Moody’s: Novas medidas do crédito da casa “negativas” para a banca, mas “impacto será limitado”
Embora considere as medidas de proteção das famílias face à subida dos juros da casa negativas para os bancos, o impacto "será limitado", pois poucos clientes vão renegociar contratos, diz Moody's.
As novas medidas do Governo para proteger as famílias da subida dos juros do empréstimo da casa são “negativas para os bancos”, pois vai “afetar a rentabilidade do setor”, considera a Moody’s. Porém, o “impacto será limitado”, pois poucos clientes recorrerão a este mecanismo, segundo da agência de rating.
De acordo com a medida que entrou em vigor no mês passado, a revisão dos contratos só acontece com créditos até 300 mil euros e quando os clientes cumpram uma de três situações: quando a taxa de esforço é igual ou superior a 50%; quando a taxa de esforço é igual ou superior a 36% e tenha agravado mais de cinco pontos percentuais face ao ano anterior; quando a taxa de esforço é igual ou superior a 36% e a taxa de juro tenha aumentado mais de três pontos percentuais.
Os bancos terão 45 dias para identificar os clientes em situação de maior vulnerabilidade e propor soluções para reduzir as prestações mensais, as quais deverão passar por uma extensão dos prazos do contrato, uma redução do spread, entre outras flexibilidades.
“A lei é negativa para os bancos, pois vai prolongar condições do empréstimo mais fáceis para alguns clientes, prejudicando a rentabilidade do setor”, consideram as analistas Maria Vinuela e Maria Cabanyes, numa nota desta terça-feira a que o ECO teve acesso. Ainda assim, “o impacto das novas medidas deverá provavelmente ser limitado por duas razões”, acrescentam.
Por um lado, “apenas uma pequena parcela do total de clientes com crédito da casa se qualificará para o alívio”, explica a agência de rating, citando dados do Banco de Portugal.
A taxa de esforço ultrapassa os 50% apenas em 4% dos clientes, percentagem que deverá subir para 9% até ao final de 2023. A taxa de esforço média situa-se nos 17% e deverá agravar-se para 22% no próximo ano. Além disso, “o limite de 300 mil euros também desqualificará uma elevada proporção de clientes”, nota a Moody’s.
"A lei é negativa para os bancos, pois vai prolongar condições do empréstimo mais fáceis para alguns clientes, prejudicando a rentabilidade do setor. “Embora consideremos as medidas negativas para os bancos, seu impacto provavelmente será limitado.”
Por outro lado, é expectável que “um número limitado de clientes faça uso do programa”, prosseguem as duas analistas. Isso acontecerá porque a família que renegociar o contrato com o banco ficará marcada como “cliente em risco”, afetando negativamente a sua reputação no mercado em futuros pedidos de crédito.
Além desse estigma, a renegociação com o banco poderá aumentar a carga total da dívida para as famílias, mesmo que ajude a aliviar a mensalidade no curto prazo. “Essas considerações provavelmente impedirão alguns clientes bancários de aceitar a oferta de alívio no crédito”, conclui a Moody’s.
Desde o início do ano que as taxas Euribor estão a subir de forma expressiva, perante o aperto do Banco Central Europeu (BCE) para controlar a inflação. Isto tem implicado um maior esforço financeiro das famílias com crédito da casa. O Banco de Portugal vê a prestação média da casa subir mais de 90 euros no próximo ano. Os bancos disseram-se preparados para implementar as novas regras para ajudar as famílias. Na Caixa, o banco público disse estar em renegociações com 500 famílias.
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