Corticeira Amorim despede-se de Joaquim, o irmão “movido por uma curiosidade inata”

Joaquim Amorim viajou pelos quatro cantos do mundo, numa aprendizagem constante, que colocou ao serviço da família e do grupo. Morreu aos 87 anos.

Morreu Joaquim Ferreira de Amorim, o mais novo dos quatro irmãos que, a partir dos anos 50, assumiram o controlo da Corticeira Amorim, transformando-a na líder mundial da indústria da cortiça. Tinha 87 anos. De França ao Brasil, conheceu os quatro cantos do mundo, sempre movido por uma “curiosidade inata e uma alegria contagiante”.

Joaquim Amorim (1936– 2023)Corticeira Amorim

“Movido por uma curiosidade inata e uma alegria contagiante que o mantinha sempre perto das pessoas, Joaquim Amorim viajou pelo mundo, numa aprendizagem constante, que colocou ao serviço da Família e do Grupo. Aprender era o seu mote e o seu exemplo, até sempre”, diz a Corticeira Amorim, numa publicação no LinkedIn.

Movido por uma curiosidade inata e uma alegria contagiante que o mantinha sempre perto das pessoas, Joaquim Amorim viajou pelo mundo, numa aprendizagem constante, que colocou ao serviço da Família e do Grupo. Aprender era o seu mote e o seu exemplo, até sempre.

Corticeira Amorim

Em 1954, Joaquim Ferreira de Amorim, natural de Mozelos, terminou o curso na Escola Comercial do Porto e foi convidado por um cliente da Amorim & Irmãos, o francês Charles Duvicq et Fils, que tinha fábricas de cortiça, perto de Bayonne, para fazer um estágio. Joaquim Ferreira de Amorim recorda que “foi um grande estágio” onde “aprendeu muito”. “Acompanhava-o nas visitas a clientes, enquanto ele negociava. Aprendi muito sobre a cultura francesa, sobre a rolha”, recorda numa publicação da Corticeira em maio de 2020.

Naquela altura, Joaquim Amorim tinha 18 anos e sair de Mozelos e ir para França não era para todos. Agarrou a oportunidade que viria a ser apenas o princípio de uma vida repleta de viagens e descobertas, sempre à volta da cortiça.

Em janeiro de 1955 regressa a Portugal, mas embarca em outra aventura. Foi para Inglaterra aprender a língua e fazer um curso comercial em Cambridge. Ficou a viver em Guildford, a sul de Londres.

Em 1960, os irmãos mais velhos desafiam-no a ir para o Brasil, para tomar conta dos negócios da família. Joaquim Amorim chega a São Paulo, uma cidade de dez milhões de habitantes onde não conhecia praticamente ninguém, e aí fica até 1966, estabelecendo fortes laços comerciais e de amizade, que ainda hoje, passados 50 anos, prevalecem, como por exemplo, com os fundadores da firma Cereser, líder de mercado de cidras e espumantes no Brasil.

Na véspera do Natal de 1966 Joaquim Amorim regressa a Portugal e integra-se em pleno na empresa liderada pelo quarteto de irmãos. É um período em que se dedica ao conhecimento profundo da cortiça na sua origem: o Montado. No Alentejo, vai aprender com as pessoas, observando, ouvindo, e “contactando com este e com aquele”, visitando as fábricas do grupo em Portugal, descendo até Silves para mergulhar na indústria.

A partir de 1970, acompanhando a internacionalização do grupo, o caminho que trilha no seio da empresa assume uma vertente mais comercial. Joaquim Amorim aproveita o conhecimento que tem de outras línguas e acompanha as equipas comerciais em visitas a clientes no estrangeiro. Estes périplos levam-no a várias partes do mundo, incluindo Japão, Austrália e China.

Com a sua característica jovialidade, recorda todas as paragens de um itinerário que o levou ao Japão, numa viagem de mais de 23 horas: Porto – Londres, Londres – Dubai, Dubai – Nova Deli, e Nova Deli – Tóquio”. No Japão, toma contacto com outra língua, outra cultura, outros rituais e até outra forma de fazer negócios. Mais tarde, viajará pela Ásia Central, América Central e do Sul e América do Norte.

Livre das responsabilidades mais pesadas, Joaquim Amorim foi porventura aquele que mais liberdade teve para se movimentar como queria. “Dos quatro irmãos eu era o mais pequeno, e como os outros estavam já dentro do grupo, eu era o mais livre” reconhece Joaquim Amorim, na mesma publicação, num testemunho vivo, e emotivo, dos últimos 60 anos da história do grupo.

Joaquim Amorim teve a sorte de conhecer o mundo e adaptar-se

“Quando me pergunto o que fiz nestes 60 anos, lembro-me sempre do que dizia o meu irmão Américo – a primeira escola que temos é viajar e conhecer o mundo. E se conhecermos o mundo e soubermos adaptar-nos ao mundo, teremos sucesso. Eu tive essa felicidade de me adaptar ao mundo”, constata.

Eu, Joaquim Amorim, fiz parte de um grupo de quatro irmãos, que, com o apoio de toda a gente, da família, dos amigos, da equipa comercial e industrial, conseguimos levar as coisas onde estão hoje“, recorda Joaquim Amorim, o mais novo dos quatro irmãos. Joaquim Amorim assume que o líder dos quatro irmãos era irmão Américo, que dizia “Faz-se”. Se ninguém fizesse ele fazia, e era sempre em benefício de todos”, reconhece.

Se Américo Amorim era inegavelmente um homem de ação, Joaquim era movido por uma curiosidade inata. “Aprender” é a palavra que mais repete ao longo de uma publicação disponível no site na empresa em que revisita alguns dos momentos mais marcantes da sua passagem pelo grupo, com emoção e gratidão.

Ao fazer o balanço dos 150 anos da empresa que os seus avós fundaram, que decorreu em 2020, Joaquim Amorim, Joaquim Amorim recorda os valores que desde sempre vê espelhados na empresa. “Bom senso, lealdade, honestidade, gratidão. O sucesso deste grupo resulta de tudo isso. Quando penso na história dos meus avós, como começaram, como foram por aqui, por acolá, penso que lhes devemos uma enorme gratidão. Deram-nos essa educação: trabalho, trabalho, trabalho, e a gente não sabe fazer mais nada”, resume.

Dos quatro irmãos que revolucionaram a Corticeira, o único que ainda está vivo é António Ferreira de Amorim, de 95 anos. Américo Amorim, o carismático líder da terceira geração da família Amorim, presidente da Corticeira Amorim entre 1953 e 2001, faleceu em 2017 e José Ferreira Amorim morreu o ano passado.

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