Engenheiros e economistas duvidam que TGV Lisboa-Madrid “seja o que melhor serve os interesses do país”
Portugal deve apostar em "verdadeiras linhas de alta velocidade" para "responder adequada e competitivamente aos desafios de exportações de bens e serviços".
Portugal tem de rever o projeto de linha de alta velocidade entre Lisboa e Madrid. As ordens dos engenheiros e dos economistas defendem que o país deve dar prioridade à ligação ferroviária pelo Eixo Atlântico, de acordo com uma tomada de posição conjunta nesta sexta-feira.
“A ligação de alta velocidade ferroviária prevista entre Lisboa e Madrid deverá ser objeto de aprofundada reflexão e de estudos técnicos, porquanto não está garantido que o traçado atualmente pensado seja o que melhor serve os interesses do país”, refere o documento assinado pelos dois bastonários, Fernando Almeida Santos (Engenheiros) e António Mendonça (Economistas).
A partir de 2024, o tempo de viagem entre as duas capitais ibéricas irá variar entre cinco horas e cinco horas e 30 minutos, continuando a demorar mais tempo do que o automóvel, por exemplo.
Do lado português, apenas haverá alta velocidade entre Évora e Elvas, onde a Infraestruturas de Portugal está a construir 90 quilómetros de nova linha ferroviária. É apenas neste troço que um comboio poderá circular até 250 km/h, o patamar mínimo para a alta velocidade. Até chegar a Évora, o comboio não irá superar os 220 km/h; entre Lisboa e o Pragal não poderá superar os 60 km/h por causa da travessia da ponte 25 de Abril.
Do lado espanhol, apenas está pronto um troço de 150 quilómetros entre Badajoz e Plasencia – embora sem eletrificação. Para que a ligação entre as duas capitais ibéricas demore menos tempo, será preciso construir a terceira ponte sobre o rio Tejo em Lisboa e ainda que Espanha ponha em funcionamento os troços Madrid-Oropesa e Oropesa-Plasencia, que só devem ser totalmente postos ao serviço em 2030.
Apesar disso, os responsáveis defendem que é incontornável construir a terceira ponte sobre o Tejo, devido ao “esgotamento” da travessia ferroviária pela Ponte 25 de Abril e à impossibilidade de usar a Ponte Vasco da Gama para serviços sobre carris.
Em alternativa, os dois bastonários defendem que seja pensada a nova ligação Aveiro-Viseu-Salamanca ou que haja mesmo um cenário duplo: de Lisboa para Madrid via Aveiro-Viseu-Salamanca, em duas horas e 42 minutos – já chumbada duas vezes pela Comissão Europeia – e do Porto para Madrid através da nova Linha de Trás-os-Montes, em duas horas e 45 minutos.
Aposta pelo litoral português
Excluídas mais obras entre Lisboa e Madrid, os dois bastonários defendem como “prioritário” o desenvolvimento da linha de alta velocidade “centrada na linha Braga-Porto-Grande Lisboa”. Este eixo serve cerca de oito milhões de habitantes.
Sustentam ainda as duas ordens que a ligação Porto-Braga-Vigo “deve ter o mesmo tratamento de traçado exclusivo, cujos tempos médios não devam ser prejudicados face aos restantes traçados”.
O plano atual prevê a construção da nova linha Porto-Lisboa em duas fases. A fase 1, entre Porto e Soure, vai custar 2,95 mil milhões de euros, dos quais mil milhões serão provenientes de fundos europeus. Esta fase será dividida em duas: Porto-Aveiro (Oiã), por 1,65 mil milhões de euros; e Aveiro-Soure, por 1,3 mil milhões de euros. As obras começam em 2024 e deverão ficar concluídas no final de 2028, permitindo comboios Lisboa-Porto em 1h59, sem paragens.
Na fase 2, entre Soure e Carregado, as obras deverão começar em 2026 e acabar e 2030. Depois dos trabalhos concluídos, será possível viajar entre Lisboa e Porto em uma hora e 19 minutos (sem paragens).
Na fase 3, depois de 2030, será feita a ligação entre Carregado e Lisboa. Quando esta fase estiver concluída, a viagem Porto-Lisboa de comboio irá demorar uma hora e 15 minutos
Também até 2030 pretende-se construir um novo troço entre Braga e Valença, sem paragens intermédias. O custo desta obra é de 1,25 mil milhões de euros e ainda depende das obras do lado de Espanha, sobretudo da saída sul da estação de Vigo. A deslocação entre Porto e Vigo passa a durar uma hora, reduzindo em mais de uma hora o tempo atual de viagem.
Depois de 2030, o Governo pretende construir a ligação ferroviária entre o aeroporto Sá Carneiro e a estação de Nine, no valor de 350 milhões de euros. Nessa altura, o comboio entre Porto e Vigo passará a demorar apenas 50 minutos.
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