Galp investe em lítio, solar e hidrogénio, mas fósseis ganham

Lítio, solar, hidrogénio e até combustíveis verdes para aviação. As apostas da Galp na transição energética são várias, mas o investimento em energias fósseis continua a ser superior.

A passagem de Andy Brown como CEO da Galp termina 1 ano e 8 meses depois do seu início, em fevereiro de 2021. A missão que marcou a sua chegada à Galp, ou seja, a transformação da petrolífera à luz da transição energética, fica por cumprir. Apesar de o curto mandato ter sido pautado por vários investimentos em áreas chave para a transição, as metas traçadas pela empresa estão ainda por completar, e o investimento em energias fósseis capta uma fatia muito superior.

“O Andy irá liderar a estratégia da Galp como empresa integrada de energia, alinhada com a transição para uma economia de baixo carbono”, lia-se no comunicado, lançado pela petrolífera a 5 de fevereiro de 2021, que marcava o início das funções de Andy Brown como CEO.

Numa entrevista recente no podcast de Francisco Pinto Balsemão, “Deixar o Mundo Melhor”, a presidente do Conselho de Administração da Galp, Paula Amorim, atestava a importância que o órgão atribui à transição energética. “Nós temos noção da mudança que temos de fazer para ter um mundo mais verde”, disse, assumindo que a decisão de fechar a refinaria da Galp em Matosinhos foi “muito dura” mas “importante, no sentido do compromisso da empresa para com essa transição energética”. Esta terá sido uma questão decisiva para a saída do antecessor de Andy Brown, Carlos Gomes da Silva, das funções de CEO, que abandonou a meio do respetivo mandato.

“Andy Brown teve um papel importante e francamente satisfatório na empresa”, avalia o analista da XTB, Henrique Tomé, considerando, contudo, que este teve um “percurso notável ao longo dos anos, mas sempre ligado aos combustíveis fósseis”, o que pode apresentar-se como uma debilidade neste contexto de transição.

Investimento em renováveis abaixo da meta

A Galp obteve lucros de 457 milhões de euros em 2021, suportados sobretudo pela atividade de exploração e produção (upstream), à qual corresponde um EBITDA de 2,02 mil milhões, de um total de 2,3 mil milhões. A área de Renováveis e Novos Negócios teve um desempenho negativo de 13 milhões, acima do Ebitda negativo em 9 milhões que ficou registado em 2020.

O investimento em renováveis também ficou aquém na percentagem que lhe foi dirigida, tanto em comparação com as restantes áreas de negócio como com as metas propostas no plano estratégico. De um Capex de 936 milhões de euros em 2021, uma fatia de 66% foi destinada à atividade de Exploração e Produção de petróleo e gás natural (Upstream), 17% à refinação de petróleo bruto, distribuição de produtos petrolíferos e de gás natural e a geração e comercialização de energia elétrica (Downstream) e as Renováveis e Novos Negócios captaram apenas 15%, lê-se no Relatório e Contas.

Dos 800 milhões a mil milhões que a petrolífera se propôs a investir anualmente entre 2021 e 2025, a empresa comprometeu-se a que 35% fosse alocado a negócios ao segmento de Renováveis e Novos Negócios, sendo que uma fatia de até 50% estava reservada para oportunidades relacionadas com transição energética. Números muito distintos daqueles relatados no referido Relatório e Contas. No relatório que se debruça sobre a primeira metade de 2022, as Renováveis e Novos Negócios representavam já 22% do Capex, ainda assim aquém do objetivo anunciado. Situam-se acima do segmento de Downstream (11%) mas muito abaixo dos 63% que couberam ao Upstream.

Ainda assim, na ótica do analista da XTB Henrique Tomé, “a empresa está a apostar fortemente neste novo setor [ligado à transição energética]” e “pode dizer-se que o balanço é positivo, dado que as receitas provenientes das energias renováveis poderão vir a ganhar mais expressão nas contas da empresa nos próximos trimestres”.

Lítio, solar, hidrogénio e até combustíveis verdes para aviação

Mas afinal, o que é que a empresa fez para se tornar mais verde? As novas apostas foram várias.

No Capital Markets Day de 2021, um dia dedicado a dar novidades aos investidores, a petrolífera avançou a intenção de tornar a respetiva unidade em Sines um “centro de energia verde”, que deveria acolher projetos de hidrogénio verde, biocombustíveis e baterias de lítio.

A propósito da apresentação de resultados de 2021, no passado mês de fevereiro, a Galp informou que iria duplicar a fasquia no que toca à capacidade de eletrólise para produção de hidrogénio verde a instalar em Sines, passando de uma meta de 100 megawatts (MW) para 200 MW. Em Sines está ainda em curso um projeto-piloto de 2 MW para testar a tecnologia.

2021 fica ainda marcado pelo anúncio da parceria entre a Galp e a Northvolt para a criação de uma refinaria de lítio em Portugal, num investimento de 700 milhões de euros, que se espera que entre na fase comercial em 2026. Em paralelo, foi sendo feito um investimento e postos de carregamento para carros elétricos – já são cerca de 1000 na Península Ibérica, e o objetivo é chegar aos 10.000 até 2025.

Ainda em 2021, a Galp entrou no mercado brasileiro de energias renováveis, com o investimento em parques solares com uma capacidade total de 594 megawatts-pico (MWp), atingindo um portefólio total de 4,7 gigawatts (GW) distribuídos pela Península Ibérica e pelo Brasil. O objetivo é que, até 2025, 4 GW estejam em operação, e atingir mais de 12 GW de capacidade renovável em operação em 2030.

Mais recentemente, a petrolífera anunciou que quer passar a ser fabricante de combustível de aviação sustentável a partir de Portugal, mais propriamente, de Sines. “Cedo, no próximo ano, esperamos começar a construir o nosso próprio projeto”, disse Andy Brown, este julho. Um projeto com a capacidade para produzir 240.000 toneladas, “um projeto de escala mundial“, indicou.

 

 

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