Juros da dívida disparam com discurso do BCE a subir de tom

Em Jackson Hole, membros do banco central defenderam subidas agressivas das taxas de juro para travar a escalada da inflação. Os juros da dívida disparam, com periferia mais penalizada.

Portugal subiu à liga dos países com rating A na passada sexta-feira, mas nem por isso deixa de estar sob pressão esta segunda-feira. Os juros das obrigações a dez anos disparam 16,4 pontos base. A periferia está sob maior pressão. E isto depois de alguns membros do Banco Central Europeu (BCE) terem agravado o tom do discurso em Jackson Hole, defendendo subidas mais agressivas das taxas de juro para travar a inflação.

A yield associada aos títulos portugueses sobe para 2,66%, um máximo de 28 de junho, de acordo com os dados disponibilizados pela Reuters. Os títulos italianos no mesmo prazo avançam para máximos de mais de dois meses, para os 3,861%, mais 17 pontos base do que na passada sexta-feira. Em Espanha o cenário é o mesmo: a taxa das obrigações espanholas a dez anos aumentar 15 pontos base para 2,745%.

O discurso mais rígido de membros do BCE no simpósio anual de Jackson Hole, no fim de semana, deixa os mercados obrigacionistas sob pressão. Membro da comissão executiva do banco central, Isabel Schnabel disse que os bancos centrais correm o risco de perderem a credibilidade e devem agir com força para combater a inflação, mesmo que custe uma recessão. “Mesmo que entremos em recessão, temos poucas alternativas senão continuar o caminho da normalização”, disse.

“Devemos estar abertos a discutir quer os 50 quer os 75 pontos base como possíveis movimentos”, afirmou Martins Kazaks, presidente do banco central da Letónia, à margem do evento, em declarações à Reuters.

Juros de Portugal voltam a subir

Fonte: Reuters

A subida dos juros é acompanhada de um agravamento do spread em relação à dívida alemã. A taxa das bunds – a referência na Zona Euro – também sobe, mas apenas na ordem dos dez pontos base, para 1,5%, um máximo desde o final de junho.

O índice de preços no consumidor registou uma variação homóloga recorde de 8,9% em julho na Zona Euro, quatro vezes mais do que o previsto no mandato. O BCE já subiu as taxas diretoras em 50 pontos base, acabando com o período de juros negativos. O conselho de governadores volta a reunir-se na próxima semana (reunião marcada para dia 8 de setembro) para discutir uma nova subida das taxas.

Outros responsáveis com assento do conselho querem que seja considerado um aumento de 75 pontos base, entre eles alguns “falcões” do BCE, como Klaas Knot, presidente do banco central neerlandês e Robert Holzmann, seu homólogo austríaco.

Para Portugal, esta discussão surge no meio de uma notícia positiva: a DBRS subiu o rating da dívida da República para o nível “A” na passada sexta-feira. Há 11 anos que não estava tão bem avaliado nas agências de rating. “As vulnerabilidades de crédito a Portugal associadas a choques externos estão a diminuir e as perspetivas macroeconómicas estão a melhorar”, justificou a DBRS.

Depois da “severa contração económica” de 8,4% em 2020, “a recuperação foi forte”, afirma a DBRS, notando que o PIB cresceu 4,9% em 2021 e que a Comissão Europeia prevê um crescimento de 6,5% da economia portuguesa em 2022.

Acrescenta: “O choque de preços exacerbado pela invasão da Ucrânia pela Rússia provavelmente fará com que o crescimento estagne no segundo semestre. No entanto, a série de crises não parece ter causado danos de longo prazo à economia portuguesa”.

(Notícia atualizada às 8h31)

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