Aposta da TAP no negócio de manutenção no Brasil foi “fraude enorme”, diz sindicato
O presidente do do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos afirmou que eram pagas faturas inflacionadas pela TAP à antiga Varig Manutenção e Engenharia para suportar a empresa.
Paulo Duarte, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA), afirmou na comissão parlamentar de inquérito que a aposta continuada da TAP no negócio de manutenção e engenharia no Brasil foi uma “fraude enorme”, que envolveu faturas inflacionadas pagas à empresa.
A TAP comprou a Varig Manutenção e Engenharia (VEM) em 2005, era Fernando Pinto o CEO. A empresa brasileira deu sempre prejuízos, obrigando a companhia aérea a contabilizar perdas de mil milhões de euros em 2021 e a avançar para a liquidação.
“Desde o início que andamos a dizer que tinha de se cortar o mal pela raiz. Foi uma fraude enorme e que aportou à TAP mais de mil milhões de prejuízo. Havia faturas de trabalho pagas com custo muito superior ao do valor de mercado. Foi dessa forma que foi transferido dinheiro para o Brasil”, afirmou Paulo Duarte.
“A partir de determinada altura fecharam a torneira de saídas de dinheiro para o Brasil. Foi dada indicação de que não haveria mais transferências. A forma de continuar a haver dinheiro era a prestação de trabalho”, explicou. “A TAP pagou dívidas que a VEM tinha ao Estado Brasileiro. Foi bom para eles, nunca foi para nós”, acrescentou o dirigente do maior sindicato que representa o pessoal de terra da TAP.
Bruno Dias, deputado do PCP, insistiu no tema, questionando se as preocupações tinham sido partilhadas com os sucessivos conselhos de administração e qual a resposta. “A Varig tinha falido. O que nos foi dito é que era importante acompanhar e ver se entrava alguém que pudesse ameaçar a posição da TAP. Houve várias negociatas, não tenho outra forma de dizer isto. Foram criadas empresas, que depois tiveram de ser compradas. Houve muita gente envolvida. O antigo administrador Diogo Lacerda Machado [nomeado pelo PS] sempre defendeu o negócio com unhas e dentes. Se ainda lá estivesse se calhar a VEM ainda estava aberta“, afirmou.
Questionado pela deputada Mariana Mortágua, acrescentou que o empresário “Stanley Ho era um dos interessados que constituiu uma empresa para o negócio da VEM em que a TAP pagava tudo o que ele investiu, com prémio”. Sobre a intervenção de Diogo Lacerda, conhecido por ser amigo de António Costa, disse que “enquanto ele esteve presente na empresa e todas as vezes que falámos sobre este assunto, nunca deu abertura, defendendo que a M&E Brasil era um bom negócio e que não havia outra forma. Era uma inevitabilidade. Se fechássemos íamos ter incidentes diplomáticos”.
“Alertámos o Pedro Marques. A única vez que tivemos um interlocutor sobre esta matéria e que se interessou foi Pedro Nuno Santos“, disse Paulo Duarte, referindo-se aos dois antecessores de João Galamba no Ministério das Infraestruturas.
Novo CEO “não conhece plano de reestruturação da TAP”
Questionado pelo PSD sobre se o atual CEO, Luís Rodrigues, teve conhecimento dos pagamentos à VEM durante a sua primeira passagem pela TAP, Paulo Duarte disse que aqueles aconteceram numa fase posterior. Respondeu também desconhecer as razões para a saída da companhia na altura.
Paulo Duarte revelou que Luís Rodrigues teve esta quarta-feira uma interação com os trabalhadores onde “comunicou que não conhece o plano de reestruturação da TAP”. Questionado pelo PSD sobre se a reunião tinha sido com todos os sindicatos, afirmou que a reunião foi marcada de forma célere e que não esteve presente, não podendo dizer quais os dirigentes sindicais que participaram, sendo que nem todos são trabalhadores da TAP”. Acrescentou que o novo CEO “não se comprometeu com nada”.
Tal como o presidente do SNPVAC, que foi ouvido antes pela comissão de inquérito, o dirigente do SITAVA defendeu o fim dos cortes salariais e a preservação do hub da TAP no aeroporto de Lisboa.
(notícia atualizada às 19h15)
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