Propostas pela Liberty até fim de março. Mutua Madrilena na corrida

Mutua Madrilena, a líder espanhola em seguros gerais, junta-se às candidatas à compra do negócio europeu da Liberty, que inclui Portugal. Saiba o que está à venda, porquê e quais os interessados.

A compra da Liberty estará no topo da agenda destes líderes do setor segurador: Ignacio Garralda, presidente da Mutua Madrilena, Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade, Philippe Donnet, CEO da Generali e Mario Greco, CEO da Zurich.

A Mutua Madrilena passou a integrar o grupo de candidatos à compra do negócio da Liberty na Europa, que inclui a seguradora em Portugal, numa operação que está agora avaliada em 1,2 mil milhões de euros e será a maior do ano no setor.

Fontes que estão a acompanhar o processo revelam ao ECO Seguros que que, neste momento, estão mais diligentes a Zurich, a Generali, a Fidelidade e a Mutua Madrilena. A Allianz também é apontada, a AXA parece estar de fora e a MAPFRE já revelou o seu desinteresse. Do lado português, a Fidelidade “prefere não comentar” e a Tranquilidade (Generali) dá a entender que, a haver negociações, não passam por Lisboa. O Bank of America, que está a tratar da operação, também não comenta.

Se bloqueios legais existem, devido a Acordos de Confidencialidade (NDA) que concorrentes, vendedor e intermediários estabelecem, tal não impede que alguns factos e especulações sejam avançados por diversos meios. O jornal digital espanhol El Confidencial adianta que os dossiês já estão a ser entregues aos concorrentes e que as primeiras propostas vinculativas têm de ser entregues ao Bank Of America até ao final de março.

A Allianz e Zurich são as únicas seguradoras presentes que estão nos três mercados onde a Liberty Europa opera – Espanha, Portugal e Irlanda -, sendo, por isso, interessadas naturais no negócio, no sentido de reforçar as suas quotas de mercado e procurar rentabilidade, fundindo as operações nesses países. Para além disso, estão entre as maiores na Europa e globalmente. Os analistas consideram que este negócio exige elevada capacidade financeira, daí também se destacarem a Generali e a AXA como potenciais concorrentes.

A Generali é a 6ª maior seguradora Não Vida em Espanha, com prémios emitidos de 1,7 mil milhões de euros em 2022, enquanto em Portugal é a 2ª maior, com 1,1 mil milhões. O eventual interesse na operação passa pela sede da Assicurazioni Generali SpA, até porque Portugal acabou de passar, sem danos reputacionais, por um processo de reestruturação da original Generali com a Tranquilidade.

A francesa AXA, que parece fora da corrida à Liberty, acaba de comprar, em Espanha, a Groupe Assurances du Crédit Mutuel (GACM España), por um valor indicado de 310 milhões de euros. Este valor é semelhante ao do capital próprio da GCAM, que é, essencialmente, negócio Não Vida e Saúde, mas significa 9 vezes o seu resultado líquido. Para além deste aspeto, é provável que a AXA, quando em 2016 vendeu o seu negócio em Portugal ao grupo belga Ageas, tenha aceite limitações de reentrada no mercado nacional, o que obrigaria a “remediar” a sucursal portuguesa.

A Fidelidade, que “prefere não comentar” sobre o seu eventual interesse, tem muito a ganhar com este negócio. Significaria aumentar, em cerca de 20%, o volume de prémios a nível global e subir para uma quota de mercado mais interessante em Espanha. Se, nesta altura, em Não Vida, seria a 6ª no mercado espanhol por volume de prémios, a Fidelidade passaria para o top 5 e exploraria a expansão internacional para além da América do Sul, onde a Liberty também está a vender os seus negócios através do JP Morgan Chase, por valores semelhantes ao europeu, uma base de mil milhões de euros.

Outra questão que se coloca é que a venda se faça por lotes, separando os mercados espanhol, português e Irlandês. Segundo um gestor de seguros, tudo pode ser feito, mas não é linear, já que a separação dos negócios concentrados na sociedade espanhola, por países, “não é fácil”, comentou.

Por que motivo acontece este Negócio do Ano nos Seguros

Prejuízos elevados causados por catástrofes e a contínua volatilidade dos mercados de investimento conduziram a um prejuízo de 198 milhões de dólares no acumulado Q3 (janeiro e setembro de 2022) da Liberty Mutual Holding Company (LMHC)”, afirmou David H. Long, Presidente e CEO da Liberty, em novembro passado. Long explicou que as perdas em catástrofes foram de 1,4 mil milhões de dólares e, destes, só 835 milhões se deveram ao furacão Ian. No lado dos investimentos, os prejuízos foram de 272 milhões até junho de 2022, reflexo de desvalorização dos ativos nos mercados financeiros.

Em conjunto, o resultado que no acumulado no Q3 de 2021 tinha atingido 2,3 mil milhões positivos, passou, no mesmo período do ano passado, a 198 milhões negativos. O rácio combinado, que indica os resultados do negócio tradicional de subscrição das seguradoras, piorou para 103,2% no Q3 de 2022, subindo de 101,3% no Q3 de 2021. Quanto mais este valor se eleva acima dos 100%, maior o prejuízo, significando que os custos com sinistros e as despesas de funcionamento superam as receitas dos prémios de seguros emitidos. Também os capitais próprios baixaram 7 mil milhões, para 20 mil milhões de dólares, num só ano.

A Liberty Mutual LMHC obteve um volume de negócios de 45 mil milhões de euros no ano de 2021, o triplo de todo o mercado português, sendo uma das maiores seguradoras americanas e mutualista, sendo os segurados também os acionistas. Mas, perante este cenário, os negócios da Liberty na Europa foram, tal como os da América Latina, colocados à venda por valores iniciais indicados de mil milhões de euros cada um.

O que é o negócio europeu da Liberty

Para calcular o valor de uma seguradora é sempre necessário aprofundar a carteira de ativos e passivos. As referências que existem, de 2021, indicam que os prémios emitidos pela Liberty (LIEC) foram 1.266 milhões de euros de prémios emitidos e resultados líquidos de 45 milhões, resultado de um lucro de 97 milhões nos ramos Não Vida (rácio combinado de 95%), de -4,6 milhões no ramo Vida e de -32,8 milhões na conta não técnica. Um múltiplo superior a 20, o que poderá ser muito para as avaliações do mercado, apesar de um valor de capitais próprios de 1.100 milhões de euros ser compatível com a estimativa apontada para a operação.

Na Europa, a Liberty reuniu o seu negócio em Espanha, em 2018, na Liberty International European Holdings, S.L.U. (LIEH). É esta a sociedade que está à venda. Dados oficiais de 2021, os últimos disponíveis, indicam que Espanha, através das marcas Liberty, Génesis e Regal – uma seguradora catalã -, representa 62% dos prémios emitidos pela LIEH, dos quais 66% dizem respeito ao ramo Automóvel, tendo ainda significado seguros Lar com foco nos Multirriscos (21%). Portugal, onde possui uma sucursal e usa como marcas a Liberty e a Génesis, representa 20% do negócio, metade resultante do ramo Automóvel, 15% de Multirriscos e 13% de Acidentes de Trabalho. A Irlanda, também com uma sucursal, representa 14% do total do negócio e o forte é o ramo Automóvel (84%). Finalmente, há ainda pequenas operações em LPS (livre prestação de serviços) no Reino Unido, com Automóvel e Táxis, na Irlanda do Norte, e na Áustria e na Alemanha, com algumas apólices Vida.

A LIEH ainda detém uma participação de 100% Liberty International Brasil Limitada que, através das marcas Liberty e Indiana, emitiu prémios de cerca de 820 milhões de euros em 2021, com pouco lucro, mas não consolida contas em Espanha. Por último, participa em 20% no capital da portuguesa Rede Nacional de Assistência (RNA) onde é parceira da CA Seguros e de profissionais como o seu presidente David Moita.

Embora a concentração europeia de negócios da Liberty em Espanha se ter realizado em 2018, o estabelecimento da seguradora no país aconteceu em 1964. A quota de mercado naquele país, em 2021, era de cerca de 2% nos ramos Não Vida.

Na Irlanda, onde a Liberty entrou em 2011, quando ganhou à Zurich a compra dos principais negócios da Quinn Insurance, terá, neste momento, 7% de quota de mercado nos ramos Não Vida.

Portugal, onde a Liberty está desde 2003, quando adquiriu a seguradora Europeia ao grupo Crédit Suisse, a quota de mercado, em 2022, situou-se nos 3,8% também em Não Vida, mas é a 6ª maior no ramo automóvel, com 6,3% do mercado. Por cá, a empresa comercializa seguros para particulares e empresas, dos ramos Vida e Não Vida, e conta, atualmente, com 533 colaboradores, distribuídos entre a sede, em Lisboa e o Polo Técnico no Porto. A Liberty está presente nas principais cidades existentes em todo o território nacional e ilhas, e conta com mais de 1550 agentes de seguros, que são o seu canal preferencial de distribuição.

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