Prolongar fecho da Linha da Beira Alta é “incentivo forte para a rodovia”

Adiamento da reabertura da Linha da Beira Alta para novembro dificulta retenção de clientes para empresas ferroviárias de mercadorias, que exigem maiores compensações à Infraestruturas de Portugal.

O adiamento da reabertura da Linha da Beira Alta, de janeiro para novembro, apanhou de surpresa as empresas que transportam mercadorias por comboio. A associação que representa estes operadores (APEF) teme que a situação acabe por beneficiar as empresas da logística por estrada e exige maiores compensações à Infraestruturas de Portugal (IP).

“Surpreende-nos a data apresentada por ser um período de tempo ainda bastante alargado face às expetativas, o que representa um período de cerca de um ano e meio sem a linha disponível”, nota ao ECO o diretor-executivo da APEF, Miguel Rebelo de Sousa. Na quarta-feira, a IP comunicou aos operadores que o troço Pampilhosa-Guarda, com 160 quilómetros, apenas irá reabrir em 12 de novembro, 10 meses mais tarde do que inicialmente previsto.

Em causa estão os atrasos nas obras de modernização da Linha da Beira Alta, que deveriam ter decorrido entre o quarto trimestre de 2018 e o quarto trimestre de 2019. As obras, contudo, apenas foram iniciadas entre o final de 2020 e outubro de 2021, depois de ter sido aberto um novo concurso público, em janeiro de 2020. Ainda assim, mesmo depois da reabertura, “ainda haverá constrangimentos à circulação durante os meses seguintes“, ao fim de semana, lembra Miguel Rebelo de Sousa.

Estamos a criar condições para a rodovia ser mais competitiva, pelo que há um incentivo forte para se migrar da ferrovia para rodovia

Miguel Rebelo de Sousa

Diretor-executivo da Associação Portuguesa de Empresas Ferroviárias

Embora considere que é “preferível ter a linha encerrada, de forma a otimizarem-se as obras”, a associação entende que “é crítico que esta data seja agora cumprida”, sob pena de se “criar uma incerteza enorme” ao mercado.

O encerramento da linha durante ano e meio leva estas empresas a desenvolverem um serviço “com pior qualidade” e “dificulta a capacidade de os operadores reterem cliente na ferrovia”. A APEF vai mais longe e diz mesmo: “estamos a criar condições para a rodovia ser mais competitiva, pelo que há um incentivo forte para se migrar da ferrovia para rodovia”.

Compensações terão de subir

O prolongamento do fecho da ligação ferroviária da Beira Alta, além de obrigar os passageiros da CP a usarem o autocarro de substituição entre Coimbra-B e Guarda por mais tempo, faz com que as mercadorias sobre carris nesta região apenas possam circular na Linha da Beira Baixa, com menos capacidade de carga, o que aumenta os custos operacionais. Para compensar pelos danos causados, a IP pagou compensações aos operadores entre abril e dezembro de 2022.

Em 2023, “temos de ver como é que a IP pretende fazer”. Mas as transportadoras ferroviárias de mercadorias já têm a certeza de que os valores terão de ser superiores: “muitos dos custos identificados já não são os mesmos, dado o período de inflação que temos vivido”, sinaliza a APEF.

A modernização da Beira Alta vai favorecer, sobretudo, a área logística. Diariamente, poderão circular até 25 comboios com 750 metros de comprimento (em vez de 400) e a velocidades mais constantes. Transportar carga pelo caminho-de-ferro será mais barato em 30% do que antes das obras.

Os passageiros irão sentir mais conforto, mas a redução do tempo de viagem – entre 25 e 30 minutos – deve-se sobretudo ao fim das restrições de velocidade que existiam antes da modernização da via e à supressão de passagens de nível. Ou seja, é apenas uma recuperação de tempo face ao cenário que vigorava antes do início das obras.

No investimento total de 550 milhões de euros (com mais de dois terços de verba comunitária), está ainda prevista a construção da Concordância da Mealhada. Com a ligação direta da Linha do Norte à Linha da Beira Alta, um comboio do Porto até Guarda, por exemplo, deixará de precisar de inverter a marcha na estação da Pampilhosa.

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