Redução de horário pode transferir milhões para o e-commerce, temem centros comerciais

Retalhistas já têm em curso medidas que permitem reduções no consumo de energia numa altura em que o Governo prepara plano de poupança. Centros comerciais receiam novo corte nos horários.

À semelhança do que está a ser feito em todos os Estados-membros da União Europeia, Portugal também vai adotar medidas para fazer a sua parte no cumprimento das metas de poupança energética acordadas em Bruxelas. O pacote deverá incluir medidas para a administração pública, mas também para consumidores domésticos, empresas, serviços, hotelaria, indústria e comércio. Da parte dos supermercados e hipermercados, já estão em curso práticas que podem ir em linha com as exigências do Governo, mas a possibilidade de ser decretada uma redução nos horários, à semelhança do que aconteceu durante a pandemia, é uma realidade que preocupa a Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC).

O nosso objetivo é encontrar medidas que reduzam os consumos sem reduzir a competitividade dos nossos lojistas. Especialmente face à concorrência do online“, sublinha Rodrigo Moita de Deus, presidente da APCC ao ECO/Capital Verde, garantindo que o consumo energético eficiente tem sido sempre uma prioridade para estes espaços, seja por motivos económicos ou ambientais.

Discutir redução de horários, por exemplo, é transferir milhões de euros diretamente para as grandes plataformas de comércio eletrónico. São perdas a 100% de um ecossistema que ainda está a recuperar da pandemia“, ressalva o responsável, argumentando ser possível criar poupanças na área da climatização, “onde está grande parte do consumo [energético]”. Nesse âmbito, Moita de Deus garante que o setor tem feito “ajustes sistemáticos” que vão em linha com os “grandes investimentos na área da iluminação de baixo consumo”.

Quanto à instalação de painéis solares para a produção própria, o presidente garante que esse é “o próximo grande salto” mas que é preciso “um sistema de licenciamento mais ágil e eficiente por parte das diferentes autoridades”. A associação diz estar a trabalhar com o Governo nos esforços para alcançar as metas de redução de consumo, tendo formado um grupo técnico de trabalho em julho para encontrar medidas “eficientes e competitivas”.

Hipermercados já reduzem no consumo energético

Uma das práticas mais adotadas pelos Estados-membros para alcançar as metas de poupança energética pedida pela Comissão Europeia passa pelo corte dos consumos energéticos nos espaços comerciais, nomeadamente supermercados e hipermercados. Os retalhistas contactados pelo ECO/Capital Verde garantem já ter em curso práticas mais sustentáveis, seja através da instalação de iluminação LED, sistemas de climatização mais eficientes ou de painéis solares.

Fonte oficial do MC, dona dos supermercados Continente, revela ao ECO/Capital Verde que tem feito investimentos na área da gestão ambiental das operações “de forma contínua e consistente” ao longo dos anos, o que tem resultado numa otimização dos consumos de água e energia. A título de exemplo, estes supermercados têm instalado equipamentos e sistemas com melhor desempenho, tanto ao nível do frio, como da climatização e da iluminação das lojas; implementado contadores com telemetria e realizado auditorias para acompanhar o resultado destes investimentos. Além disso, a MC revela que encerrou o ano de 2021 com 214 centrais instaladas e em funcionamento, o que representa um crescimento de 25 novas centrais, e um parque fotovoltaico com uma potência instalada de cerca de 26,9 megawatt por hora (MWh). “A nossa produção de energia elétrica aumentou 66,9% em 2021”, revelam.

Práticas semelhantes – quer ao nível da climatização, iluminação LED ou instalação de painéis de produção solar em gasolineiras, hipermercados e parques de estacionamento de lojas – são verificadas nos espaços de retalho do Auchan, que diz ter registado, nos últimos 10 anos, uma redução de consumo de eletricidade de 33% por metro quadrado de área de venda. “A Auchan é e será um agente ativo na redução dos consumos energéticos, em linha com os respetivos compromissos para a descarbonização da atividade e a certificação ambiental ISO 14001, já obtida por 14 das suas maiores lojas”, garante fonte oficial do Auchan Retail Portugal ao ECO/Capital Verde.

Por sua vez, o grupo Os Mosqueteiros, através das suas três insígnias (Intermarché, Bricomarché e Roady), garante ao ECO/Capital Verde ter “investido nos últimos anos na concretização de um conjunto de ações com o objetivo de melhorar a eficiência energética nos seus espaços assim como nas suas cadeias de distribuição, visando sempre salvaguardar a segurança alimentar e o bem-estar dos consumidores”. Exemplos destas ações, explicam, são a redução do consumo energético global em 9,74% nas três bases logísticas (Alcanena, Paços de Ferreira e Cantanhede), assim como a redução do consumo de eletricidade em cerca de 85%, nomeadamente através da adoção de sistemas de iluminação inteligentes e instalação de várias unidades de produção fotovoltaica para autoconsumo nessas mesmas bases.

 

Base Alcanena, grupo Os Mosqueteiros/Foto cedida

Já a Mercadona, que “aguarda pela informação que ainda será anunciada relativamente a medidas específicas em Portugal”, garante que a eficiência energética e o respeito pelo meio ambiente “são desde há vários anos preocupações” da cadeia de supermercados espanhola com operações em Portugal. Fonte oficial explica ao ECO/Capital Verde que todas as 1.660 lojas contam com portas automáticas que permitem manter a temperatura e sistemas automatizados que reduzem a iluminação interior em 20% após o encerramento ao público e, quando os colaboradores saem das lojas, a iluminação é totalmente apagada. Além disso, através do Modelo de Loja Ecoeficiente, que a empresa começou a implementar em 2016, os hipermercados da marca já contam com poupanças energéticas na ordem dos 40%.

Além de promover medidas de eficiência energética nas lojas, a Mercadona conta ainda com um total de 1.762 pontos de carregamento elétricos – mais 271 do que em 2021, conta fonte oficial.

Da parte da Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, é dada a garantia de “o respeito pelo ambiente”, um dos pilares de responsabilidade” da rede de supermercados, sublinhando que “a gestão eficiente do uso da energia é naturalmente de grande relevância para a companhia”. No entanto, remete as preocupações e apelos para o comunicado da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), entidade do qual faz parte.

A entidade liderada pelo secretário-geral Gonçalo Lobo Xavier lançou um apelo de “bom senso” na elaboração do plano, sublinhando que a elaboração de medidas a adotar pelos setor de distribuição e retalho “deve passar pela consulta” dos mesmos “e por iniciativas de duração limitada”. Na mesma nota, sublinhou que as empresas associadas adotaram medidas que já levaram a “uma redução até 30% no consumo de eletricidade por metro quadrado de área de venda”.

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