Navio polémico acolhe primeiros requerentes de asilo no Reino Unido

  • Joana Abrantes Gomes e Lusa
  • 8 Agosto 2023

Embarcação atracada em Portland faz parte dos planos do governo britânico para receber até meio milhar de migrantes enquanto aguardam pelo resultado dos seus pedidos de asilo.

Cerca de 500 homens solteiros, com idades entre os 18 e os 65 anos, vão ser transferidos para o “Bibby Stockholm”, uma embarcação de três andares e 222 quartos, atracada no porto de Portland, em Dorset, no sudoeste de Inglaterra. O navio que será a casa destes imigrantes enquanto aguardam pelo resultado do seu pedido de asilo faz parte dos planos do Governo britânico para reduzir as travessias de migrantes que cruzam o Canal da Mancha.

A BBC avançou que, ao longo da semana, seriam alojadas as primeiras 50 pessoas, mas a organização não-governamental (ONG) de apoio aos refugiados Care4Calais indicou esta terça-feira que impediu que 20 pessoas fossem transferidas para a embarcação. Até agora, apenas 15 requerentes de asilo foram transferidos.

2022 foi um ano de recorde de chegadas ao Reino Unido, com quase 46 mil pessoas a desembarcarem no litoral do país, e este ano, segundo a emissora pública britânica, contam-se mais de 12.700 pessoas que cruzaram o Canal da Mancha até 9 de julho.

O “Bibby Stockholm” esteve vazio nas últimas três semanas, devido a preocupações das autoridades com a salubridade do espaço. Mas fontes do Ministério do Interior do Reino Unido afirmaram que a embarcação está pronta para receber o seu primeiro grupo de requerentes de asilo.

Esta terça-feira, a estação televisiva Sky News noticiou que o Ministério do Interior britânico escreveu uma carta a um dos migrantes que ficaram em terra, na qual ameaça deixar sem alojamento todos os requerentes de asilo que recusarem embarcar sem “uma explicação razoável”.

O ministro da Justiça, Alex Chalk, defendeu no programa “Today”, da BBC, que “é pouco provável” que esta ação seja “ilegal”, embora tenha preferido deixar a porta aberta para que os tribunais se pronunciem sobre o assunto. “O que é perfeitamente legal é que os britânicos saibam que isto é o que estamos a oferecer e que não é um alojamento de quatro estrelas, mas é perfeitamente seguro, é perfeitamente digno e cumpre os regulamentos de segurança contra incêndios e sabe-se lá o que mais”, argumentou.

As declarações de Chalk foram emitidas depois de vários requerentes de asilo que foram transferidos para o porto de Portland na segunda-feira se terem recusado a embarcar alegando “razões de segurança”, segundo o diário britânico The Guardian.

Ao mesmo tempo, o Executivo liderado por Rishi Sunak anunciou uma campanha contra advogados “corruptos” que ajudem imigrantes ilegais a permanecer no país mediante a “exploração do sistema migratório” nacional. “Apesar de a maioria dos advogados agir com integridade, sabemos que alguns mentem para ajudar os imigrantes ilegais a enganar o sistema. Não é correto nem justo para aqueles que cumprem as normas”, sustentou a ministra do Interior, Suella Braverman.

O polémico projeto de acomodar requerentes de asilo em barcaças atracadas em portos britânicos tornou-se um símbolo do combate à imigração protagonizado pelo Governo conservador chefiado pelo primeiro-ministro Rishi Sunak.

A “Bibby Stockholm” é um enorme navio de 93 metros de comprimento e 27 de largura, destinada a acomodar temporariamente até 500 migrantes. Portland foi o único porto do país que aceitou atracar a embarcação. Outros planos semelhantes tiveram de ser abandonados por falta de portos de abrigo.

A embarcação estará operacional durante pelo menos 18 meses. Segundo o governo, proporcionará “alojamento básico” a “homens adultos solteiros enquanto são processados os seus pedidos de asilo” e terá serviço de cuidados médicos, refeições e segurança durante as 24 horas do dia e os sete dias da semana.

O sistema de asilo não está a conseguir dar vazão às necessidades, havendo mais de 130.000 pedidos ainda à espera de serem avaliados, a maioria dos quais há mais de seis meses, segundo os mais recentes números oficiais.

Londres quer assim reduzir a fatura do alojamento em hotéis dos requerentes de asilo, que ascende a 2,3 mil milhões de libras (2,6 mil milhões de euros) por ano, utilizando instalações como bases militares desativadas, barcaças atracadas ou mesmo tendas compradas para o verão.

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