Sem vontade de fazer oposição interna, mas de olho na liderança. O regresso de Pedro Nuno Santos ao Parlamento
Pedro Nuno Santos volta a ocupar esta terça-feira o cargo de deputado, com a "discrição" e a "calma" de quem tem os olhos postos na sucessão de António Costa à frente do PS.
Pedro Nuno Santos volta a sentar-se na bancada parlamentar do PS, mais de seis meses depois de se ter demitido do Governo. Não vem para fazer oposição interna, mas vai preparar o caminho para liderar o partido quando António Costa sair. Seja em 2024 ou 2026.
O antigo ministro das Infraestruturas e Habitação pediu a suspensão do mandato de deputado a 4 de janeiro, dias depois de se demitir do Governo na sequência do caso da indemnização de 500 mil euros brutos atribuída a Alexandra Reis, antiga administradora executiva da TAP. Regressa seis meses depois, esgotando o prazo máximo de suspensão que um deputado pode usar por legislatura.
Ao que o ECO apurou junto de fonte próxima do antigo governante, Pedro Nuno Santos não irá procurar o protagonismo no Parlamento, preferindo a “discrição”, nem irá “fazer oposição interna ao partido”, apesar de enquanto deputado estar “mais livre” para exprimir as suas opiniões.
Vou vendo muitas leituras sobre a minha relação com o primeiro-ministro e o ministro das Finanças. Nunca senti falta de solidariedade do primeiro-ministro.
Foi já essa atitude conciliadora que se viu na audição na CPI à TAP, em que o antigo ministro deu quase sempre cobertura aos colegas de partido envolvidos na polémica e evitou o confronto. Não deu, por exemplo, azo a divergências com António Costa. “Tinha e tenho uma boa relação com o primeiro-ministro. Vou vendo muitas leituras sobre a minha relação com o primeiro-ministro e o ministro das Finanças. Nunca senti falta de solidariedade do primeiro-ministro“, afirmou há pouco mais de duas semanas.
No Parlamento, Pedro Nuno Santos evitará as áreas que tutelou, como noticiou o Observador: habitação, infraestruturas ou temas como a TAP e o novo aeroporto de Lisboa. A responsabilidade anterior nos dossiês desaconselha que seja ele a assumir o protagonismo nestas matérias ou a interpelar o Governo no plenário ou na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação.
O Pedro Nuno faz parte da nossa equipa, fazia parte da nossa equipa no Governo e agora faz parte da nossa equipa no Parlamento. Tem as suas opiniões, como outros deputados têm as suas opiniões.
Eurico Brilhantes Dias, líder parlamentar do PS, recusou na semana passada, em entrevista à TSF, que Pedro Nuno Santos possa criar problemas à direção da bancada, dizendo que “essas especulações acabam por condicionar a atividade política” do ex-ministro. “O Pedro Nuno faz parte da nossa equipa, fazia parte da nossa equipa no Governo e agora faz parte da nossa equipa no Parlamento. Tem as suas opiniões, como outros deputados têm as suas opiniões. Nunca acreditei que o PS fosse mais forte por ser monotemático e com mono-opinião”, afirmou.
Dado que a sessão legislativa termina no final do mês, a designação de Pedro Nuno Santos para as comissões poderá acontecer só em setembro. Rosa Venâncio, a deputada por Aveiro que ocupou o seu lugar enquanto esteve no Governo e que agora deixa o Parlamento, era efetiva na Comissão de Educação e Ciência e na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão.
De olho em 2026. Ou será 2024?
O palco principal do antigo ministro será outro: o comentário semanal que fará a partir de setembro na SIC Notícias, em data ainda a definir. Será um espaço só seu, à semelhança do que tem José Miguel Júdice no canal da Impresa, onde acabará por ter maior liberdade para expor a sua visão.
Pedro Nuno Santos voltará “com calma” e para cumprir o mandato de deputado até ao fim, afirma a mesma fonte ao ECO, porque a o próximo desafio é uma corrida de fundo: suceder a António Costa na liderança do PS. O calendário normal será 2026, quando termina a atual legislatura, embora na já citada entrevista Eurico Brilhante Dias avise que a vontade de António Costa querer continuar não deva ser excluída.
Também pode ser mais cedo. Nas últimas semanas, voltou a falar-se com insistência da possibilidade de o primeiro-ministro sair após a eleições europeias, agendadas para junho de 2024, para assumir um cargo europeu. O próprio voltou recentemente a rejeitar essa hipótese. “Sou o garante da estabilidade. Já expliquei a todos que não aceitarei uma missão que ponha em causa a estabilidade em Portugal. Alguma vez eu poria em causa a estabilidade que tão dificilmente conquistei?”, respondeu ao Público.
Pedro Nuno Santos, que foi deputado em duas legislaturas antes de integrar o primeiro Governo de António Costa como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, regressa à Assembleia da República numa altura em que a CPI à TAP voltará a centrar as atenções, com a discussão e votação do relatório final, prevista para 13 de julho. O antigo ministro das Infraestruturas reconheceu na sua audição que a saída de Alexandra Reis da administração da TAP foi “um processo que correu mal”, mas que assumiu as suas responsabilidades demitindo-se, “a punição máxima”.
Segundo a súmula da última reunião da conferência de líderes, noticiada pela Lusa, deverá ser agendada para 19 de julho a apreciação do relatório da CPI no plenário. No dia seguinte, realiza-se o debate do Estado da Nação. Pedro Nuno Santos não deverá intervir em nenhum deles, como manda a “discrição”.
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