Agências de rating ainda veem “copo meio cheio” em Portugal, mas crise política deverá travar subida da Moody’s

A crise política em Portugal e a travagem da economia global deverão impedir a agência de melhorar a notação soberana, apontam os analistas consultados pelo ECO.

A agência de notação financeira Moody’s deverá está sexta-feira manter inalterado o rating soberano de Portugal em ‘Baa2’, com o abrandamento da economia global e a crise política no país a fazerem gorar as expectativas de há meio ano sobre uma melhoria na pontuação da dívida nacional.

Em maio, quando a Moody’s melhorou a perspetiva da dívida soberana de “estável” para “positiva”, a decisão apontava para uma eventual subida da notação em novembro.

“Não me parece que a Moody’s baixe a notação ou a perspetiva”, afirma ao ECO o economista e presidente da consultora IMF, Filipe Garcia. “Na verdade, do ponto de vista da evolução dos indicadores relativos à dívida, défice e crescimento, e tendo como pressuposto que o OE2024 vai ser aprovado na especialidade, a situação atual mereceria a subida do rating de Portugal pela Moody’s, de Baa2 para Baa1″, sublinha.

Filipe Garcia admite que a crise política — que começou com o pedido de demissão do primeiro-ministro, António Costa, a 7 de novembro –, “implica uma maior incerteza para o futuro governativo do país e, sobretudo, os indicadores de desaceleração económica” podem “condicionar a agência de notação”, levando a que seja “mais cautelosa, não promovendo a subida do rating de Portugal”.

No entanto, adianta que o facto de, mesmo perante a demissão, o país mostrar “que privilegia a aprovação de um Orçamento que prevê equilíbrio entre receitas e despesas e aponta para uma redução significativa do rácio dívida pública face ao PIB, terá de ser visto como algo positivo”.

“Eventuais atrasos”

A 10 de novembro a Moody’s emitiu um comentário a dizer que, embora a demissão do Governo aumente a incerteza sobre perspetivas orçamentais a médio prazo e possa conduzir a uma orientação orçamental menos conservadora, permitir que o OE2024 seja aprovado antes da exoneração formal oferece garantias sobre a trajetória orçamental no próximo ano.

Vincou, contudo, “que um período prolongado de incerteza política após uma eleição potencialmente inconclusiva poderá afetar negativamente a atividade económica, principalmente devido a eventuais atrasos em alguns investimentos públicos e privados e na implementação do PRR”.

Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, também acredita que a Moody’s irá manter o rating de Portugal inalterado e com perspetiva estável, mas principalmente devido às nuvens que ensombram a economia global.

“As economias, mundialmente, começam a dar sinais de abrandamento, fruto das políticas que os bancos centrais têm implementado, no sentido de controlar a inflação”. Em contraste, sublinha, a economia portuguesa “ainda consegue mostrar um forte dinamismo, com o tecido empresarial a ser menos dependente da dinâmica interna”.

Moody’s deve continuar desfasada

O diretor de investimentos do Carregosa recorda que a “inflação também começa a dar sinais de abrandamento, que poderá levar a um soft ou hard landing e esses poderão ser fatores que pesarão na decisão da Moody’s”.

Por outro lado, aponta para as tensões geopolíticas e económicas que as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza geram, e que, se piorarem, “poderemos ter novas disrupções económicas que atualmente são difíceis de mensurar“.

Em relação à crise política em Portugal, Filipe Silva diz que “não parece que a situação atual tenha qualquer impacto nas avaliações feitas pelas agências de rating“, sublinhando que, para tal acontecer, “temos de ter dados concretos, de que o novo Governo irá colocar medidas que causarão um abrandamento económico e retração no país”.

Questionado sobre como as agências de notação irão olhar para a crise, Filipe Garcia, da IMF, afirma que, “para já, estão a preferir ver o copo meio cheio, no sentido em que não há sinais de desvio na trajetória de redução do rácio de dívida pública face ao PIB e o facto de a prioridade nesta crise política ter sido manter em marcha a aprovação de um orçamento equilibrado é um fator positivo”.

Os riscos, adianta, “estão nas perspetivas para o crescimento e, claro, nas eleições de 10 de março.

Faria sentido a Moody’s subir [o rating] para não ficar tão desfasada das demais agências, mas prevejo estabilidade nas notações nos próximos meses“, conclui.

As restantes principais agências têm vindo a melhorar as avaliações para a dívida soberana portuguesa e todas atribuem neste momento ratings superiores ao ‘Baa2’ da Moody’s. A S&P tem para Portugal uma notação de ‘BBB+’ com perspetiva positiva, a Fitch ‘A-‘ com outlook estável, enquanto a DBRS atribui um rating de ‘A’ e perspetiva estável.

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