Orçamento conta com queda de 20% no petróleo em 2023
Brent próximo dos 100 dólares terá impacto negativo de apenas uma décima no crescimento do PIB.
O cenário macroeconómico que o Governo inscreveu na proposta do Orçamento do Estado para 2023 assume que o preço do barril de petróleo vai descer fortemente em 2023, que as taxas de juro vão disparar e que o euro vai negociar na paridade face ao dólar.
Para elaborar o cenário, o Governo recorre às expectativas implícitas nos mercados de futuros, sendo que o valor do petróleo parece ser o que levanta mais questões. A previsão aponta para uma cotação média de 77,8 dólares por barril em 2023, o que representa uma queda de 20% face ao valor médio registado em 2022 (97,6).
Depois de ter transacionado em mínimos de janeiro no final do mês passado, abaixo de 85 dólares por barril, o Brent tem registado uma tendência de alta nas últimas semanas, aproximando-se dos 100 dólares, devido aos cortes na produção anunciados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e aliados.
Apesar do cada vez mais provável cenário de recessão na economia global ser um fator de pressão para a cotação do petróleo, os analistas apontam para uma valorização da matéria-prima nos próximos meses devido à escassez da oferta e controlo apertado da produção por parte dos membros da OPEP. O Goldman Sachs reviu em dez dólares a cotação do barril de Brent para o último trimestre deste ano (110 dólares) e para o primeiro trimestre de 2023 (115 dólares).
Ainda que no cenário macro insira uma previsão de queda do petróleo em 20%, o Governo admite que “as sanções à comercialização do petróleo russo e uma redução da produção do crude por parte dos países da OPEP podem levar a um crescimento do preço do petróleo no curto/médio prazos”.
Reconhece também que a evolução da cotação das matérias-primas é um dos riscos do seu cenário macroeconómico, mas na análise de sensibilidade efetuada acaba por desvalorizar o impacto.
“Um cenário em que o preço do petróleo se situe 20% acima do assumido no cenário base, de acordo com a simulação efetuada, teria um efeito negativo de 0,1 pontos percentuais no crescimento do PIB em 2023”, refere o governo no relatório. Ou seja, se o petróleo transacionar perto dos 100 dólares em 2023, o impacto no PIB será de apenas uma décima.
Segundo a análise de sensibilidade do Executivo, um valor mais elevado do petróleo reduz a capacidade de financiamento da economia em 0,4 pontos percentuais e aumenta a taxa de desemprego numa décima.
Escalada nos juros também terá impacto limitado no PIB
Nos pressupostos do cenário macroeconómico, o Governo inseriu uma previsão da taxa de juro de curto prazo média de 2,9% em 2023, “traduzindo o prosseguimento da normalização da política monetária, iniciado em 2022, a fim de contrariar a subida da taxa de inflação e a depreciação do euro face ao dólar”.
O Governo simulou um aumento das taxas de juro de curto prazo em dois pontos percentuais e de médio e longo prazos em um ponto percentual face ao assumido no cenário base, estimando que o impacto negativo no crescimento real do PIB será de apenas 0,3 pontos percentuais, sendo “parcialmente compensado por uma redução do crescimento das importações”.
As perspetivas atuais apontam para que o Banco Central Europeu aumente a taxa dos depósitos para valores em torno de 3% em 2023, sendo que o agravamento da política monetária será constrangido pelo abrandamento da economia.
No relatório com a proposta do Orçamento do Estado, o Governo admite que “os principais riscos para o cenário macroeconómico são essencialmente de natureza externa”. Contudo, destaca os elementos na economia portuguesa “que potencialmente poderão mitigar estes impactos negativos”, como o baixo nível do desemprego, menor dependência face ao gás russo, “resiliência do setor do turismo”, “solidez atual das finanças públicas” e investimentos do PRR.
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