Sem mencionar Carlos Costa, Centeno critica “quebra de ADN” do Banco de Portugal

Para o governador, a confiança na partilha de informação privilegiada é a pedra basilar do sistema financeiro. "Quebra deste princípio põe em causa o trabalho" do Banco de Portugal, disse Centeno.

Na tomada de posse dos novos administradores do Banco de Portugal, Mário Centeno voltou a fazer mira a Carlos Costa. O governador assegurou que o novo conselho que inicia agora funções vai “preservar sempre a integridade da informação privilegiada que lhe é confiada”, que é uma “pedra basilar de todo o sistema”. “A quebra deste princípio põe em causa o trabalho de quase dois séculos do banco. Não é o nosso ADN”, atirou, durante uma intervenção de cerca de dez minutos, sem nunca mencionar o nome do seu antecessor.

Mário Centeno, que viu Clara Raposo e Luís Máximo dos Santos (reconduzido) tomarem posse como vice-governadores, ao lado de Francisca Guedes de Oliveira, Helena Adegas e Rui Miguel Pinto, começou por dizer que este “é, em muitos anos, o mais qualificado conselho de administração do Banco de Portugal”, com uma “paridade de género como nunca existiu no banco”.

“Chega no melhor momento: do desafio do combate à inflação que hoje volta a estar nos holofotes”, acrescentou o ex-ministro das Finanças.

A partir daqui, o governador teceu considerações sobre o que é a independência de um banco central e como ela é interpretada no Banco de Portugal – independência essa que está a ser altamente questionada por Carlos Costa, o anterior governador que acusou António Costa de interferência política no caso EuroBic.

Para Centeno, “a independência, mais além da que se legisla, justifica-se pelas ações das instituições em todos os momentos. São as decisões do banco que qualificam e justificam a sua independência”. E prosseguiu: “De nada serve a apelar a um conceito se as ações e os resultados desses atos não alcancem os objetivos que possam justificar”.

No que diz respeito ao conselho de administração que vai liderar, assegurou que irá exercer o cargo “com responsabilidade, aberto à sociedade ao escrutínio público”, mas “sempre preservando a integridade da informação privilegiada que lhe é confiada”. “Fá-lo-emos com e pela independência do Banco de Portugal que celebrou 176 anos. Apenas assim podemos ambicionar perdurar no quadro institucional português durante pelo menos mais 176 anos”, acrescentou.

Mário Centeno considerou ainda que “ninguém é proprietário de informação qualificada, partilhada sob o lema da confiança, pedra basilar de todo o sistema financeiro”. E quem quebrar este princípio da confiança “põe em causa o trabalho de quase dois séculos do banco”. “Esse não é o nosso ADN”, rematou Mário Centeno, sem nunca referir o livro de memórias do antigo governador que relata episódios nos bastidores da governação do Banco de Portugal na última década.

Mais tarde, o antigo ministro das Finanças voltou a fazer mais reparos com Carlos Costa na mira. “Se, nesta sala e no país, alguém ainda acreditar que teria sido possível sem uma forte cooperação institucional, entre 2015 e 2018, ter capitalizado os maiores bancos nacionais, iniciado a resolução do crédito malparado, retomar os níveis de rentabilidade anteriores às crises financeiras e da divida soberana, terá de rever urgentemente tudo o que não leu sobre o sistema financeiro”, disse.

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