“Inflação está a demorar demasiado tempo” a baixar, avisa em Sintra a número dois do FMI
Vice-diretora do FMI avisou em Sintra que inflação está a ser mais persistente do que o esperado e alertou que os governos devem "poupar" a receita extra que estão a conseguir com a subida de preços.
A vice-diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, alertou esta segunda-feira, num discurso em Sintra, que “a inflação está a demorar demasiado tempo” a regressar às metas definidas pelos bancos centrais. A economista aconselhou ainda os governos da Zona Euro a pouparem a receita extra que resultar da subida dos preços.
A responsável, que ocupa o cargo desde 2021, falava num discurso inserido no jantar de abertura do fórum anual do Banco Central Europeu (BCE), um evento que traz a Portugal esta semana alguns dos principais banqueiros centrais, economistas e académicos internacionais. A conferência termina quarta-feira.
Referindo-se a “verdades desconfortáveis” com que se confronta a política monetária ao nível internacional, Gita Gopinath afirmou também que o BCE “deve continuar comprometido em combater a inflação” na Zona Euro mesmo se, com isso, correr o risco de prejudicar o andamento da economia. Além disso, os bancos centrais deverão continuar a sentir mais pressões inflacionistas do que antes da pandemia, defendeu.
É absolutamente crítico para os governos da Zona Euro que resistam a qualquer tentação de diluir a redução do défice que está atualmente projetada nas suas políticas.
Economia só travou de forma “modesta”
No discurso, a número dois do FMI notou que os mercados financeiros “estão particularmente otimistas”, antevendo que a inflação irá aliviar para “níveis próximos da meta de forma relativamente rápida”. Todavia, existem fatores que poderão levar a que a subida dos preços seja domada mais tarde do que o esperado pelos investidores.
Apesar do alívio da taxa de inflação homóloga a que se tem assistido nos países da Zona Euro, e que está relacionado com o efeito de base e com a quebra nos preços da energia, Gita Gopinath apontou para outros fatores que ajudam a entender porque é que a inflação se tem mostrado bastante persistente: a responsável notou que, apesar da maior subida de juros da história do BCE, a economia só desacelerou de forma “modesta” e a taxa de desemprego continua em “mínimos históricos”.
Com efeito, o mercado de trabalho resiliente, as famílias com poupanças ainda do tempo da Covid-19 e a procura por bens e serviços em níveis elevados são fatores que explicam porque é que os preços continuam a subir a um ritmo acima do desejado por todos, explicou a economista.
Em Sintra, Gita Gopinath deixou ainda uma mensagem aos responsáveis pela política orçamental: “No mínimo, é absolutamente crítico para os governos da Zona Euro que resistam a qualquer tentação de diluir a redução do défice que está atualmente projetada nas suas políticas.” Se forem precisos apoios, devem ser “bem direcionados”, ao invés de atribuídos de forma mais generalizada, recomendou.
Quanto à receita fiscal extraordinária obtida pelos países com os preços mais elevados na economia, essa “deve ser poupada”, considerou Gita Gopinath. Em simultâneo, os bancos também devem “poupar” os “lucros recorde” — que são “temporários”, avisou –, reforçando as respetivas almofadas de capital.
Pelo contrário, se, porventura, as economias acabarem por tolerar uma inflação elevada por demasiado tempo, alimentando as expectativas de inflação dos agentes económicos e alterando as dinâmicas inflacionistas, “os custos de combater a inflação” serão “significativamente maiores”, alertou a vice do FMI.
Depois do jantar desta segunda-feira, o Fórum BCE inicia a agenda de trabalhos às 9h00 desta terça-feira, com um discurso introdutório da presidente do BCE, Christine Lagarde. Estão previstos painéis sobre os choques na oferta, os custos da inflação e mudanças estruturais nos mercados energéticos. A agenda completa foi disponibilizada no site oficial do banco central.
(Notícia atualizada pela última vez às 21h01)
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