Casos de Covid-19 estão a aumentar, mas situação “não é assim tão dramática”
Peritos apontam que a subida de infeções estará a ser impulsionada pelo surgimento da EG.5, mas defendem que não há razões para alarme, dado que risco de complicações é menor com a vacina.
O número de infeções por Covid-19 está a aumentar em Portugal, depois de ter tocado mínimos históricos no final de junho. Os especialistas ouvidos pelo ECO apontam que a subida de infeções deverá estar a ser impulsionada surgimento da variante EG.5, mas defendem que não há razões para alarme dado que, para a generalidade da população, o risco de desenvolver doença grave atualmente é muito inferior ao verificado há três anos.
“O aumento de casos em Portugal não é assim tão dramático”, afiança Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que faz a monitorização da Covid desde o início da pandemia, notando que em finais de junho o país chegou a registar “valores mínimos” de infeções. Se a 20 de julho, a média era de 185 casos por dia, os números foram “subindo” e “a 17 de agosto estávamos com uma média de 400 notificações por dia”, realça, sublinhando que estes dados deverão ser superiores dado que grande parte da população já não reporta os casos.
De notar que a DGS já não publica no seu site atualizações a estes dados desde 17 de agosto. Entretanto, em resposta ao ECO, a entidade liderada em regime de substituição por André Peralta Santos justifica o atraso com “um problema técnico que foi identificado”, garantindo que “este constrangimento está praticamente resolvido e os dados serão publicados esta semana”.
Também no que diz respeito aos indicadores que servem para medir a gravidade de doença, isto é, o número de pessoas hospitalizadas e o número de mortes está a aumentar ligeiramente, mas muito abaixo dos valores registados no passado. “Tivemos ali uma altura em que chegámos a um mínimo. A 13 de julho, tínhamos uma média de 3,1 óbitos por dia, isto é, um mínimo histórico”, nota o epidemiologista, referindo que a partir daí os números foram “sempre subindo” e a 17 de agosto Portugal registava, em média, “seis óbitos por dia”. “Realmente subimos, mas não atingimos valores preocupantes, nomeadamente que tenham impacto no SNS”, afirma ao ECO.
EG.5 é responsável por 50% dos casos, mas há uma nova variante
Os especialistas ouvidos pelo ECO apontam que este aumento de casos poderá ser explicado pela estirpe EG.5, que é uma “descendente” da X.BB. 1.9 da variante Ómicron e que se caracteriza por ter duas mutações “que parecem conferir bastante vantagem ao vírus em termos de conseguir fugir aos nossos anticorpos”. Em Portugal, esta sublinhagem “tem sido responsável por mais de metade dos casos identificados desde final de julho”, nota Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP). É também dominante noutros países da América do Norte e da Europa.
Além disso, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que reuniu mais de um milhão de pessoas em Lisboa, “poderá ter fomentado a disseminação das variantes já cá existentes e levado a um aumento do número de casos”, que pelo “efeito de potenciação” acaba por ser “exponencial” e está agora a fazer-se sentir de forma mais notória. Ainda assim, o presidente da ANMSP salienta que nos primeiros 17 dias de agosto, Portugal registou “um aumento de 92% do número de óbitos quando comparado com os primeiros 17 dias de julho”, o que indicia que há “um aumento do risco”.
Mas, afinal, há razões para alarme? “Por uma lado, o aumento de casos preocupa um pouco porque, evidentemente, se o número de casos está a subir”, o número de “hospitalizados tende também a aumentar”, explica Manuel Carmo Gomes. Além disso, o especialista nota ainda que ao contrário dos outros vírus respiratórios, cuja circulação diminui no verão, o SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, “continua a evoluir e a infetar muitas pessoas mesmo no verão”.
No entanto, o professor realça que a estirpe EG.5, que é dominante em Portugal, bem como as suas descendentes não são “muito diferentes do ponto de vista genético da X.BB. 1.5”, que está na base da vacina que será administrada na campanha sazonal de outono-inverno. “É suficientemente diferente para ter maior sucesso a fugir aos anticorpos e a infetar mais pessoas, mas do ponto de vista do nosso sistema imunitário, os anticorpos que essa nova vacina vai induzir quando formos vacinados são anticorpos que protegem contra esta EG.5”, sintetiza.
Não obstante, também está a surgir uma nova variante, a B.A.2.86, que já se espalhou por vários países, incluindo Portugal. “Ela preocupa um pouco mais, porque, ao contrário de todas as outras variantes, ela não evoluiu gradualmente a partir das anteriores”, sublinha Manuel Carmo Gomes, adiantando que a B.A.2.86 “apresenta 35 novas mutações quando comparada com a X.BB.1.5“.
De acordo com o especialista, a “boa notícia” é que esta estirpe “não aparenta ser tão transmissível como “as variantes da X.BB”, ainda que consiga “escapar” melhor aos anticorpos. “Temos de ter atenção. Com o tempo é quase certo que ela consiga adquirir novas mutações, que, além de a tornarem muito capaz de fugir aos nossos anticorpos, também a tornem bastante transmissível”, antecipa.
Gravidade da doença é menor face há 3 anos
E, apesar de tudo, quais são as principais diferenças entre estar Covid atualmente e ter estado infetado em 2020? Em termos de gravidade, espera-se que “seja menor” dado que a esmagadora maioria dos portugueses tem, pelo menos, duas doses da vacina e muitos já adquiriram imunidade natural ao serem infetados, apontam os especialistas ouvidos pelo ECO.
De relembrar que a primeira vacina só começou a ser administrada no final de 2020. “Isto faz com que o nosso corpo já esteja mais ou menos preparado para reconhecer este vírus e atacá-lo”, afirma Gustavo Tato Borges, sinalizando que neste contexto os sintomas são habitualmente “mais leves” para a generalidade da população.
Além disso, a variante Ómicron é “menos agressiva” do que o vírus original, pelo que “nesta fase ter Covid, estando vacinado e sendo saudável traz um risco muito baixo de poder vir a ter complicações, quando comparado com quem teve Covid no início. Mesmo o desenvolvimento da Covid longa, estando vacinado, é menos provável do que aqueles que não estavam vacinados em 2020 e ficaram com a doença”, conclui.
No entanto, os especialistas alertam que para as populações mais vulneráveis, como é o caso dos idosos e dos doentes crónicos, o risco continua a existir dado que o seu sistema imunitário é mais fraco, pelo que “precisa de ser reativado frequentemente”, nomeadamente através da vacinação. Além disso, se em 2020 havia “medidas drásticas” como a imposição de confinamentos, “cercas sanitárias”, testagem em massa, obrigatoriedade de uso de máscara e baixas por Covid-19, agora todas estas restrições não existem.
(Notícia atualizada às 18h56 com as declarações da DGS)
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