Autoeuropa. Impacto da paragem depende da duração, mas pode existir efeito de contágio

Economistas ouvidos pelo ECO apontam que é difícil aferir qual será o impacto da suspensão da produção na Autoeuropa, colocando a tónica na duração da paragem. Mas alertam para risco de contágio.

A Autoeuropa vai suspender a produção a partir da primeira quinzena de setembro por um período indefinido por falta de peças de um fornecedor esloveno. Os economistas ouvidos pelo ECO apontam que é difícil aferir qual será o impacto da paragem da fábrica de Palmela, que é um dos principais motores das exportações nacionais, referindo que tudo depende do tempo de paragem. Mas lembram o efeito de “contágio” para outras empresas.

“A Autoeuropa é das empresas mais importantes do setor exportador”, sendo que esta não se representa apenas a si própria, mas também “uma cadeia de valor que está depois ligada e que permite muitas empresas viverem do fornecimento de bens e serviços“, pelo que quando a fábrica do grupo Volkswagen “pára a sua produção, pára uma cadeia de compras a montante que vai implicar outras paragens noutras empresas”, lembra o economista e presidente do Instituto Superior de Gestão e Economia (ISEG) João Duque.

A posição é partilhada por Pedro Brinca, professor associado da Nova SBE, que aponta que a suspensão na produção por tempo indefinido “é sempre um sinal negativo para a atividade económica não só da região, mas de todos os outros clusters que vivem também em interação com a Autoeuropa”. Os últimos dados disponíveis, referentes a 2021, apontavam que a fábrica de Palmela contava com mais de cinco mil trabalhadores e representava cerca de 6% das exportações nacionais.

Esta não é a primeira vez este ano que há uma suspensão da produção. Já em março, a falta de peças forçou a empresa a interromper a produção durante dois dias. Nessa altura, ficou impedido o funcionamento da linha de montagem do SUV T-Roc, único modelo saído da unidade do grupo Volkswagen em Portugal.

Até agora, a Autoeuropa, que representa mais de 70% da produção automóvel em Portugal, ainda não determinou a data exata da paragem nem a duração da mesma, pelo que os economistas ouvidos pelo ECO realçam que é ainda difícil de estimar o impacto. “Se for uma coisa a curto prazo que depois possa ser compensada com horas extraordinárias terá sempre um impacto mais limitado. Agora, se for uma coisa que se prolongue no tempo pode levar não só à ameaça dos objetivos que estavam por determinar por parte da própria empresa, mas também pôr em causa a sobrevivência de todo um conjunto de negócios conexos”, alerta o economista Pedro Brinca.

Também Pedro Braz Teixeira, diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, realça que se for “algumas semanas não será muito grave”, mas “se for três meses já será mais sério”. Por outro lado, o economista lembra ainda que em alguns modelos de carros “há filas de espera noutros há excesso de produção” o que pode ajudar a colmatar a paragem. Além disso, a empresa pode também recorrer a outros mecanismos para compensar a suspensão, nomadamente recorrendo a bancos de horas ou a aumento de turnos quando houver a peça em falta.

“Imagine-se que, em setembro e outubro a produção está parada, mas em novembro e dezembro se consegue de alguma maneira compensar a não-produção desses meses. Isto significa que o terceiro trimestre até é afetado, mas o quarto trimestre acaba por não ser afetado porque aquilo que não se exporta no terceiro trimestre exporta no quarto”, refere Pedro Braz Teixeira, sublinhando que nesse caso o “impacto é líquido” dado que “é só uma produção que é feita meses depois”.

Oficialmente, a empresa ainda não fez comentários sobre esta suspensão, mas na carta enviada aos trabalhadores na segunda-feira a empresa justificou a suspensão devido à falta de peças de um fornecedor esloveno afetado pelas cheias no início do mês. Esta terça-feira, também o coordenador da CT adiantou que a empresa está à procura de alternativas de fornecedores e assegurou que a fábrica do grupo Volkswagen tem “ferramentas de flexibilidade” para cobrir estas situações, nomeadamente os downdays.

Além disso, o economista Pedro Braz Teixeira realça ainda que “se fosse um fornecedor na China talvez fosse mais complicado substituir“, mas dado que se trata de um fornecedor europeu, deverá, à partida, ser mais fácil encontrar alternativas.

Também o presidente do ISEG coloca a tónica na duração da suspensão, referindo que se for uma questão meramente operacional e durar apenas poucas semanas o impacto será menor. Contudo, se demorar “dois ou três meses” admite que se pode tratar do “início de um processo que pode levar ao encerramento e à desmobilização da Autoeuropa em Portugal”, considerando que esse cenário já é “muito grave”.

O economista justifica esta hipótese com o facto de a Autoeuropa ser “uma empresa que tem sido muito tentada para desenvolver atividades fora de Portugal” e a “longo prazo há fatores que podem pesar contra o país. “A rede ferroviária é muito importante para a exportação de veículos e para o transporte dos mesmos. Portugal ao ficar muito afastado de Espanha na construção da rede ferroviária em bitola europeia aumenta custos de produção e de transporte para as empresas que usem a bitola ibérica”, alerta, referindo que esta condição fará com que os custos de transportes sejam agravados.

Em 2022, a Autoeuropa registou o segundo melhor ano de produção de sempre, com 231.100 unidades. Melhor mesmo só em 2019, quando saíram 254.600 unidades da fábrica em Palmela.

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