacidade — uma realidade já antecipada pelo executivo comunitário, que urgiu os países da UE a adotar algumas medidas de contingência.

Na Alemanha, onde o reduzido fluxo de gás se faz sentir com maior intensidade dada a dependência do país do mesmo, as respostas são várias mas, uma vez que o gás também é usado para a produção de eletricidade, muitas vão na linha de cortar o consumo da luz. De acordo com os dados do departamento de estatística (Destatis), citados pela agência EFE, 15,2% da eletricidade produzida na Alemanha, no ano passado, foi gerada através do gás. O palácio residencial, em Berlim, já não acende as luzes à noite e, em Hannover, a cidade cortou a água quente nas piscinas e ginásios. Na mesma cidade, os prédios só serão aquecidos entre 1 de outubro a 31 de março de 2023, e a temperatura não deverá ultrapassar os 20 graus Celsius. Em vários municípios foram desligados os holofotes e as fontes de monumentos públicos.

“Os desafios que enfrentamos são enormes e afetam áreas significativas da economia e da sociedade”, disse Robert Habeck, vice-chanceler e ministro da Economia da Alemanha. “Mas somos um país forte e uma democracia forte. Estes são bons pré-requisitos para superar esta crise”, garantiu.

Esforços semelhantes verificam-se em França, onde os estabelecimentos foram obrigados a manter as portas fechadas no caso de usarem o ar condicionado e a desligar as luzes néon mal a loja encerre. Já os outdoors publicitários com iluminação, terão que desligar as luzes entre a 1h00 e as 06h00, com exceção dos metros e aeroportos. Por sua vez, espaços públicos, como arenas ou teatros, foram obrigados a limitar a temperatura de arrefecimento no verão e a temperatura de aquecimento no inverno, e em casa recomenda-se que o router de WiFi, as televisões e as luzes sejam desligadas quando não estão a ser usadas, nomeadamente, durante a noite.

Na Grécia, onde a dependência de gás russo ronda os 40%, foi apresentado em junho a “operação termóstato” que tem como objetivo reduzir o consumo de energia em 10% este ano e 30% até 2030. As medidas incluem um programa de 640 milhões de euros para renovar janelas, sistemas de aquecimento e refrigeração em edifícios e a recomendação de um limite de arrefecimento em 27 graus Celsius no verão, quer em casa e quer nos estabelecimentos

Os esforços de poupança de energia também são sentidos nos Países Baixos, onde, a partir de 2023, os consumidores com um consumo de eletricidade superior a 50.000 quilowatts por hora terão que fazer um racionamento. Também faz parte do esforço do país acabar com a dependência de combustíveis fósseis russos e reduzir as emissões de dióxido de carbono. O governo diz que essas novas regras podem economizar 19 petajoules de gás e 7 petajoules de eletricidade até 2030, o equivalente a 4 milhões de barris de petróleo.

Na Irlanda, onde a temperatura média ronda atualmente os 25 graus Celsius, a Autoridade de Energia Sustentável do país pediu que as famílias reduzissem o termóstato para os 20 graus Celsius nas suas casas e, se conduzirem um carro a combustão, que reduzam a velocidade para que o consumo de combustível seja menor.

Em Itália, atravessa-se também uma crise política após a demissão do primeiro-ministro Mário Draghi, algo que comprometeu o desenho de uma estratégia de poupança energética. No entanto, num rascunho a que o The Guardian teve acesso, o governo preparava-se para recomendar que toda a atividade comercial encerrasse a partir das 19h00. A esta, junta-se a prática adotada desde maio, em que os edifícios públicos, com exceção dos hospitais, devem evitar baixar a temperatura do ar condicionado para lá dos 19 graus Celsius no verão e não ultrapassar os 27 graus no inverno.

Ao contrário de muitas realidades na União Europeia, Espanha – que concordou com uma redução de 7% a 8% no consumo de gás – não depende do fornecimento de energia russo. Ainda assim, a ministra da Transição Ecológica do país, Teresa Ribera, pediu aos espanhóis que fossem “o mais inteligentes possível” quando se trata de consumo de energia, mas admitiu que o governo não espera que a vida quotidiana das pessoas seja interrompida.

Em Portugal, o corte no consumo de gás também não deverá ter de exceder os 7%, uma vez que o país se enquadra em exceções à regra definidas por Bruxelas. “Portugal vai ter uma aplicação parcial deste regulamento, [enquadrando-se] naquilo que são os países com reduzidas interconexões”, disse Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente, após o anúncio do acordo para os 27 Estados-membros. Por cá, independentemente dos cortes, os setores industriais deverão estar protegidos e o porto de Sines pode vir a ser chamado como plataforma para exportar gás para o resto do bloco, indicou o ministro.

 

Nas contas da Comissão Europeia, as diversas exceções negociadas podem levar a que o corte de gás seja em termos absolutos de 30 mil milhões de metros cúbicos (bcm). Mas num inverno com temperaturas mais severas, e onde um corte completo no abastecimento de gás via Nord Stream fosse contemplado, a redução no consumo necessária pode chegar aos 45 bcm, nas contas do executivo comunitário. Esta última pode ser a realidade mais provável. À Bloomberg, fontes próximas do Kremlin garantem que os fluxos reduzidos de gás poderão prolongar-se, pelo menos, enquanto o conflito armado na Ucrânia decorre.

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