Conversas com Energia. Compreender conceitos importa no combate à crise climática

Na 2ª edição do Conversas com Energia, o arquiteto José Mateus debateu conceitos com os alunos da Escola Básica Pintor Almada Negreiros para uma melhor compreensão sobre o meio ambiente.

Numa altura em que a sustentabilidade encabeça a lista de prioridades dos Estados e sociedade civil, e os alertas e apelos de ação climática se tornam numa constante, compreender o estado do ambiente e a sua degradação (ou preservação) pode tornar-se numa tarefa difícil que resulta, muitas vezes, da falta de compreensão de conceitos e fenómenos. Essa foi a prioridade de José Mateus, arquiteto e presidente da Trienal de Arquitetura de Lisboa, que aproveitou a sua presença no Conversas com Energia para dialogar com os alunos do 9º ano da Escola Básica Pintor Almada Negreiros sobre tudo relacionado com o meio ambiente.

A sustentabilidade ambiental é um tema que devem ouvir falar todos os dias, mas gostava de tentar perceber a noção que têm sobre alguns aspetos ambientais e o que se pretende com a sustentabilidade“, começou por explicar perante os cerca de 40 alunos presentes na segunda edição da iniciativa organizada pela Fundação EDP e da qual o ECO/Capital Verde é media partner.

Já alguém ouviu falar sobre o buraco do ozono?“. Esta foi a primeira pergunta lançada, à qual um dos alunos respondeu que esta frecha impede que a camada controle os níveis de calor que entram na Terra. “No fundo, é um bocado isso”, esclareceu José Mateus perante a turma, na Central Tejo, acrescentando que esta fratura, localizada naquilo que se assemelha a uma “película de gás”, “impede os raios solares de chegarem à Terra de forma intensa e prejudicial”.

“No século passado falava-se muito do buraco do ozono, mas, felizmente, já foi possível recuperar”, disse, tranquilizando os jovens. A recuperação, embora seja animadora, ainda não está, no entanto, garantida. O relatório mais recente da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA) e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dava conta de que o buraco na camada do ozono tinha voltado a encolher este ano, acompanhando a tendência das últimas duas décadas. Até 13 de outubro, o documento das duas entidades norte-americanas revelava que a sua extensão atual era de 23,2 milhões de quilómetros quadrados — longe do nível recorde registado em 2006, altura em que largura era de 27 milhões de quilómetros quadrados.

Como? Graças à proibição adotada pelo Protocolo de Montreal em 1989 sobre a libertação de produtos químicos prejudiciais à camada de ozono, os chamados clorofluorcarbonetos que apareciam, “por exemplo, nos sprays de laca ou desodorizantes”, explicou o arquiteto. “A única maneira de impedir o agravamento [do buraco do ozono], foi a proibição desses químicos”, explicou José Mateus ao grupo de jovens.

Sobre a biosfera, ou o conjunto de ecossistemas existentes na Terra, o arquiteto comparou-a “um relógio muito afinado, com mecanismos”, onde “basta haver um ou dois a funcionar mal, para não dar horas certas”, exemplificou. “O planeta funciona de forma equilibrada e ao longo de milhões de anos a Terra foi mudando até atingir um equilíbrio para existir vida entre a natureza, os humanos e animais. O momento em que a Terra atingiu esse equilibro que permite que vivamos, chamou-se holoceno“, acrescentou, conceito que contrasta com o antropoceno, isto é, o período mais recente na história do Planeta, fortememente marcado pelo impacto do comportamento do homem no meio ambiente. “Não faz mal se nunca ouviram falar, muitos adultos também não conhecem [a palavra]”, apontou.

Sobre o degelo dos glaciares, uma jovem apressou-se a responder, dando conta de que este fenómeno, causado pelo aquecimento global, resulta numa subida dos níveis do mar que põem em causa a existência e segurança de países insulares e costeiros e a sua biodiversidade. Desse problema, acrescentou José Mateus, resulta também o aquecimento dos próprios oceanos, numa altura em que os níveis de acidificação, resultantes da absorção de dióxido de carbono, já são elevados. “Nunca houve um nível de emissões de gases com efeito de estufa tão alto. É preocupante”, alertou.

Os últimos dados das Nações Unidas indicam que em 2021 as emissões de dióxido de carbono atingiram novos recordes e dados preliminares indicam que as emissões de gases com efeito estufa (GEE) vão aumentar 10,6% até 2030, quando comparados com os níveis de 2010.

O Conversas com Energia faz parte da segunda edição da iniciativa lançada pela Fundação EDP, projeto que já contou com a participação de o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e a artista plástica, Joana Vasconcelos. Esta segunda edição decorre na Central Tejo, no âmbito da exposição Retroactivar, uma coprodução do Maat e da Trienal de Arquitetura de Lisboa 2022, patrocinada também pela ERP Portugal e pela Novo Verde.

Os oradores das próximas sessões serão José Sá Fernandes, ex-vereador do Ambiente, Clima e Energia, Estrutura Verde e Serviços Urbanos da Câmara Municipal de Lisboa; Ricardo Neto, presidente da ERP Portugal e da Novo Verde; Vera Pinto Pereira, presidente da Fundação EDP; e Bernardo Corrêa de Barros, presidente do Turismo de Cascais e presidente da Sailors for the Sea, associação sem fins lucrativos dedicada à sustentabilidade dos oceanos e mares.

 

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