Porque é que preferimos taxa variável? Taxa fixa é mais cara “no imediato”

Nove em dez contratos da casa têm taxa variável. Famílias não querem fixar taxa porque é mais cara no imediato e preferem acreditar na possibilidade de os juros descerem.

Em Portugal, 90% dos contratos de empréstimos para a compra de casa têm taxa variável, o que significa que apenas uma pequena parte das famílias fixaram a taxa do seu crédito à habitação. Estes valores comparam com a média de 41% de contratos com taxa fixa na Zona Euro. Porque é que não contratamos com taxa fixa? Há menos oferta da parte dos bancos. Mas também porque é mais caro no imediato para as famílias, que preferem acreditar que os juros vão descer.

A questão da fixação da taxa ganhou maior relevância nos últimos meses, perante a subida dos juros de forma preocupante para milhares de famílias que estão a sentir um maior aperto financeiro perante o aumento da prestação da casa. Ainda assim, Portugal continua a ser um país em que grande parte dos contratos tem taxa variável. Porquê?

“O principal desincentivo à procura de empréstimos com um período de fixação da taxa de juro é o seu maior preço no imediato face aos empréstimos com taxa variável”, refere o Banco de Portugal com base num questionário que fez às principais instituições financeiras.

As famílias “não estão disponíveis para pagar o prémio associado à maior segurança da contratação a taxa fixa”, acrescenta o supervisor no Relatório de Estabilidade Financeira publicado esta quarta-feira.

Por outro lado, o longo período de taxas de juro muito baixas que tivemos na década passada – que atirou os indexantes Euribor para território negativo — ajudou a cristalizar a ideia junto das famílias de que podiam tirar partido da taxa variável e beneficiar de prestações da casa mais baixas.

“A perceção de que a taxa variável pode descer enquanto a taxa fixa não, associada ao prolongamento do período de taxas de juro muito baixas, levou à redução da probabilidade atribuída à ocorrência de cenários de taxas de juro mais elevadas, favorecendo assim a contratação de crédito com taxa de juro variável”, explica o Banco de Portugal.

Desde o final de 2021 que esta ideia saiu furada, perante a subida galopante das Euribor, usadas no cálculo da prestação da casa, em antecipação ao aperto monetário do Banco Central Europeu (BCE) para controlar a inflação.

A taxa a seis meses – a mais utilizada em Portugal – disparou para 3,6% quando há menos de um ano estava com valores negativos.

De acordo com o Banco de Portugal, entre 2011 e 2022, nove em cada dez empréstimos à habitação tiveram taxa variável e apenas um teve taxa fixa. Este número pouco se alterou no ano passado. Dentro dos países analisados, só a Finlândia tem valores mais elevados, com 98% das famílias a optarem por taxa variável. Do lado oposto, os franceses são os maiores adeptos da taxa fixa: no ano passado, fixaram a taxa em 90% dos empréstimos da casa.

Recentemente, o Governo português avançou com a obrigatoriedade de os bancos terem uma oferta de taxa fixa. Em 2022, 60% das instituições inquiridas pelo Banco de Portugal contrataram crédito à habitação com taxa fixa e 70% concederam-no com taxa mista.

As instituições financeiras destacaram que o custo e a disponibilidade da cobertura do risco de taxa de juro (impactada pelo risco do soberano) e as perdas líquidas que possam afetar os resultados são os principais fatores que condicionam a oferta de taxa fixa ou mista.

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