Banco de Portugal alerta para incumprimento nas famílias mais vulneráveis

Prestação da casa continuará a subir até setembro. Supervisor recomenda aos bancos que aproveitem a melhoria dos seus resultados para "adequar as condições dos empréstimos" à capacidade das famílias.

De acordo com o Banco de Portugal, “os riscos para a estabilidade financeira mantiveram-se elevados” nos últimos meses, num contexto de subida dos juros e alta inflação, a que se associou a turbulência provocada pela queda de bancos regionais no EUA e pelo tombo do Credit Suisse. Dentro deste ambiente tenso, que poderá levar a um aumento da taxa de desemprego, o supervisor alerta para o “potencial incumprimento das famílias mais vulneráveis”. E deixa uma recomendação aos bancos para aproveitarem a melhoria dos resultados para responderem à pressão dos seus clientes.

“Dada a elevada proporção de empréstimos à habitação com taxa variável, a subida das taxas de juro traduz-se num aumento dos encargos com a dívida no curto prazo, aumentando o risco de crédito das famílias”, explica a instituição no Relatório da Estabilidade Financeira publicado esta quarta-feira.

As prestações da vão continuar a subir até setembro de 2023, “ainda que mais acentuado para os empréstimos indexados à Euribor a 12 meses e mais moderado nos indexantes com prazos inferiores, sobretudo no caso da Euribor a 3 meses”, antecipa o Banco de Portugal, adiantando que cerca de 50% dos contratos em vigor já tiveram em algum momento passado um valor de indexante mais elevado que o esperado para vigorar em dezembro de 2023.

O Banco de Portugal dá conta de fatores que podem ajudar a aliviar a pressão sobre as famílias. Por um lado, estão menos endividadas do que a média da Zona Euro, sendo que o crédito à habitação está concentrado em “famílias com rendimentos mais elevados”, logo, mais resistentes a eventuais choques.

Por outro lado, não há sinais de deterioração do mercado de trabalho, dada a “situação de escassez de mão-de-obra”. Adicionalmente, o Governo deu uma ajuda com várias medidas de apoio às famílias, incluindo de “suporte às prestações do crédito”, lembra ainda o supervisor liderado por Mário Centeno.

Em jeito de recomendação, o Banco de Portugal sugere aos bancos que “aproveitem a melhoria do contexto económico e financeiro para adequar as condições dos empréstimos à capacidade de pagamento dos clientes“.

“Espera-se também que mantenham políticas prudentes de constituição de imparidades e de conservação de capital, que permitam aumentar a sua capacidade de absorver perdas e de financiar a economia”, frisa.

O Banco de Portugal deixa um aviso sobre o “arrefecimento do mercado imobiliário residencial, com impacto sobre os preços [dos imóveis] e sobre o colateral de créditos garantidos por imóveis”. “A subida das taxas de juro contribuirá para a desaceleração dos preços no mercado imobiliário residencial em Portugal”, sublinha o regulador, notando, de resto, que o final do ano passado já teve um abrandamento dos preços da habitação e das transações neste mercado.

Em todo o caso, “mesmo na hipótese de uma queda de preços mais significativa, (…) o sistema bancário não deverá incorrer em perdas elevadas”, ressalva o Banco de Portugal.

(Notícia atualizada às 15h19)

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