“Sou um mero bode expiatório”, diz CEO da TAP

  • Ana Petronilho
  • 4 Abril 2023

A CEO da TAP Christine Ourmières-Widener diz que é "um bode expiatório" no processo de despedimento de Alexandra Reis e assinala o envolvimento do administrador financeiro e do Governo.

A CEO da TAP Christine Ourmières-Widener diz que é “um bode expiatório” em “batalha política” no processo de despedimento de Alexandra Reis. A gestora está a ser ouvida esta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP onde fez uma apresentação com datas e referências que revelam o envolvimento do administrador financeiro, Gonçalo Pires, e do Governo no processo da indemnização.

Audição da Eng.ª Christine Ourmières-Widener, na qualidade de CEO da TAP, na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP - 04ABE23
Audição da Eng.ª Christine Ourmières-Widener, na qualidade de CEO da TAP, na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAPHugo Amaral/ECO

Christine Ourmières-Widener aproveitou ainda para dizer que sentiu que “não houve qualquer respeito por uma executiva sénior” na forma como foi despedida “pela televisão” por Fernando Medina e por João Galamba, ministro que tutelam a TAP, num processo que considera “ilegal”. Até porque, disse a gestora, a Inspeção Geral de Finanças “não apreciou a culpa”.

Além disso, a CEO da TAP frisa que foi despedida há um mês e que continua em funções “sem guidelines, numa altura muito crítica” para a companhia.

Sobre o seu envolvimento no despedimento de Alexandra Reis, a CEO da TAP diz que o seu papel se resumiu a “coordenação” entre os advogados que lideravam o processo e entre o Governo de quem recebeu o aval. “No dia 2 de fevereiro de 2022 […], recebi uma mensagem de Hugo Mendes [então secretário de Estado] a informar que o ministro [Pedro Nuno Santos] autorizou”, e onde pediu que “fechasse o acordo”, afirmou Christine Ourmières-Widener.

Antes dessa aprovação, por mensagem do ex-secretário de Estado e do ex-ministro, a gestora revela no Parlamento, através de uma apresentação, que a 18 de janeiro de 2022 informou Hugo Mendes que queria fazer uma reestruturação na administração da companhia, considerando que Alexandra Reis não tinha o “perfil” para ocupar o novo cargo de de Chief Strategy Officer.

Um dia depois, Christine Ourmières-Widener garante que informou o presidente do conselho de administração, Manuel Beja, e o administrador financeiro, Gonçalo Pires.

Mais tarde, a dia 21 de janeiro de 2022, a ainda presidente da comissão executiva da TAP – que está acompanhada por dois advogados na audição – teve uma reunião com Hugo Mendes via Teams, onde discutiram o assunto. E a dia 25 de janeiro de 2022, por sugestão do Ministério das Infraestruturas, iniciaram as conversas com Alexandra Reis “e ver se a mesma estaria disponível para sair e em que condições”. “Tive essa conversa com Alexandra Reis e ela ficou de pensar”, contou a gestora durante a audição parlamentar.

E três dias depois decorreu uma reunião com Hugo Mendes sobre a evolução das negociações onde o ex-governante pediu à gestora “para averiguar quais os valores que a TAP tinha pago em situações anteriores e pediu-me que eu enviasse essa informação para César Sá Esteves”, o advogado da SRS que assessorou a TAP.

Ao contrário do que disse o administrador financeiro, Christine Ourmières-Widener diz ainda que teve “mais do que uma conversa” e uma “troca de mensagens” com Gonçalo Pires enquanto se chegava a acordo. Mas não confirma se o administrador financeiro tinha conhecimento do valor da indemnização.

“Eu não sabia que não havia coordenação entre o Ministério das Infraestruturas e Habitação e o Ministério das Finanças, tão pouco sabia que o Ministério das Infraestruturas não tinha poder para aprovar este acordo, bem como não sabia que havia um risco legal, naquela altura”, acrescentou Ourmières-Widener.

Audição da Eng.ª Christine Ourmières-Widener, na qualidade de CEO da TAP, na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP - 04ABE23
Audição da Eng.ª Christine Ourmières-Widener, na qualidade de CEO da TAP, na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAPHugo Amaral/ECO

“Pediram-me que me demitisse”

A ainda presidente da comissão executiva disse, em resposta à deputada bloquista Mariana Mortágua, que foi informada que ia ser demitida apenas “durante a conferência de imprensa”.

Mas, depois de consultar os dois advogados que acompanham a CEO à audição, Christine Ourmières-Widener, revelou que teve uma reunião com o ministro das Finanças, um dia antes da conferência de imprensa do Governo onde foram divulgadas as conclusões do relatório da IGF.

Nessa reunião que a gestora diz que foi “muito pesada”, Fernando Medina pediu que Christine Ourmières-Widener se demitisse. “Foi uma reunião muito difícil porque o teor da reunião era bastante triste. Disseram-me que os resultados eram fenomenais e que era a pessoa certa para cargo”, relata a CEO da TAP. Mas, tendo em conta “a pressão de várias partes não havia opção para o Governo se não que travasse o meu mandato”, sobretudo depois da saída do então ministro Pedro Nuno Santos e do secretário de Estado Hugo Mendes.

No entanto, a gestora conta que se recusou a apresentar a demissão e na altura não lhe foi dito que iria ser demitida, garante a presidente da comissão executiva. A presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, admitiu ainda que não esperava “tão alta pressão política” quando entrou na companhia aérea, o que dificultou o seu trabalho e o dos restantes trabalhadores.

“Não estava à espera de tão alta pressão política quando entrei na companhia”, afirmou a ainda presidente executiva da TAP, em resposta ao deputado da IL Bernardo Blanco, na comissão parlamentar de inquérito à transportadora aérea. Christine Oumières-Widener admitiu ainda que aquela pressão não deixou a companhia “concentrar-se no seu negócio”.

Era fácil trabalhar com tanto ruído à volta da companhia? Tem sido muito difícil e ainda é. […] É triste ver que toda a gente quer criticar e garantir que a companhia” não chega a bom porto, afirmou a responsável, sublinhando que tem sido difícil para si e para os trabalhadores da empresa.

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