Exclusivo Banca vende mais um fundo de reestruturação após negócio milionário da ECS

BCP já se desfez do Fundo de Reestruturação Empresarial, com as exposições da banca à Cabelte e ao grupo CCM. Caixa e Montepio contrataram a PwC e Baker Tilly para venderem as suas posições.

Os bancos estão a vender mais um fundo de reestruturação, e isto depois do negócio milionário com os hotéis de luxo da ECS realizado no final do ano passado. Nos últimos dias de junho, o BCP fechou a venda da sua posição no Fundo de Reestruturação Empresarial, avaliada em cerca de 20 milhões de euros. O ECO sabe que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Banco Montepio contrataram a PwC e a Baker Tilly para organizarem um processo de venda das suas unidades neste fundo que gere as exposições da banca à fabricante de cabos elétricos Cabelte e ao grupo de cerâmica CCM.

O ECO contactou os bancos, mas apenas a Caixa confirmou que “está a realizar um processo organizado de venda do Fundo de Reestruturação Empresarial”. Já o BCP, que adiantou a informação sobre a venda no relatório e contas do primeiro semestre, não quis comentar a operação, nomeadamente se vendeu as suas unidades de participação à Oxy Capital, que é a sociedade gestora do fundo, como avançaram duas fontes do mercado ao ECO. O Novobanco – que também já terá vendido a sua posição — e o Banco Montepio recusaram comentar.

Nos últimos anos, os bancos portugueses fizeram um esforço dramático para reduzir o crédito malparado, entre recuperações, curas e também venda de grandes carteiras. Mas agora, com os rácios de NPL (non performing loans) em mínimos históricos e abaixo do “número mágico” de 5%, os bancos viram-se para os fundos de reestruturação para dar continuidade à limpeza dos seus balanços.

Ainda no final do ano passado selaram a venda dos fundos de reestruturação ECS, um portefólio de hotéis de luxo e campos de golfe, naquele que ficou conhecido como o negócio imobiliário de 2022, feito por cerca de 800 milhões de euros com o fundo americano Davidson Kempner. Também tentaram vender o Discovery, outro fundo com ativos turísticos, mas o processo não teve um desfecho positivo.

Desta feita, estão a vender o Fundo de Reestruturação Empresarial, que se encontra avaliado em cerca de 70 milhões de euros nos balanços dos quatro bancos. O Novobanco é quem tem a maior exposição, avaliada em 30 milhões, seguindo-se o BCP. Já as posições do banco público e do Banco Montepio estão avaliadas em 14 milhões e quatro milhões, respetivamente, sendo que o processo organizado de venda destas duas participações deverá ser lançado no mercado no próximo mês.

Este fundo é administrado pela sociedade Oxy Capital, liderada por Miguel Lucas, e gere as exposições destes quatro bancos a apenas duas empresas: a Cabelte, que faturou 190 milhões de euros no ano passado e tem um passivo de 84 milhões, e o grupo Carlos Cardoso Mota – a holding apresentava um passivo de 77,3 milhões em 2021.

Contactada pelo ECO, a Oxy Capital não respondeu até à publicação deste artigo.

Banca desfez-se de mil milhões no ano passado

Estes fundos de reestruturação foram criados com o objetivo de ficarem com a gestão de ativos imobiliários e outras exposições empresariais que acabaram nas mãos dos bancos na década passada por dificuldades dos devedores.

Ao cederem os ativos problemáticos a um fundo especializado, em troca de unidades de participação, os bancos partilharam risco entre si. Contudo, estas exposições têm peso nos ativos ponderados pelo risco e consomem capital aos bancos, razão pela qual há muito pretendem vender. Aliás, o Banco Central Europeu (BCE) tem pressionado para se desfazerem destes ativos.

É o que têm feito. Em 2022, BCP, Novobanco e Caixa reduziram a sua exposição a estes fundos de reestruturação em cerca de mil milhões de euros, uma diminuição que é explicada sobretudo pelo negócio da ECS.

Apesar disso, estes três bancos ainda tinham uma exposição avaliada em mais de 750 milhões de euros, nomeadamente ao Discovery Portugal Real Estate Fund (400 milhões) e ao Fundo Imobiliário Aquarius (250 milhões).

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