Desigualdade salarial caiu 22% entre 2006 e 2020

A diferença entre os salários mais elevados e mais baixos caiu ao longo significativamente, mas isso não se traduziu numa subida dos salários reais na mesma proporção. Pelo contrário.

A desigualdade salarial em Portugal está em queda, e está a corrigir tanto para os homens como para as mulheres. Segundo dados publicados esta segunda-feira no Boletim Económico de março do Banco de Portugal, se em 2006 o rácio entre os percentis 90 e 10 era de 4,1, em 2020 esse rácio caiu para 3,2.

Significa que nestes 14 anos, o rácio entre os salários mais elevados e mais baixos caiu 22%. E este encurtamento deve-se fundamentalmente pela subida dos salários mais baixos.

De acordo com o estudo desenvolvido por Sónia Félix, Fernando Martins, Domingos Seward e Marta Silva do Banco de Portugal, enquanto o salário médio do percentil 10 (salários mais baixos) aumentou, em média, 2,5% por ano entre 2006 e 2020, o salário médio do percentil 90 (salários mais elevados) ficou-se por um crescimento médio anual de 0,5%).

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O aumento do salário mínimo foi um dos fatores que mais contribuiu para a alteração da distribuição dos salários“, referem os economistas do Banco de Portugal, notando que depois de um congelamento entre 2011 e o final de 2014, a retribuição mínima mensal garantida aumentou 4,7%, em termos médios anuais entre 2015 e 2020, passando de 505 euros para 635 euros.

Esta realidade ajuda também a explicar porque se assistiu a uma queda mais prenunciada na desigualdade entre os trabalhadores com menos escolaridade do que nos trabalhadores com o ensino superior.

Segundo os investigadores, apesar de o salário real em Portugal ter aumentado a um ritmo médio de 1% entre 2006 e 2020, os trabalhadores com ensino superior e secundário registaram uma queda de 7,7% do salário real.

A pressionar esta perda de poder de compra dos trabalhadores com mais qualificações escolares está um problema de aumento da oferta e de ponto de partida.

  • Oferta: Entre 2006 e 2020, a percentagem de jovens com ensino secundário que entraram no mercado de trabalho passou de 30% para 40%, pressionando a oferta que se traduziu em salários mais baixos. Entre os trabalhadores com ensino superior, o mercado apresentou um perfil estável ao longo do período, mas assistiu-se a um aumento da entrada de jovens com mestrado e a uma redução dos jovens com licenciatura ou bacharelato.
  • Salário inicial: Os investigadores do Banco de Portugal consideram que o perfil salarial ao longo da vida dos trabalhadores é condicionado pelo momento de entrada no mercado de trabalho. Isto significa que quanto maior foi o primeiro salário (que é o caso dos salários dos trabalhadores com ensino superior), maior foi a queda real do salário entre 2014 e 2020. Esta situação ocorre por, além de não estarem expostos ao aumento do salário mínimo, também os salários foram pressionados pela subida da procura de trabalhadores.

Segundo os dados recolhidos pelo Banco de Portugal, em 2020, o salário médio real de entrada destes dos trabalhadores com ensino superior ainda era inferior ao observado entre 2006 e 2010, “embora se observe um perfil ascendente dos salários compatível com um ajustamento gradual da procura de trabalho ao aumento significativo da oferta de trabalhadores com níveis de escolaridade mais elevados”, lê-se no relatório.

A forma encontrada pelos trabalhadores para contornar este comportamento passou por trocar de emprego, provocando assim um choque salarial. Segundo dados do Banco de Portugal, “os indivíduos que mudaram de emprego tiveram no ano da mudança um crescimento salarial médio de 5%, um valor superior ao crescimento salarial médio de 2% observado para os trabalhadores que permaneceram na mesma empresa.

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