Custos e ganhos da JMJ começam a ser contabilizados mas retorno é ainda incerto

São já mais de 200 os contratos disponíveis no Portal Base relativos à Jornada Mundial da Juventude, a maioria dos quais por ajuste direto. Contas do retorno ainda por fazer.

Após uma semana de Jornada Mundial da Juventude, estão ainda por fazer as contas finais dos custos e também do retorno da realização deste que foi o maior evento da Igreja Católica em Portugal. A despesa global deve rondar os 160 milhões de euros, repartidos entre o Estado, os municípios e a Igreja, sendo de salientar que mais de 80% dos contratos públicos foi celebrada ao abrigo do regime de ajuste direto. Já sobre o retorno há promessas de “contas transparentes”, mas o balanço ainda não está completo, com os negócios a reportarem resultados mistos.

O Governo tinha sinalizado que o investimento deveria rondar os 36 milhões de euros, enquanto a Igreja previa gastar cerca de 80 milhões. Quanto às câmaras envolvidas, Lisboa iria avançar com cerca de 35 milhões e Loures com 10 milhões. No entanto, o investimento da Câmara de Loures na JMJ foi de oito milhões de euros, uma verba abaixo do previsto, disse o presidente do município.

Olhando para o Portal Base, é possível encontrar 248 entradas relacionadas com a JMJ, com um valor total que supera os 36 milhões de euros. Desses, 206 foram através do regime geral de ajuste direto, ou seja, mais de 80% do total. Quanto ao valor, os contratos por ajuste direto correspondem a 18,2 milhões de euros, mais de metade do total.

Aqui há contratos que dizem respeito a despesas já previstas, enquanto outros são elementos que foram acrescentados. Os contratos mais caros estão relacionados com o Parque Tejo e o Altar Palco, estruturas que foram utilizadas durante o fim de semana das jornadas. Ainda que tenham sido usadas durante menos tempo do que o Parque Eduardo VII, por exemplo, foram os eventos que juntaram mais pessoas e receberam a vigília.

O contrato de valor mais elevado diz respeito a serviços de fornecimento, montagem e operacionalização de sistemas de áudio e vídeo, iluminação ambiente, e respetivo abastecimento de energia, para o Parque Tejo/trancão, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude 2023, de 5,96 milhões de euros para a Pixel Light, através de um contrato público.

Segue-se a empreitada de construção do Altar-Palco no Parque Tejo-Trancão, no âmbito do evento Jornada Mundial da Juventude 2023, que foi atribuída por ajuste direto à Mota-Engil pelo valor de 4,24 milhões de euros.

Já um contrato com a Avistacidade para a “aquisição de serviços e bens com montagem e operacionalização de 141 blocos modulares de instalações sanitárias com ligação às redes de esgotos, água e eletricidade, para o Setor A, em Lisboa, do Parque Tejo/Trancão” atingiu os 1,1 milhões de euros.

Mais de 30 contratos foram adjudicados pelo Município de Loures e 34 pelo Município de Lisboa, enquanto os municípios de Cascais e de Oeiras contam com 18 registos cada. A EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, contabiliza 16 contratos. A entidade com mais entradas é mesmo a Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, que foi responsável por 36.

Políticos garantem retorno e Moedas promete “contas transparentes”

Depois de todos os custos, existe também retorno proveniente deste evento, ainda que os números e estudos não sejam ainda conhecidos. Para o Presidente da República, o investimento económico “está pago”, mas o montante continua por desvendar, sendo que há avaliações que apenas podem ser feitas após o evento.

Um estudo feito antes das JMJ, elaborado pela consultora PwC, com o apoio do ISEG, estimava um valor acrescentado bruto de quase 500 milhões de euros. Com o evento já realizado, é preciso apurar quais os valores que se verificaram de facto, ainda que uma parte – nomeadamente em termos de imagem de Portugal – seja mais difícil quantificar.

Carlos Moedas assegurou que “haverá um valor tangível” relativo à organização da JMJ, garantindo que essas contas “vão ser perfeitamente transparentes”. Ainda assim, o autarca reconheceu que o retorno ainda não foi calculado e não se comprometeu com prazos.

O economista João César das Neves aponta ao ECO que “o retorno económico da JMJ tem múltiplas dimensões: tudo aquilo que se disse da Expo 98 ou do Euro 2004 é aqui multiplicado várias vezes”. “Começa com a excelente imagem que o país grangeou” neste evento, o que “gera enormes receitas de turismo que se vão propagar no tempo”.

“Além disso as obras públicas de beneficência realizadas, todos os esforços de intendência e logística, não só geraram muita atividade, mas deram lições que serão aplicadas no futuro”, indica. Quanto às áreas que mais terão beneficiado, o economista destaca “todo o setor do turismo, das obras públicas, comércio e transportes, além de várias manufaturas, envolvidas neste grande evento que demorou quatro anos a preparar”.

Quanto aos transportes, o Metro de Lisboa sinalizou já que registou quatro milhões de viagens durante a semana da JMJ, o “maior número de viagens no Metro num período de sete dias consecutivos”, indicaram em comunicado. É de sinalizar, no entanto, que o metro reforçou os comboios durante este tempo e que os peregrinos tinham acesso a passes especiais com valores mais reduzidos.

Já a ANAC adiantou que o Aeroporto de Lisboa movimentou cerca de 960 mil passageiros de 30 de julho a 7 de agosto, números que representam um acréscimo de cerca de 10.000 passageiros por dia face ao normal no pico de verão.

Por outro lado, as associações de comerciantes têm feito balanços mistos, sendo que os ganhos foram sobretudo para aqueles que se associaram à rede da JMJ. “A semana da jornada não foi, na generalidade, boa. Houve quebras nalgumas lojas, sobretudo em setores que não têm a ver com o alimentar, e quebras significativas. E no setor alimentar correu muito bem a quem tinha contratos com a organização da JMJ. Aí houve muito sucesso e foi acima do esperado”, disse Vasco Melo, vice-presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, à Lusa.

Apesar destas notas, associações como a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal sinalizam ao ECO que “o balanço só será feito quando houver números oficiais”.

Já os motoristas de transportes individuais também sinalizam que a atividade dos táxis e TVDE ficou “aquém das expectativas“, segundo as associações ligadas aos taxistas e motoristas de TVDE.

Há também infraestruturas que vão ficar após este evento, como é o caso do Parque Tejo, que estará aberto ao público em setembro, segundo sinalizou o autarca de Loures. Este recinto vai receber a Semana Académica de Lisboa, sendo este o primeiro evento anunciado para o local. Mas o altar-palco, que acolheu o Papa Francisco durante a JMJ, não será usado pelos estudantes. O presidente da Associação Académica de Lisboa, em declarações à SIC, defende que o terreno neste espaço do lado do Lisboa é “desnivelado” e sem condições técnicas para o evento.

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