Líderes defendem regulamentação na sustentabilidade

  • ECO Seguros
  • 4 Maio 2023

'Sustentabilidade: o novo ADN dos seguros' foi o tema da conferência que juntou os CEO das seguradoras líderes em Portugal Grupo Ageas, Fidelidade e Tranquilidade no novo auditório da Accenture.

Os líderes do Grupo Ageas, Fidelidade e Tranquilidade defendem a criação de mais regulamentação que defina e compare índices de sustentabilidade nas empresas. A união do setor e apoio aos clientes é essencial numa altura em que, reconhecem, a tecnologia está a mudar tudo.

Uma conferência organizada em parceria pela Accenture e pelo ECO juntou os presidentes executivos das maiores companhias de seguros, contando também com a participação de José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores, que representa todas as empresas da indústria seguradora a operar em Portugal.

Após a introdução por Bruno Valério, Vice-presidente da Accenture Portugal, que sumarizou o tema e apresentou as novas instalações da empresa em Lisboa, a conferência teve início com Aida Rodriguez Moral, Managing Director da Accenture, responsável pela área de Sustentabilidade nos serviços financeiros na Iberia, que alertou para a atual polarização da sustentabilidade nas empresas, que se manifesta em eventos recentes como as saídas de seguradoras da Net-Zero Insurance Alliance (NZIA) e a influência abrangente do ChatGPT.

Conferência Accenture: "Sustentabilidade: o novo ADN dos seguros" - 04MAI23
Aída Rodríguez Moral – Managing Director da Accenture, responsável pela área de sustentabilidade nos serviços financeirosHugo Amaral/ECO

A executiva apontou a importância das companhias assumirem papéis de liderança, irem para além dos seus produtos e valorizarem os objetivos de sustentabilidade – o ‘S’ em ‘ESG’ – como uma responsabilidade, incluindo mesmo o capital natural no balanço dos negócios. A necessidade de colaboração com outras companhias e organizações demonstra-se essencial no ponto de vista da especialista, que constatou o que serviu de fio condutor para a discussão que se seguiu: “há uma falha entre o que as pessoas querem fazer e o que elas realmente fazem“. O setor segurador “deve assumir um papel pedagógico” nos ambientes onde se movimenta, defendeu.

Conferência Accenture: "Sustentabilidade: o novo ADN dos seguros" - 04MAI23
José Galamba de Oliveira – Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores.Hugo Amaral/ECO

José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), partilhou que a sustentabilidade é praticamente intrínseca à organização que lidera, que, desde há muito, assumiu o compromisso do setor para trabalhar em alinhamento com os princípios definidos no Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, destacando a importância de desenvolver soluções para a transição energética e digital em direção a objetivos carbono-zero. Mas “esta deve ser uma tarefa conjunta de todos os players“, sublinhou o presidente da APS. “O seguro está no centro do nosso dia-a-dia e o setor tem um papel fundamental, evangelizador“, acrescentou Galamba de Oliveira.

Rogério Campos Henriques, CEO da seguradora Fidelidade, num painel moderado por António Costa, diretor do ECO, reiterou que “o seguro é, por inerência, um ramo que deve estar focado na sustentabilidade”. Sendo uma indústria com uma “pegada pequena”, o foco deve estar em “ajudar, sensibilizando, criando produtos e mobilizando pessoas”, sempre em prol da proatividade. O CEO apontou a importância de “put your money where your mouth is”.

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António Costa, publisher do ECO, moderou um debate com Rogério Campos Henriques, CEO Fidelidade, Pedro Carvalho, CEO da Tranquilidade/Generali e Steven Braekeveldt, CEO do Grupo Ageas Portugal.Hugo Amaral/ECO

Pedro Carvalho, CEO da seguradora Tranquilidade, destacou a sustentabilidade como um dos pilares do grupo Generali e, embora a companhia que lidera tenha já percorrido um “caminho muito longo“, “deu um salto desde que os acionistas propuseram metas tangíveis”, assumindo que “o tempo da transição [para uma sociedade mais sustentável] não é ilimitado“, e que “há um preço a pagar“. As empresas vêm-se pressionadas por acionistas e pelos clientes, lembrou. Assim, na opinião do CEO, é essencial a apresentação de incentivos que motivem as companhias a atingir as metas. “A parte da regulamentação política vai ter um papel importante“, antecipou o CEO da Tranquilidade.

Steven Braekeveldt, CEO do Grupo Ageas Portugal, assumiu-se “culpado por não fazer o suficiente, mas satisfeito com a tomada de consciência” que se está a desenvolver no setor segurador. “A sustentabilidade é um problema de luxo”, afirmou. “Estamos a fazer muito, mas somos limitados por um enquadramento. É tempo de agir“. O líder apontou a transição ambiental como uma “interação complexa”, e que “as empresas devem incentivar o investimento e a contribuição”. O CEO apontou as desigualdades económicas em Portugal, cada vez mais acentuadas, e afirmou: “temos um problema. Todos os economistas sabem que estamos a ir contra uma parede. Um tsunami está a chegar, nós reconhecemo-lo, vemo-lo e, mesmo assim, acabamos por não fazer o suficiente“.

O líder da Ageas continuou: “As desigualdades estão a aumentar em Portugal. O setor da saúde pública está a declinar, a iliteracia financeira mantém-se e estamos a agir dentro de um framework, é por isso que me considero culpado”. O líder intitulou-se mesmo “Steven, o Rebelde”, e defendeu a criação de um “Chief Rebel Officer nas companhias de seguros“.

Rogério Campos Henriques observou que a indústria está a percorrer o caminho da sustentabilidade e que “está a haver uma evolução enorme – mas que podia ir mais rápido“. O CEO valoriza a criação de regulamentação em prol da medição efetiva e da comparação dos avanços na área da sustentabilidade. “A regulação, se funciona como um incentivo, este poderia ser um incentivo muito maior. Deveria haver uma regulação que incentivasse muito mais – reduzindo cargas de capital em algumas atividades”, afirmou o CEO da Fidelidade. “A abordagem proativa tem que ser inteligente. Perceber se no negócio [que apoiamos] há sustentabilidade e incentivar, apoiar as empresas a fazer o seu caminho”, acrescentou.

Steven Braekeveldt concordou que é essencial “ir para além dos modelos de negócio e ter empatia com os clientes para fazer a transição”. O líder Ageas sublinhou: “é uma questão de consciencialização. Como se muda rapidamente? Não se vai converter não-crentes. Isso só se fará através da regulamentação. Esta muda as coisas. Associar números de crescimento a comportamentos regeneradores”, afirmou. Na sua perspetiva, as equipas dedicadas à sustentabilidade, nas empresas, irão tornar-se, de forma rápida, ao longo dos próximos anos, tão importantes como os departamentos financeiros ou comerciais.

Conferência Accenture: "Sustentabilidade: o novo ADN dos seguros" - 04MAI23
Bruno Valério – Vice-presidente da Accenture Portugal, responsável pela área de serviços financeiros, foi anfitrião nas novas instalações da empresa.Hugo Amaral/ECO

KPIs de Sustentabilidade

Segundo Pedro Carvalho, em termos de KPIs aplicados ao tema da sustentabilidade “ainda estamos no faroeste“. O CEO da Tranquilidade apontou que um “exercício de reflexão estratégica e sustentabilidade é central. Hoje já não fazemos MVP das operações mas acesso de ESG. As métricas vão variando e ainda há dificuldade em fazer comparações”.

Para Steven Braekeveldt, o futuro verá um “Tribunal Internacional da Sustentabilidade”, que fará contas com as organizações, à imagem do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. “As pessoas serão julgadas pelas suas ações”, antecipou.

Tecnologia ao serviço da sustentabilidade e dos seguros

“Estamos à beira de uma revolução, e ainda nem conseguimos captar os impactos”. O CEO do Grupo Ageas falava sobre o ChatGPT. “Poderemos fazer perguntas – sobre determinados produtos – e obter respostas, mas estas nem sempre são verdadeiras”.

O líder falou sobre o impacto da tecnologia nos preços e no negócio segurador. “Quando a cirurgia robótica for comum, esta será muito mais barata”. O CEO mencionou o que acredita representar o futuro da tecnologia: “implantes, rejuvenescimento, impressão de órgãos – o nosso negócio pode mesmo ser um seguro de implantes. Nós [setor dos seguros] estamos envolvidos em tudo isto“.

Pedro Carvalho assegurou que a tecnologia vai “afetar a atividade core e vai mudar a vida dos clientes, pessoas e empresas”. O líder prevê “riscos diferentes, com muitas oportunidades de mitigação e também novos riscos“.

Rogério Campos Henriques sublinhou a importância da tecnologia como um driver de mudança. O CEO apontou o papel central da captura de dados. “Hoje trabalhamos ainda com base em estimativas, no futuro iremos tratar dados reais“.

O CEO da Ages propôs uma postura de colaboração radical na indústria dos seguros, que deverá estar orientada para a prevenção. “É um objetivo comum. Não há competição”, sublinhou. O CEO da Tranquilidade apontou ainda que – embora não seja do conhecimento geral – as seguradoras já colaboram em muitos pontos comuns através de, entre outros fatores, atividades com a APS.

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