Exclusivo 2023 traz moderação nas contratações. Metade das empresas pretende manter número de colaboradores
O cenário de inflação e a perspetiva de recessão económica estão a trazer maior ponderação às previsões de contratação das empresas nacionais. A atitude é, agora, mais conservadora.
O atual clima de inflação e a perspetiva de recessão económica para 2023 trouxeram uma maior moderação às previsões de contratação das empresas nacionais. Quase metade dos empregadores (49%) pretende manter o número de colaboradores este ano, revelando a intenção de reter o talento existente nas organizações e assegurar as competências necessárias ao seu desenvolvimento quando a economia retomar. Apenas 31% acredita que irá recrutar, enquanto 19% prevê uma redução das suas equipas, mostra o estudo trimestral “ManpowerGroup Employment Outlook Survey”, a que a Pessoas teve acesso.
“O atual cenário, com desafios ao nível da estrutura de custos – quer sejam em custos do financiamento, com a subida das taxas de juro, ou custos das matérias-primas e da energia –, mas também ao nível da procura, com a previsível redução no consumo das famílias, gera naturalmente uma atitude mais conservadora por parte das empresas, adiando decisões de investimento ou ampliação da atividade. Este comportamento por parte das empresas impacta, naturalmente, a sua capacidade de criação de emprego”, comenta Rui Teixeira, country manager do ManpowerGroup em Portugal.
“A maioria dos empregadores (49%) pretende manter a sua força de trabalho atual. Depois das dificuldades sentidas no pós-pandemia com a atração de talento, o que observamos é que os empregadores estão a privilegiar hoje a manutenção das suas equipas, estando dispostos a fazer esse investimento para estarem dotados do talento necessário quando a economia retomar”, continua o responsável.
Os dados do estudo anteveem uma projeção para a criação líquida de emprego — calculada pela subtração entre a percentagem de empregadores que planeiam contratar e aqueles que antecipam reduções para os níveis de pessoal — de 12% para o primeiro trimestre de 2023, um valor já ajustado sazonalmente e que se traduz numa descida de 15 pontos percentuais (p.p.) face ao último trimestre. A queda é ainda mais significativa aquando comparada com o período homólogo de 2022 (25 p.p.).
Estes valores colocam Portugal abaixo da média da região da EMEA (Europa, Médio Oriente e África), com apenas sete países a terem perspetivas de contratação mais pessimistas. É o caso de Taiwan, Itália, Argentina, Japão, Grécia, Eslováquia, Espanha, República Checa, Polónia e Hungria. Os últimos dois países apresentam mesmo projeções globais de contratação entre janeiro e março negativas (-2% e -8%).
Já o Panamá, a Costa Rica e o Canadá reportam as intenções de contratação mais fortes, na ordem dos 39%, 35% e 34%, respetivamente.
Setor de energia & utilities lidera nas contratações
A nível setorial, a área de energia & utilities é aquela que, em Portugal, apresenta as previsões de contratação mais otimistas (43%). A transição energética é, claramente, um dos fatores que explica estas tendências de contratação, justifica Rui Teixeira.
Mas não só. “O estudo também reforça este dado, com 52% das empresas do setor primário, que inclui o setor de energia & utilities, a afirmar que irão focar-se na prioridade ambiental, dentro das suas estratégias de ESG e 53% a afirmar que irão recrutar talento externo para suportar a concretização dos seus objetivos ESG. A mais curto prazo, observamos também um aumento nas necessidades de talento nas áreas comerciais e de suporte ao cliente, face ao momento de disrupção que o mercado está a atravessar, com a necessidade de gerir o impacto do aumento dos preços a clientes e consumidores.”
Ainda no pódio dos setores com maiores previsões de contratação até março estão ainda os setores tecnológico (28%), de serviços de comunicação (18%) e financeiro e imobiliário (18%).
Já em sentido contrário, o setor de bens de consumo (que inclui o comércio grossista e retalhista, os hotéis e restaurantes e a indústria de bens de consumo) revela uma projeção negativa na ordem dos 8%, caindo 32 p.p. face ao trimestre anterior e 43 p.p. face período homólogo de 2022.
Grande Porto com o maior dinamismo
Já a nível regional, o Grande Porto (23%) e a Região Centro (22%) apresentam as projeções mais otimistas nos primeiros três meses do ano. Lisboa e Sul avançam previsões mais conservadores, com quebras acentuadas face ao primeiro trimestre do ano anterior.
“A região do Grande Porto tem vindo a apresentar um maior dinamismo e é a que avança com a projeção mais elevada, o que pode ser explicado, em parte, pela crescente capacidade de atração de investimento internacional, com a abertura de centros de serviços partilhados, do setor tecnológico, mas também financeiro”, considera o country manager do ManpowerGroup em Portugal.
Já em Lisboa, o peso “superior do setor de serviços públicos e de bens e serviços de consumo”, poderá explicar o menor dinamismo.
Todas as empresas inquiridas, independentemente da sua dimensão, preveem aumentar a sua força de trabalho este trimestre. No entanto, as grandes empresas revelam um forte abrandamento face ao trimestre passado, com a projeção a diminuir 24 pontos percentuais.
Mercado de trabalho sofre impacto da desaceleração económica
Tal como em Portugal, a projeção para a criação líquida de emprego a nível global sofre um decréscimo, com o valor a situar-se agora nos 23%, menos seis p.p do que o registado no trimestre passado e menos 14 p.p. face aos mesmos meses de 2022.
Dos 41 países e territórios inquiridos, 38 apresentam perspetivas de contratação positivas, mas 29 revelam um abrandamento face ao trimestre anterior.
[Alargando essa visão para mais médio prazo] prevemos efetivamente uma atitude mais conservadora, ao longo deste ano, no que concerne ao investimento e à capacidade de criação de emprego, com uma gradual recuperação do otimismo à medida que os indicadores macroeconómicos mostrem uma evolução positiva.
Na região EMEA, onde se situa Portugal, a Áustria e a Turquia mostram as intenções mais elevadas, ambas com 29%. Já Portugal ocupa o 16.º lugar da tabela, com seis p.p. a menos da média da região. E no que respeita à média global, o país posiciona-se 11 p.p. abaixo.
Olhando para o ano que agora começa, Rui Teixeira prevê que uma “atitude mais conservadora no que concerne ao investimento e à capacidade de criação de emprego, com uma gradual recuperação do otimismo à medida que os indicadores macroeconómicos mostrem uma evolução positiva”.
No entanto, face à volatilidade do cenário político e económico a nível global, e em particular a incerteza quanto à evolução e duração do conflito na Ucrânia, “torna-se muito difícil afirmar de forma decisiva qual será a evolução no sentimento e confiança das empresas”, acrescenta.
Também os economistas ouvidos pelo ECO são unânimes em afirmar que o mercado de trabalho vai sofrer algum impacto com a desaceleração económica, depois de ter resistido durante 2022, ainda que amortecido pela escassez de mão de obra. Falam em mais “problemas no campo do emprego”, nomeadamente “quer quanto ao volume de emprego, quer à no que diz respeito à qualidade desse emprego”, assim como “um quadro ainda inflacionário de forma significativa, porque as medidas — que estão a ser tomadas designadamente pelo BCE — podem não ser suficientes”.
O estudo trimestral do ManpowerGroup entrevistou mais de 38.000 empregadores, em 41 países e territórios.
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