“Costela” de inteligência artificial da portuense Smartwatt dá origem à Enlitia

Autora dos planos de eficiência energética de gigantes como a EDP, Galp, CTT ou CGD, a área de inteligência artificial da Smartwatt deu origem à Enlitia. Perspetiva é "duplicar" negócio.

A área de data e inteligência artificial da portuense Smartwatt emancipou-se e ganhou nome próprio. A Enlitia apresenta-se este sábado ao mercado como um “ecossistema único de algoritmos” que tem como objetivo maximizar e rentabilizar a produção, consumo e distribuição de energia renovável em Portugal, com base nos dados produzidos pelos seus clientes.

“A separação dá-se por dois motivos: uma vertente é focada na descarbonização da indústria tradicional e dos grandes consumidores, que é a atividade da Smartwatt. E a outra vertente está ligada à inteligência artificial, que procura encontrar e tirar valor dos dados e trazer maior rentabilidade às renováveis, seja no caso de produtores ou distribuidores”, explica ao Capital Verde Jorge Araújo, CEO da Smartwatt.

Por outras palavras, a empresa, que está há 15 anos no mercado dos serviços de energia, fica agora somente focada em ajudar a sua carteira de clientes, na sua maioria, detentores ou gestores de ativos solares e eólicos, a concretizar os seus processos de transição energética e descarbonização. Este portefólio é composto por empresas como a REN, E-Redes, EDP, Endesa, Galp, Finerge e Iberdrola no setor da energia; Bosch no setor automóvel; os CTT e Caixa Geral de Depósitos no setor da banca e distribuição; a Ramirez e a Poveira na indústria das conservas; a Bel e a Lactogal nos laticínios; assim comoa Lusiaves e a Soja de Portugal.

Já a Enlitia trabalhará os dados gerados por estes clientes, tarefa que, até agora, era da responsabilidade da Smartwatt Intelligence. Direcionada para a produção de energia solar e eólica, a nova plataforma permitirá perceber o estado dos ativos renováveis em tempo real, e acompanhar a sua evolução para os dias que se seguem, permitindo fazer uma previsão dos níveis de produção, consumo e distribuição (se for o caso) dessa energia. Na prática, o que acontece é que, através dos dados, é retirada informação para otimizar a rentabilidade dos ativos. Pretende-se, por exemplo, que determinado ativo produza mais tempo, ou reduza a necessidade de manutenção, bem como os consumos e os custos com a energia.

“Os algoritmos da tecnológica trabalham em conjunto para criar uma nova dimensão de informação valiosa e preciosa, permitindo que a produção de energia se torne mais eficiente e sustentável”, explica o CEO da Smartwatt ao Capital Verde. À frente do leme da nova tecnológica estará Tiago Santos, antigo diretor de intelligence da empresa.

“Muitas empresas estão habituadas a gerir ativos e não estão a explorar o valor de mercado que produzem. A nossa grande diferenciação é que queremos mostrar às empresas como usar os dados que têm para rentabilizar todo o processo“, revela ao Capital Verde Tiago Santos, acrescentando que a estratégia “é um win-win-win” para todos os envolvidos. “É bom para nós, para as empresas e para as pessoas”, aponta.

2023 será ano de crescimento para duas empresas

Com esta cisão — operação que contou com um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros — as perspetivas são de crescimento, tanto para a Enlitia como para a Smartwatt. Em 2022, a empresa do Porto fechou o ano com 6,7 milhões de euros em volume de negócios, sendo que parte desse valor (um milhão de euros) foi gerado pela área de intelligence da empresa.

O crescimento dos últimos dois anos da Smartwatt é, em parte, sustentado pela atenção que setor empresarial tem dado às matérias ligadas à descarbonização e à transição energética, revela Jorge Araújo. Durante esse período, a empresa cresceu, em média, 75%, passando a contar com mais de 200 clientes distribuídos por 11 países.

“Há um enorme investimento a ser feito depois da guerra na Ucrânia e com os aumentos brutais da energia. As empresas estão a fazer investimentos muito fortes e de forma antecipada, e queremos acompanhar esse crescimento“, frisa o CEO da Smartwatt.

Desde o início da atividade da Smartwatt (incluindo a área dedicada à inteligência artificial), a empresa já desenvolveu mais de 150 planos de eficiência energética para os seus clientes que, por sua vez, resultaram em 23 milhões de euros em poupanças e uma redução de 22% nas emissões de dióxido de carbono, tendo sido evitadas 132 mil toneladas de CO2. Com estes planos, os clientes da Smartwatt produziram mais de 100 gigawatts/hora de energia renovável de forma eficiente — o suficiente, estimam, para alimentar mais de 31.250 habitações anualmente.

"2023 vai ser um ano em que duplicaremos em todas as frentes. No volume de negócios, na produtividade, nas pessoas e nos clientes.”

José Araújo, CEOda Smartwatt

Agora, o foco está em concretizar o rollout da Enlitia, estratégia que irá acelerar o crescimento da empresa-mãe. “2023 vai ser um ano em que duplicaremos em todas as frentes. No volume de negócios, na produtividade, nas pessoas e nos clientes“, garante José Araújo, frisando ter também os olhos postos na expansão do negócio fora de Portugal depois de ter chegado a países como Espanha, Itália e Alemanha.

“Já fazemos este caminho internacional há um ano e meio. O objetivo será explorar estes mercados, em que incluímos ainda o Reino Unido, onde já começámos as conversas para essa expansão, mas onde ainda não estamos presentes“, revela ao Capital Verde Tiago Santos, adiantando que, a médio prazo, pretendem chegar, também, aos Estados Unidos e América Latina. Para tal, contarão com a ajuda dos seus clientes já internacionalizados.

“Muitos dos nossos clientes já são eles próprios internacionais, portanto, na prática, já temos produtos e serviços dentro e fora da Europa”, considera José Araújo.

Smartwatt e Enlitia “piscam o olho” ao hidrogénio e offshore

À medida que Portugal acolhe e testemunha o desenvolvimento de novas energias renováveis, abrem-se novas oportunidades para as energéticas e para a Smartwatt e a Enlitia, cujos modelos de negócio são, até ao momento, focados em acompanhar a produção de energia eólica e solar.

Jorge Araújo frisa que as duas empresas “estão atentas aos desenvolvimentos” ligados ao hidrogénio, principalmente por terem clientes “que já estão a fazer investimentos nessa área”, talcomo havia avançado ao Capital Verde em 2022. Para já, esta porta mantém-se aberta.

“Não temos um negócio ou solução em concreto, até porque tudo o que está à volta do hidrogénio é ainda muito incipiente”, indica o responsável. Para o CEO, “ainda há muito caminho a percorrer” nesta matéria, diz, mas garante que a Smartwatt e Enlitia vão estar preparadas assim que o tempo ditar. “O timing nestas áreas mais inovadoras é fundamental e o timing ainda não é hoje”, refere.

O mesmo se aplica à energia eólica sobre o mar, uma vez que, explica Tiago Santos, parte dos clientes do portefólio “serão, provavelmente, os mesmos a apostar nesta energia”. Até ao final do ano, o Governo pretende lançar o primeiro leilão dedicado às energias eólicas offshore, perspetivando a instalação de 10 GW de potência, até 2030. A primeira fase concorrencial deverá colocar em licitação até 2 GW, distribuídos por quatro lotes no centro e norte do país.

Temos acompanhado com eles todo o processo, identificado os possíveis desafios, o que terá de mudar nos algoritmos e plataformas“, detalha o CEO da Enlitia, frisando, que apesar de ainda ser “um mercado que se está a iniciar”, “assim que for necessário iremos integrar as ferramentas a este novo mundo”.

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