Adega Mayor aponta à dessalinização para combater a seca. “Maior custo será, de repente, não termos água”

A marca de vinhos do grupo Nabeiro admite quebras de produção face à situação de seca. Rita Nabeiro fala dos investimentos na área da sustentabilidade e estima vendas de seis milhões de euros em 2022.

A situação de seca no país não está a dar tréguas ao setor agrícola e a Adega Mayor não é exceção. A empresa do grupo Nabeiro, dona da Delta Cafés, já admite quebras nos níveis de produção, ainda que seja precoce avançar com números. Face à situação meteorológica que assola o país e o continente europeu, será inevitável contornar os efeitos. Perante uma situação de escassez de água que se torna recorrente em Portugal, a diretora-geral da empresa de vinhos defende uma aposta mais robusta na dessalinização. “Custos, obviamente, haverá sempre. Mas o maior custo será de repente não termos água”, diz Rita Nabeiro ao ECO/Capital Verde

“Para já, ainda é precoce, mas infelizmente, sim. A água está muito intimamente ligada com a produção e com aquilo que vamos colher nesta vindima”, afirma a CEO, destacando que existem castas que estão a “surpreender” e a produzir até um pouco acima daquela que era a previsão antes da vindima. “Mas noutras sentimos já algumas quebras e é natural que isso possa acontecer”, nota, sublinhando que “acima de tudo [quer] que aquilo que venha para dentro da Adega tenha qualidade”.

A seca, aliada ao agravamento das alterações climáticas, refletem-se na antecipação do período da vindima – uma realidade partilhada por todo o setor. A Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior já admitiu uma quebra na produção entre 15% a 20%, face ao ano anterior – valores alinhados com aqueles referidos pelos produtores de vinho da sub-região do Planalto Mirandês, integrada na Região Vitivinícola de Trás-os-Montes, que estimam um abrandamento também de 20%. Em agosto, 60,4% do território encontrava-se em seca severa, enquanto 39,6% estava em situação de seca extrema.

A seca, aliada ao agravamento das alterações climáticas, representam um par de dificuldades para a empresa de vinhos que já nota uma antecipação no período da vindima – uma realidade partilhada por todo o setor. “Já não é entre setembro e outubro. Já é cada vez mais entre agosto e setembro, porque as temperaturas elevadas que se fizeram sentir [este ano] aceleraram a maturação das uvas”, sublinha a gestora, admitindo que “este é um dos desafios que este ano, em particular, se irão colocar”.

“Maior custo será, de repente, não termos água”

A gestora sublinha, no entanto, que o tema da seca não é novidade em Portugal. “O ponto aqui é que sentimos que estes períodos de seca são cada vez mais prolongados”, diz. A solução passa por preparar e desenhar estratégias de mitigação. Por exemplo, “trabalhar cada vez mais a vinha, os solos, tentar conseguir criar matéria orgânica; fazermos de tudo para termos plantas mais resilientes, cada vez mais capazes de aguentar fenómenos mais extremos”, explica, acrescentando uma gestão “mais criteriosa” da rega e a monitorização do teor de água no terreno, através de sondas.

Mas as soluções também devem passar pela aposta na dessalinização. Rita Nabeiro sempre a defendeu e nota que ano após ano se torna “mais evidente” a importância deste tema. O método, que permite retirar o excesso de sal e de outros minerais da água do mar, de forma a torná-la potável, tem sido reforçado na vizinha Espanha, que atravessa o período de seca mais grave dos últimos 90 anos. Os governos regionais e central reforçaram as centrais de dessalinização do país com um investimento de 200 milhões de euros.

Em Portugal continental, a aposta começará a ganhar forma com um investimento, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) de 45 milhões de euros. Será uma central dessalinizadora no Algarve para reforço das origens de água de abastecimento na região — uma realidade já há muito presente na ilha de Porto Santo, na Madeira, onde a central inaugurada há 40 anos permitiu acabar com a escassez de água, para uns abundantes 6.500 metros cúbicos por dia.

“Eu acredito muito que parte da solução se foque em projetos de dessalinização. Acho que vamos ter de começar a pensar neste tipo de soluções porque, se não chove, as barragens também não vão ter água“. Mais. “Temos vindo a assistir no Alentejo, e não só, ao cultivo e ao plantio de culturas intensivas e super intensivas, seja de olival ou amendoal. E, obviamente, que depois vai começar a haver uma competição pelos recursos hídricos”, alerta.

Questionada sobre se uma aposta na dessalinização resultará num aumento dos custos para a empresa, a CEO responde que “custos, obviamente, haverá sempre.” “Mas o maior custo será, de repente, não termos água. (…) Não resolve o problema, é verdade, mas mitiga, pelo menos, uma parte dos impactos”, salienta a gestora.

Faturação deve ultrapassar seis milhões

Apesar dos desafios resultantes da seca, a Adega Mayor, que está a assinalar 15 anos de atividade, fala num crescimento “sustentável” da empresa. No final deste ano antecipa atingir receitas superiores a seis milhões de euros. “Esperamos continuar a melhorar a nossa performance, mas queremos fazê-lo de forma sustentada e consistente. O ano de 2021 superou as expectativas e esperamos que este ano também evolua de forma positiva”, resume Rita Nabeiro, que está a lançar mais dois vinhos: o Adega Mayor Selecção Biológico branco e tinto.

Os próximos anos ficarão marcados pelos esforços no âmbito da sustentabilidade. Numa primeira fase, que se prolongará até 2023, a Adega Mayor conta investir cerca de meio milhão de euros nas áreas ambientais, de sustentabilidade e de infraestruturas para os trabalhadores. “Este é um processo contínuo. Por muito que possamos investir nunca vai estar concluído, porque até aí há aspetos que acabam por continuar a ter inovações”, explica Rita Nabeiro.

Os investimentos vão refletir-se num reforço de equipamentos agrícolas como pulverizadores, tratores, em sistemas de gestão de águas residuais, mas também na vertente social. Até porque, conclui a gestora, um dos principais desafios na atualidade passa pela “captação de recursos humanos para trabalhar na área agrícola, sobretudo porque a vinha exige um trabalho físico”.

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