BRANDS' ECO Ciclo de Conversas #5 – O Envolvimento da Comunidade

  • BRANDS' ECO
  • 22 Junho 2023

A quinta sessão do "Ciclo de Conversas - Rumo à Neutralidade Carbónica 2030", organizada pela CM Porto, teve como tema "O Envolvimento da Comunidade". O evento decorreu no Porto Innovation Hub.

O “Ciclo de Conversas – Rumo à Neutralidade Carbónica 2030” é uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal do Porto, que conta com 10 sessões de esclarecimento e debate relacionadas com os temas da sustentabilidade, descarbonização e transição climática no contexto da neutralidade carbónica das cidades. A quinta sessão aconteceu na passada quinta-feira, dia 15 de junho, no Porto Innovation Hub, e teve como tema a “O Envolvimento da Comunidade”.

Daniel Freitas, Diretor para a Neutralidade Carbónica do Porto, foi o moderador do evento, que contou com a presença de Ana Gabriela Cabilhas, Presidente da Federação Académica do Porto; Helena Silva, Diretora Executiva da Vintage for a Cause, e João Leão, Co-fundador do VIVALab.

Cada um dos oradores teve direito a uma intervenção, seguida de um espaço de debate e de esclarecimento com o público presente.

A sessão começou com uma entrega de prémios às organizações das barraquinhas que se distinguiram em termos de sustentabilidade ambiental na Queima das Fitas do Porto de 2023. Estes prémios foram atribuídos no âmbito do Concurso de Reciclagem e do Prémio Barraquinha + Friendly.

O Concurso de Reciclagem, promovido pela FAP em parceria com a LIPOR e com a Porto Ambiente, premiou as duas Associações de Estudantes que antes da Queima das Fitas do Porto, conseguiram promover, junto da comunidade, a maior recolha de resíduos seletivos até ao período da Queima. Em primeiro lugar, com 2049kg de resíduos recolhidos, ficou a Associação de Estudantes do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (AEISCAP) e, em segundo lugar, com 1760kg, ficou a Associação de Estudantes da Universidade Portucalense (AEUPT). O 1º prémio foi entregue pelo Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo.

Já o Prémio Barraquinha + Friendly, que premeia as barraquinhas que tenham contribuído para a recolha de resíduos no próprio recinto e tenham tido um papel relevante na sensibilização e prevenção de comportamentos de risco durante o evento, foi atribuído à Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (AEFPCEUP).

“Há um papel muito relevante das pessoas na forma como querem mudar o planeta e na forma como querem garantir que há um impacto cada vez menor em termos do ecossistema“, afirmou Daniel Freitas na abertura da sessão, após a entrega destes prémios.

O papel da FAP e da comunidade estudantil na sustentabilidade

A primeira intervenção deste Ciclo de Conversas ficou a cargo de Ana Gabriela Cabilhas, Presidente da Federação Académica do Porto, que começou por dizer: “Nós temos, por um lado, um envolvimento com os nossos associados – as diversas associações de estudantes da Academia do Porto – que nos ajudam a multiplicar as diversas atividades nas várias instituições, e, por outro lado, um envolvimento direto com a nossa comunidade estudantil. Temos, portanto, dois grandes ângulos de atuação”.

No ano passado decorreu o Ano Europeu da Juventude que trouxe, precisamente, o tema da ação climática para o centro da discussão com a juventude. E, para lá disso, no âmbito das ações que a FAP desenvolve na sua atividade quotidiana (como é o caso dos Centros comunitários da FAP no Bairro – dois centros que promovem projetos de voluntariado com comunidades desfavorecidas da cidade do Porto), tem promovido ações de sensibilização ambiental ou atividades mais específicas como é o caso da recolha de lixo nas praias.

“Em 2018, a FAP foi a primeira estrutura estudantil e a Queima das Fitas do Porto o primeiro evento académico a usar o selo verde. Mas, de há uns anos para cá, temos um conjunto de desafios no acesso a este financiamento, uma vez que o prazo de candidaturas não está alinhado com a Queima das Fitas e, por isso, acaba por estar só circunscrito a eventos e festivais que decorram no período do verão e o nosso evento decorre no mês de maio”, alertou a presidente da FAP.

A responsável acrescentou, ainda, que um evento como a Queima das Fitas do Porto “tem um impacto na produção de gases com efeito de estufa e na produção de resíduos” e, por essa razão, foi importante o lançamento do Pacto da Queima das Fitas do Porto para o Clima, um compromisso holístico de responsabilidades e exigências ambientais que envolve os estudantes, os parceiros e fornecedores da Queima das Fitas.

De forma a conseguir estar alinhada com essas responsabilidades, Ana Gabriela Cabilhas destacou algumas medidas implementadas pela FAP nesse sentido, tais como o acesso aos transportes públicos e a sua gratuitidade, a facilitação de mapas e horários, os descontos com a CP e, ainda, o desincentivo do uso do carro particular, suprimindo o estacionamento.

Outras medidas estão relacionadas com a gestão de eficiência energética, a priorização do uso de produtos ecológicos em todo o recinto, a transição das casas de banho químicas para sanitários com ligação ao saneamento do recinto e o reaproveitamento das águas da chuva para este mesmo efeito. “Ainda neste âmbito, também implementaram um sistema de reciclagem em cada barraquinha, que tinha sacos para a sua reciclagem e, no final de cada noite, tinham que voltar a vir depositar os seus resíduos e este acompanhamento era feito por uma comissão ambiental com estudantes voluntários para este efeito, apoiados pela Porto Ambiente“, disse.

A eliminação do plástico não reutilizável, a implementação de copos reutilizáveis, a desmaterialização dos bilhetes e postos físicos das bilheteiras e a sensibilização ambiental foram outras das medidas destacadas pela responsável, que resultaram numa reciclagem de cerca de 70% dos resíduos gerados.

Reutilização de produtos e reciclagem de plástico

Neste Ciclo de Conversas houve, ainda, oportunidade de se conhecer o projeto VIVALab, que se trata de um laboratório de fabricação digital no Porto que pertence a uma rede que tem mais de 2000 fablabs espalhados pelo mundo.

“Como é que as cidades do futuro vão existir? Queremos cidades localmente produtivas, globalmente conectadas. E o que é que isto significa? Quando nós temos este tipo de laboratórios espalhados pelo mundo, em que por base temos o mesmo tipo de máquinas, aquilo que eu desenho no Porto, eu posso continuar noutros lugares“, explicou João Leão, Co-fundador do VIVALab.

Na sua intervenção, João Leão apresentou três projetos comunitários desenvolvidos pelo laboratório. Entre eles, está o Makers vs Covid, um projeto desenvolvido em parceria com o Hospital de Santo António, o Hospital de São João e a Câmara do Porto. “Este projeto aconteceu porque percebemos que mais de 20% dos profissionais de saúde que estavam a ficar infetados era porque não tinham acesso a EPIs. Então, o VIVALab conseguiu, em menos de uma semana, fabricar os EPIs que eles necessitavam. Como fizemos isto? Com manufatura distribuída. Tínhamos 24 costureiras em casa, 12 makers com impressoras 3D espalhadas pela cidade que imprimiam as hastes dos óculos e, depois, dentro do VIVALab, fazíamos a montagem e distribuição juntamente com a Câmara do Porto”.

“Também temos o Repair Café, que é uma iniciativa que visa proporcionar um espaço para as pessoas poderem reparar qualquer objeto. Há uma rede de instituições da cidade que se juntam nesse sentido para ensinar as pessoas a repararem os seus computadores, por exemplo, mas também outro tipo de objetos. Por fim, temos ainda o projeto Precious Plastic que, como a ajuda de quatro máquinas que podem ser construídas por qualquer pessoa, recicla o plástico a nível local. Ao todo, já reciclamos mais de uma tonelada“, acrescentou.

Este espaço é, sobretudo, um espaço de portas abertas à comunidade e a público de todas as idades. A versatilidade dos projetos e o seu trabalho em torno da reparabilidade e reutilização são determinantes para fidelizar visitantes que depois podem transformar em agentes ativos e contribuidores da comunidade de fabricação digital.

A moda também pode ser sustentável

A última intervenção do evento esteve a cargo de Helena Silva, Diretora Executiva da Vintage for a Cause, na qual apresentou o seu negócio – Vintage for a Cause – como sendo um “negócio social”, uma vez que promove o bem-estar das pessoas, quer pelo contributo ambiental, quer pela captação de talento normalmente desvalorizado.

Cerca de 200 toneladas de resíduos de roupa vão para o lixo em Portugal e só 1% é que está reciclado. Nós sinalizamos os resíduos, que encaramos como recursos na fase pré-consumo, escolhemos empresas têxteis que tenham um propósito alinhado ao nosso e compramos o desperdício ao quilo. Depois desenvolvemos roupa com um design intemporal, que cocriamos em colaboração com designers nacionais e internacionais“, explicou a responsável da Vintage for a Cause.

A ideia deste negócio é, então, reaproveitar o “stock morto” das empresas e, com ele, desenvolver novas peças que, na verdade, são reaproveitadas e sustentáveis. Isto porque não é necessário produzir mais tecido e todo o processo associado ao mesmo, que provoca vários gases de efeito de estufa e impactos ambientais.

Todas as peças do “stock morto” são depois entregues a costureiras senior, com mais de 50 anos e fora da vida ativa, criando um propósito muito interessante junto desta comunidade, capaz de gerar impacto dentro e fora da mesma. “Depois vendemos as novas peças a uma comunidade crescente de consumidores que são mais exigentes e criteriosos no que compram“, concluiu.

Pode, ainda, ouvir a conferência em podcast, aqui:

A sexta sessão do Ciclo de Conversas, dedicada ao tema “O sequestro de carbono”, decorre hoje, às 18 horas, no Porto Innovation Hub.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Ciclo de Conversas #5 – O Envolvimento da Comunidade

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião